Autor Tópico: Imposturas intelectuais  (Lida 2491 vezes)

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Offline Rodion

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Imposturas intelectuais
« Online: 05 de Fevereiro de 2006, 04:39:16 »
Impostures Intelectuelles, de Alan Sokal e Jean Bricmont, Editions Jacob, 1997, 276 pp.
Sara Bizarro

Em 1996 Sokal escreveu um artigo para a revista Social Text com o seguinte título: «Transgredir as fronteiras: em direcção a uma hermenêutica transformativa da gravitação quântica». Este artigo era uma paródia construída à volta de citações de autores franceses bastante conceituados. Nele, Sokal defende uma série de ideias disparatadas acerca das implicações filosóficas e sociais das ciências naturais e da matemática. Entre os autores citados nesse artigo estão: Gilles Delleuze, Jacques Derrida, Félix Guatarri, Luce Irigaray, Jacques Lacan, Bruno Latour, Jean-François Lyotard, Michel Serres e Paul Virilio. A revista Social Text não só aceitou publicar o artigo de Sokal, como o incluiu numa edição especial sobre as implicações sociais e filosóficas da ciência. Este acontecimento ficou conhecido como o «Embuste de Sokal» (a descrição do embuste foi feita por Paul Boghossian e publicada no n.o 2 da Disputatio).

O embuste provocou todo o tipo de reacções. Uma das reacções mais comuns, assumida pelos simpatizantes dos autores parodiados, foi a de que o embuste não provava nada acerca do «pós-modernismo» em geral — provava só que aquela revista e aquele grupo editorial tinham sido pouco cuidadosos na selecção dos textos. O livro Imposturas Intelectuais tem como principal objectivo mostrar que a publicação do artigo de Sokal não foi apenas um descuido, mas antes uma consequência das excentricidades do dito «pós-modernismo». Neste livro, Sokal e Bricmont propõem-se mostrar como pelo menos oito dos mais conceituados autores franceses abusam de conceitos e termos provenientes das ciências físicas e da matemática de tal forma que a sua honestidade intelectual pode ser posta em causa. Os autores que merecem capítulos separados são: Jacques Lacan (cap.1), Julia Kristeva (cap.2), Luce Irigaray(cap.4), Bruno Latour(cap.5), Jean Baudrillard(cap.7), Paul Virilio(cap.9), Gilles Delleuze e Félix Guattari(cap.8). Embora estes autores não se auto-apelidem de «pós-modernos», os seus textos são, em geral, considerados como uma espécie de bíblias sobre as quais é construído o discurso «pós-moderno». Assim sendo, o facto de estes autores abusarem de termos e conceitos técnicos das ciências físicas e da matemática para defenderem certas teses filosóficas e políticas pode, pelo menos, lançar algumas suspeitas sobre a honestidade intelectual da corrente «pós-moderna».

Sokal e Bricmont propõem-se provar quatro acusações acerca dos autores citados. Como Sokal e Bricmont são ambos professores de física estas acusações limitam-se a apontar as incorrecções na utilização de conceitos científicos. As acusações são as seguintes:

1. Os autores usam uma terminologia científica sem saberem bem o que ela significa.
2. Os autores importam noções das ciências exactas sem darem a mínima justificação empírica ou conceptual para essa importação.
3. Os autores exibem uma erudição superficial atirando sem pudor palavras complicadas à cara do leitor em contextos em que essas palavras não têm qualquer pertinência A finalidade é provavelmente a de impressionar e intimidar o leitor que não tem conhecimentos científicos.
4. Os autores manipulam frases sem sentido e usam indiscriminadamente jogos de palavras provocando uma verdadeira intoxicação verbal combinada com uma indiferença soberba pelo significado que essas palavras possam ter.

Em suma, Sokal e Bricmont propõem-se desconstruir a reputação que estes textos têm de que são difíceis porque são profundos. Afinal, se muitas vezes eles parecem incompreensíveis talvez seja porque realmente não dizem nada.

