Não é música que estou ouvindo, como pede o tópico, mas é relacionado ao universo musical.
E é bem divertido ler a carta de agradecimento que se segue.
O
link a que o cantor/compositor se refere é esse
aqui.
CARTA ABERTA DE AGRADECIMENTO AO JORNAL DA GLOBO E A NELSON MOTTA PELOS MEUS 60 ANOS.
Acordei repleto de minha costumeira e insuportável felicidade nessa gloriosa manhã de sábado e eis que me deparo com um rebuliço nas redes sociais em torno de um surpreendente acontecimento: O Jornal da Globo resolveu me homenagear pelos meus 60 anos! Que legal! Que emoção!
E como não poderia deixar de ser, me senti na obrigação em dar uma conferida na tal fofura que a emissora me concedera.
Logo de início, a manchete introdutória me provoca uma certa curiosidade em saber por que cargas d’água (já que o papo era me homenagear)não passou pela cabeça de ninguém da edição me dar uma consultadinha sobre minha movimentada realidade.?
Sim! Pois, infelizmente, o Jornal não foi capaz de escrutinar coisas realmente protuberantes e de verdadeiro interesse jornalístico de minha atual ( e muito pouco silenciosa)rotina como por exemplo, o fato de estar produzindo uma empreitada épica: um disco duplo ( Antologia Politicamente Incorreta dos Anos 80 pelo Rock)com 24 faixas de interpretações de canções imorredouras dos anos 80. Projeto esse complementar ao meu quarto livro recém lançado( Guia Politicamente Incorreto dos anos 80 pelo Rock), produto fonográfico que além de sua evidente relevância musical e histórica, tem também o fato de ser um empreendimento realizado através de crowdfunding( uma campanha de financiamento privado) que é uma alternativa decente, criativa e independente de produzir e viabilizar música no Brasil sem o parasitismo nefasto da lei Rouanet e coisas do gênero.
E isso é política cultural que deveria ter seu raio de visão ampliado e por isso mesmo, deveria ser algo… noticiável por si só..
Mas a sensação que me deu ao assistir nossa querida e admirada Renata Lo Prete com aquela cara de enterro anunciar meu aniversário era de testemunhar uma espécie de necrológio.
“Lobão fez 60 anos em silêncio. Se isolou da polêmicas e ficou distante até da música.”
Essa Globo é fofa mesmo, não é verdade? Então o raciocínio deles deve ser esse: Lobão não frequenta os programas da emissora, não toca nas novelas da emissora, portanto Lobão não existe. Seria algo assim?
É o que tudo indica. Chega a ser cômico, um conglomerado de comunicação monumental que prima em tentar me calar não me permitindo participar de sua programação, me proclamar ”silente” por justamente não aparecer por lá!
Após alguns outros complementos de valor um tanto duvidosos como, ”um dos mais controversos roqueiros do Brasil” etc e etc, Renata envolvida naquela aura semi- fúnebre, passa a bola para meu muito querido Nelsinho Motta completar o serviço.
Todos nós sabemos que Nelsinho sempre foi um cara antenado com as novidades, os detalhes, o que esteve por trás ou por baixo da superfície do cenário musical brasileiro, assim como foi e ainda é um dos principais protagonistas da história da MPB, da Tropicália e do Pop/ Rock ; seja atuando como jornalista, empreendedor escritor ou compositor e por isso mesmo, muito me admira sua crônica sobre minha vida, apesar de muito fofa, estar repleta de omissões, erros, edições, reduções e precipitações.
Não sei bem se Nelsinho se apegou em demasia ao fato de já haver sido meu tutor perante ao juizado de menores no início de minha carreira, mas é inegável que sua conduta persistente em me tratar como se eu ainda fosse aquele desprotegido infante de 16 anos que outrora me acolhera incondicionalmente é um tanto extemporânea e fora de propósito nos dias de hoje.
Confesso que achei meio claustrofóbico me ver “enterrado’ lá no fundo dos anos 80 quando tenho produzido ultimamente tanta coisa muito melhor e mais importante, como se, logo eu, estivesse congelado naquela década.
E assim fazendo, Nelsinho também acabou por optar não mencionar que minha principal característica é ser um dos poucos artistas dos anos 80 que cometeu a façanha de ter como parte mais importante de seu trabalho composta e produzida justamente após o término dos anos 80. E sozinho. Independente. Sem gravadora e sem parceria.
Ignorar discos como Nostalgia da Modernidade, Noite, A Vida É Doce, Canções Dentro da Noite Escura, entre outros( para não mencionar aquele que considero meu melhor disco, O Rigor e a Misericórdia, de 2016) soa no mínimo, muito esquisito para alguém que se mostra com algum propósito sincero de me homenagear.
Quanto ao cacoete de me colocar como um rapaz excêntrico e amalucado, bem isso já é uma mania de décadas que a grande