Esta acusação é dolorosamente provada através da citação e análise de blocos de textos dos autores citados. Nestes textos são usadas ideias das ciências físicas e da matemática que os autores, ou não compreendem, ou distorcem com a finalidade de defenderem determinadas teorias filosóficas. Entre os temas científicos favoritos destes autores encontramos: a mecânica quântica, a teoria do caos e o teorema de Gödel (estas teorias são explicadas nos cap. 6 e 10). As teses filosóficas que são supostas seguirem-se da «nova ciência» são sempre uma ou outra forma confusa de «relativismo». Sokal e Bricmont provam claramente pelo menos duas ideias: estes autores não compreendem as teorias científicas e os resultados matemáticos a que se referem e tentam retirar das ciências resultados filosóficos e políticos que não se seguem delas.

Para além desta tarefa exaustiva de desconstrução dos textos dos intelectuais franceses, Sokal e Bricmont também têm alguns comentários interessantes a fazer às teses menos disparatadas da epistemologia contemporânea(cap.3). A ideia central é a de que há uma crise geral na epistemologia contemporânea do século XX. Esta crise tem essencialmente duas origens: por um lado, posições como as de Popper, Lakatos e do Círculo de Viena, defenderam uma codificação da investigação científica fazendo dela uma actividade demasiado específica e rigorosa, demasiado separada das outras actividades racionais comuns; por outro lado, as reacções a essas tentativas, representadas no livro através das teses de Kuhn e Feyerabend, deram origem a um cepticismo irrazoável.

A concepção da ciência como determinada por uma série de regras definidas não é coerente com a realidade da investigação científica. Mesmo a proposta falibilista de Popper, segundo a qual as teorias científicas não podem ser confirmadas mas podem ser falsificadas, tem dificuldades práticas óbvias — o trabalho central dos cientistas não é o de tentarem exaustivamente encontrar contra-exemplos para as suas teorias e, de facto, não seria razoável abandonar uma teoria bem sucedida por ela falhar uma previsão. Em geral, a tentativa de colocar as ciências exactas numa posição totalmente diferente das outras actividades racionais humanas dá origem a uma série de distorções com consequências bastante perniciosas.

Autores como Kuhn e Feyerabend reagiram a esta tentativa sublinhando as diferenças entre a realidade da investigação científica e as idealizações expressas por Popper. Segundo Kuhn, grande parte da actividade científica, a «ciência normal», desenvolve-se no interior de certos «paradigmas». Esses paradigmas definem o género de problemas a serem estudados, os critérios através dos quais uma solução pode ser avaliada e os procedimentos considerados aceitáveis. De tempos a tempos a dita «ciência normal» entra em crise e assistimos a uma mudança de paradigma. Os exemplos comuns são a ruptura de Galileu e Newton com a física aristotélica ou a ruptura entre a teoria da relatividade e da mecânica quântica em relação à mecânica clássica.

Sokal e Bricmont aceitam que esta é uma representação razoável da história da ciência e da sua evolução. O problema com a posição de Kuhn só surge quando aparece a ideia da «incomensurabilidade» dos paradigmas. Embora os estudiosos de Kuhn se entretenham a discutir os vários sentidos da palavra «incomensurabilidade» (e também da palavra «paradigma») pelo menos um desses sentidos possíveis é a ideia de que não é possível fazerem-se comparações racionais entre as teorias concorrentes. Isto acontece porque a noção que nós temos do mundo depende e é condicionada de uma forma radical pelas teorias que, por sua vez, dependem do paradigma em vigor. Mas, a dita «incomensurabilidade» das teorias não se segue do quadro histórico traçado sobre a evolução da ciência. Os paradigmas não se abandonam por motivos irracionais. Claro que muitas vezes existem uma mistura de boas e más razões nas mudanças de paradigma, mas isso não significa que as más razões sejam as dominantes.

Assim, para defender a ideia de que os paradigmas se alteram por motivos essencialmente irracionais é necessário algo mais do que a descrição histórica da evolução das ciências proposta por Kuhn. Em particular, é necessária uma tese que defenda que os paradigmas das ciências exactas são escolhidos de uma forma irracional. Mas esta tese histórica não pode, por sua vez, ser avaliada. Se as ciências exactas são desenvolvidas através de métodos irracionais o que é que nos garante que as ciências históricas estejam em melhor posição? Se alguma ciência pode ser racional, o melhor candidato são as ciências exactas. Isto acontece não porque os físicos sejam mais inteligentes que os historiadores, mas porque os problemas que os físicos estudam são, em geral, menos complexos, têm menos variáveis, são mais fáceis de medir e controlar. Se mesmo nestas condições as ciências físicas não conseguem deixar de ser irracionais, então por certo também as ciências históricas serão irracionais. Mas, se assim for, a tese histórica de que a mudança de paradigmas tem motivações irracionais é, também ela, irracional. Este argumento é decisivo. Ele mostra que a tese de que a mudança de paradigmas é essencialmente irracional não é sustentável — refuta-se a si mesma. Mas, se a tese de Kuhn for apenas que nem todas os motivos para a mudança de paradigma são racionais, então a dita «incomensurabilidade» das teorias não se segue.

Outra posição analisada é a de Paul Feyerabend. Aqui, de novo, Sokal e Bricmont estão de acordo com as linhas gerais das teses de Feyerabend sobre o método científico. A ideia de que a ciência pode ser organizada segundo regras fixas e universais é utópica e prejudicial. No entanto, da rejeição dessa ideia não se segue que em ciência «vale tudo» (anything goes). À primeira vista, Feyerabend parece simplesmente ignorar a distinção clássica entre contexto da descoberta e contexto da justificação. De facto, nos processos de investigação científica todos os meios são admissíveis. O cientista pode até chegar às suas hipóteses através de alucinações ou sonhos. No entanto, a justificação das teorias deve ser racional, mesmo que essa racionalidade não possa ser codificada de uma forma definitiva. Os exemplos extremos apresentados por Feyerabend são todos em relação ao contexto da descoberta. Mas o problema com as propostas de Feyerabend está no facto de que ele nega a validade da distinção entre contexto da descoberta e contexto da justificação. Sokal e Bricmont concordam que a distinção entre estes contextos é exagerada na epistemologia tradicional. No entanto, daqui não se segue que não exista qualquer distinção.

Em suma, a epistemologia tradicional, ao tentar traçar uma linha entre as ciências exactas e as outras actividades racionais humanas, idealizou as ciências exactas criando delas uma imagem insustentável. Como reacção surgiram epistemologias que pretendiam mostrar a ciência tal como ela é na realidade da investigação científica e, por comparação com as idealizações da epistemologia tradicional, esta descrição parecia apontar métodos quase irracionais. A proposta de Sokal e Bricmont é a de que existe apenas uma racionalidade humana e ela encontra-se em todas as áreas de investigação que pretendem dizer algo acerca do mundo. As ciências exactas são mais bem sucedidas porque os seus objectos de estudo são, em geral, mais simples e mais controláveis. As ciências humanas têm objectos mais complexos, mas não são radicalmente diferentes das ciências exactas, pelo menos no que diz respeito a requisitos mínimos de racionalidade.

Por último, Sokal e Bricmont tentam clarificar o carácter político das posturas ditas pós-modernas(cap.12). A tese filosófica favorita do pós-modernismo costuma ser uma ou outra forma vaga de relativismo. O relativismo é normalmente considerado como sendo defendido por certas correntes «de esquerda». Os «advogados da ciência» são muitas vezes considerados como sendo «de direita». Assim, a por vezes chamada «guerra das ciências» é frequentemente vista como um conflito político entre progressistas e conservadores. Mas esta situação não é assim tão linear. Como Sokal e Bricmont sublinham, existe uma longa tradição anti-racionalista nas correntes políticas de direita. A esquerda, por sua vez, tem uma longa tradição de parceria com a ciência na luta contra o obscurantismo. O que é curioso no fenómeno dito «pós-moderno» é precisamente a ideia de um anti-racionalismo de esquerda.

Na origem deste novo anti-racionalismo estão, segundo Sokal e Bricmont, vários factores diferentes. Por um lado, apareceram novos movimentos sociais, como as associações anti-racistas, feministas e homossexuais, que abraçaram as filosofias pós-modernas como base para as suas teses (por exemplo as «filosofias da diferença»). Por outro lado, a ciência tem sido vista como uma instituição social ligada ao poder económico e militar e assume muitas vezes um papel odioso. As tecnologias, por sua vez, também têm uma série de efeitos desastrosos. Este tipo de motivos levaram muitas pessoas a associarem-se ao relativismo (confundindo relativismo com pluralismo) e a tomarem uma posição adversa em relação à ciência. Infelizmente, estas posições não acertam no alvo que as motiva. Em vez de apontarem o que há de pior na ciência, elas atacam o que há de melhor — o facto de ser uma tentativa racional de compreensão o mundo. Em vez de abraçarem filosofias tolerantes e pluralistas e desmistificadoras dos discursos dominantes acabam por apenas aumentar o número de mistificações existentes.

Por fim, as consequências das tendências «pós-modernistas» no meio académico são claramente desastrosas. A desonestidade intelectual de alguns dos autores pós-modernos revela-se, por exemplo, no facto de utilizarem um certo tipo de ambiguidade para se resguardarem da crítica. Sokal e Bricmont mostram como os textos dos pós modernos são ambíguos na medida em que podem quase sempre ser interpretados de duas maneiras: ou como afirmações verdadeiras, mas relativamente banais, ou como afirmações radicais, mas manifestamente falsas. Estas ambiguidades parecem ser deliberadas num grande número de casos e têm algumas vantagens para aqueles que as utilizam. As interpretações radicais servem para cativar os leitores pouco experientes e, se alguém põe a claro o absurdo destas interpretações, os autores podem sempre responder que foram mal compreendidos, defendendo-se de novo com a interpretação banal. Esta táctica é infelizmente bastante comum no dito «pós-modernismo».

O embuste de Sokal foi recebido com entusiasmo por aqueles que estão simplesmente, irritados com a arrogância pós-moderna, com a verbosidade crua e a existência de uma comunidade intelectual na qual todos repetem frases que ninguém compreende (o artigo que deu origem ao embuste está incorporado no primeiro apêndice do livro, acompanhado de um segundo apêndice onde se indicam todas as incorrecções e disparates que nele aparecem). O livro Imposturas Intelectuais mostra de uma forma sistemática como a «arrogância pós moderna» abusa de conceitos das ciências exactas para defender teses filosóficas duvidosas. O embuste de Sokal e o livro a que ele deu origem devem ser suficientes para pelo menos lançar algumas suspeitas sobre as posturas ditas pós-modernas.

Sara Bizarro
sarabizarro@yahoo.com


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tem na cultura, por R$52.
"Notai, vós homens de ação orgulhosos, não sois senão os instrumentos inconscientes dos homens de pensamento, que na quietude humilde traçaram freqüentemente vossos planos de ação mais definidos." heinrich heine

Offline Alenônimo

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Re.: Imposturas intelectuais
« Resposta #1 Online: 05 de Fevereiro de 2006, 05:04:27 »
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  • Os autores usam uma terminologia científica sem saberem bem o que ela significa.
  • Os autores importam noções das ciências exactas sem darem a mínima justificação empírica ou conceptual para essa importação.
  • Os autores exibem uma erudição superficial atirando sem pudor palavras complicadas à cara do leitor em contextos em que essas palavras não têm qualquer pertinência A finalidade é provavelmente a de impressionar e intimidar o leitor que não tem conhecimentos científicos.
  • Os autores manipulam frases sem sentido e usam indiscriminadamente jogos de palavras provocando uma verdadeira intoxicação verbal combinada com uma indiferença soberba pelo significado que essas palavras possam ter.
Isso me lembra os textos do o pensador.
« Última modificação: 18 de Fevereiro de 2006, 23:19:25 por Alenônimo »
“A ciência não explica tudo. A religião não explica nada.”

Offline Rodion

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Re.: Imposturas intelectuais
« Resposta #2 Online: 05 de Fevereiro de 2006, 05:09:37 »
cheguei a pensar nele, ehe. pensei também no fritjof capra..
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Offline Luis Dantas

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Re.: Imposturas intelectuais
« Resposta #3 Online: 05 de Fevereiro de 2006, 09:56:12 »
Esse livro do Sokal simplesmente despedaça o Lacan, uma figura famosa da psicanálise...
Wiki experimental | http://luisdantas.zip.net
The stanza uttered by a teacher is reborn in the scholar who repeats the word

Em 18 de janeiro de 2010, ainda não vejo motivo para postar aqui. Estou nos fóruns Ateus do Brasil, Realidade, RV.  Se a Moderação reconquistar meu respeito, eu volto.  Questão de coerência.

Offline uiliníli

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Re.: Imposturas intelectuais
« Resposta #4 Online: 05 de Fevereiro de 2006, 12:51:30 »
"Massa que é finita, mas tende ao infinito e ao absoluto"

Só nessa linha o Pensador jáconfirmou no mínimo 3 das 4 acusações de Sokol e Bricmont.




Vai aí um link para o embuste: Transgredindo as Fronteiras: Rumo a uma hermenêutica transformativa da gravitação quântica

Offline Latorre

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Re: Imposturas intelectuais
« Resposta #5 Online: 06 de Fevereiro de 2006, 10:29:22 »
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1. Os autores usam uma terminologia científica sem saberem bem o que ela significa.
Generalizaçao idiota.
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2. Os autores importam noções das ciências exactas sem darem a mínima justificação empírica ou conceptual para essa importação.
Isso já foi feito. Quem nao sabe, que procure se informar. Imagine o Jornal Nacional explicando o que é uma frente fria todo dia no qual fosse apresentada a previsao do tempo!
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3. Os autores exibem uma erudição superficial atirando sem pudor palavras complicadas à cara do leitor em contextos em que essas palavras não têm qualquer pertinência.
Outra generalizaçao, aparentemente mais idiota ainda. Embora possa ser útil à crítica ao as vezes eminentes excessos em algumas literaturas específicas, o que nao se pode negar.
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A finalidade é provavelmente a de impressionar e intimidar o leitor que não tem conhecimentos científicos.
O objetivo da linguagem técnica (ou específica) é justamente facilitar a comunicaçao, reduzindo por vezes a uma só palavra teorias inteiras. Isso existe em qualquer meio, mas ninguém reclama do açougueiro ao empregar os "termos técnicos" picanha, alcantra, maminha...
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4. Os autores manipulam frases sem sentido e usam indiscriminadamente jogos de palavras provocando uma verdadeira intoxicação verbal combinada com uma indiferença soberba pelo significado que essas palavras possam ter.
Considero a frase acima um jogo manipulativo de palavras tendendo à intoxicaçao verbal.
"If a man will begin in certainties, he shall end in doubts. But if he will be content to begin in doubts, he shall end in certainties." (Francis Bacon)

Offline Latorre

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Re: Imposturas intelectuais
« Resposta #6 Online: 06 de Fevereiro de 2006, 10:30:58 »
Sabe o que está faltando? Mais metodologia científica nos colégios. E professores nao-crentes. Assim quem sabe a imbecilizaçao popular nao fosse tao notável, e nao se perderia tanto tempo tentando desculpar o nao entendimento às condutas metodológicas que efetivamente funcionam.
« Última modificação: 06 de Fevereiro de 2006, 10:32:53 por Gustavo Latorre »
"If a man will begin in certainties, he shall end in doubts. But if he will be content to begin in doubts, he shall end in certainties." (Francis Bacon)

Offline FMNeto

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Re: Imposturas intelectuais
« Resposta #7 Online: 18 de Fevereiro de 2006, 14:58:21 »
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A finalidade é provavelmente a de impressionar e intimidar o leitor que não tem conhecimentos científicos.
O objetivo da linguagem técnica (ou específica) é justamente facilitar a comunicaçao, reduzindo por vezes a uma só palavra teorias inteiras. Isso existe em qualquer meio, mas ninguém reclama do açougueiro ao empregar os "termos técnicos" picanha, alcantra, maminha...

Concordo. Mas ela só facilita a comunicação entre pessoas que já conhecem o jargão. Se você chegar pra esse mesmo açougueiro e perguntar pra ele o que ele acha do problema de renormalização da Lagrangiana na unificação da Relatividade Geral com a Mecânica Quântica ele vai te bater porque vai achar que você tá xingando ele...  :roll:

Sabe o que está faltando? Mais metodologia científica nos colégios. E professores nao-crentes. Assim quem sabe a imbecilizaçao popular nao fosse tao notável, e nao se perderia tanto tempo tentando desculpar o nao entendimento às condutas metodológicas que efetivamente funcionam.

Essa é uma frase de pura sabedoria, embora eu não concorde com ela plenamente. Infelizmente o governo prefere criar universidades novas usando um dinheiro que não tem e criar cotas ao invés de melhorar a educação de base. Triste é o país que prefere o caminho fácil ao caminho correto.

Mas no geral concordo com o Latorre. Os caras têm um ponto ao apontar gente que sai usando jargão e citando frases/autores que não conhecem só pelo efeito. Mas partir disso para o ataque a toda e qualquer forma de metaciência é um pouco demais. Além disso, eles não se dignam a propor um modelo que seja satisfatório segundo os critérios deles.
« Última modificação: 18 de Fevereiro de 2006, 15:07:41 por fmneto »
[]'s,

   Francisco


Offline Eremita

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Re: Imposturas intelectuais
« Resposta #9 Online: 17 de Janeiro de 2009, 21:40:56 »
Up :D (É interessante o suficiente para tal.)

Dá pra desconfiar de impostura intelectual assim, ó: COMO DESCOBRIR SE VOCÊ É UM IMPOSTOR.

Excesso de palavras complicadas.
Isso depende do público-alvo (pra quem você escreve). Falar em forças eletromagnéticas sem explicar o que são em um artigo de Física é completamente OK, mas não em um de Biologia.

Se o público-alvo é geral, não especializado em alguma área das Ciências, você precisa se aprofundar ainda mais no assunto. Você não descobre quando um físico entende de Física quando ele fala com outros físicos, mas sim com pessoas leigas. Explicar coisas complicadas com palavras simples é uma arte.

Se o uso da palavra é necessário, a definição deve estar junto. E se você precisar dar mais que uma definição a cada 10 linhas, volte e reescreva o texto que já tá uma bosta, e você provavelmente é um impostor.

Misturar conceitos de áreas diferentes.
Todo mundo sabe que a Química não é uma ilha separada da ilha-Biologia e da ilha-Física... muitas vezes (acho eu que na maioria das vezes), uma ciência vai interagir com as outras. O mesmo ocorre com ciências humanas - Economia, Sociologia, História. Isso é normal... partindo de uma ciência qualquer, você viaja a qualquer outra. Tá tudo junto e ligado.

Entretanto, quando num texto falando de determinada ciência você recorre a outras sem motivo nenhum, incluindo os conceitos destas, você tá só enchendo lingüiça. Exceto em casos muito especiais (ex: Bio-Físico-Química - que nada mais é que coisas como capilaridade e etc. aplicadas a seres vivos), se há conceito de três ou mais ciências, você é um impostor.

Uso de palavras vagas.
Também conhecido como sofismo. Se você aproveita que uma palavra não define, mas complica, você é um impostor de carteirinha.

Confundir analogias e exemplos com argumentos.
Analogias, exemplos... são excelentes recursos didáticos: servem para explicar algo, de forma mais fácil para o público-alvo, ou para você mesmo. Eu por exemplo volta e meia faço analogias de evolução biológica com evolução de idiomas, que é minha área - é mais fácil da pessoa visualizar (idiomas evoluem mais rápido), conheço mais do assunto, e as duas operam de modo mais ou menos parecido.

Às vezes, eles podem ter o argumento implícito. Ex: na analogia "Prove que Papai Noel não existe", o argumento implícito é "pode-se provar que algo existe, mas nunca que não existe".

Mas, a partir do momento que você toma um recurso didático como se ele próprio fosse um argumento, você vai estar gerando analogia estendida (falácia - um erro de argumentação), confusão, e... um Troféu Impostor do Ano para si mesmo.
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Offline rcms

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Re: Imposturas intelectuais
« Resposta #10 Online: 21 de Janeiro de 2009, 13:03:59 »
Cara este post 05 Fev 2006, 04:39:16 tem quase 3 anos, proveniente do hell onde derci gonçalves deve estar. =)

Mas é pertinente o tema, concordo com a afirmação de que o emprego de termos tecnicos diminui consideravelmente a quantidade de palavras necessarias para expressar uma informação assim como o emprego de siglas, estou acostumado a isso. =)

Se tiver preguiça de pesquisar e aprender mas sobre o tema azar do chorão, vá ler gibis e não artigos cientificos, lá a linguagem é coloquial e não tecnicista. Abraços.

Offline Eremita

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Re: Imposturas intelectuais
« Resposta #11 Online: 22 de Janeiro de 2009, 03:22:40 »
Cara este post 05 Fev 2006, 04:39:16 tem quase 3 anos, proveniente do hell onde derci gonçalves deve estar. =)

Mas é pertinente o tema, concordo com a afirmação de que o emprego de termos tecnicos diminui consideravelmente a quantidade de palavras necessarias para expressar uma informação assim como o emprego de siglas, estou acostumado a isso. =)

Se tiver preguiça de pesquisar e aprender mas sobre o tema azar do chorão, vá ler gibis e não artigos cientificos, lá a linguagem é coloquial e não tecnicista. Abraços.
Sim: é necessário que o leitor pesquise termos técnicos. Mas quando os termos são aos montes, e o texto é focado pra um público-alvo geral, ou de outra área, o erro está em quem escreveu e não em quem lê. Se o autor faz isso conscientemente, é picaretagem; se faz sem perceber, é pouco didático e confuso.

E a Dercy não tá no inferno, não... quando ela viu Yahweh nascer, falou pra ele "me manda pro céu quando eu morrer ou não te dou de mamar, fedelho da porra!". E Yahweh cumpriu, por medo dela.
(Também tem o fato que nem Satan aceitaria a coitada.)
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Offline Blues Brother

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Re: Imposturas intelectuais
« Resposta #12 Online: 01 de Maio de 2011, 22:34:22 »
Esse livro é simplesmente magistral.

Recomendo fortemente a leitura a todos os seres pensantes que ainda respiram.

Jamais poderia imaginar que apenas uma obra seria capaz de sintetizar tudo o que há de podre nas ciências sociais, desvendando o que há por trás da pomposidade dos discursos dos intelecutais de plantão. É um livro fascinante pra mim, que ainda vivo nesse mundo acadêmico rídiculo.

Ainda não terminei meu TCC e fiquei com muita vontade de mudar de tema e aplicar uma "pegadinha" a la Sokal nos relativistas. Pensei em publicar alguma coisa apócrifa, sem pé nem cabeça, mas seria a mera repetição do esquema sokal de destruição de egos pós-modernos.

Quem ainda não leu, por tudo o que é mais transgressor e incorreto, leia!

 

 

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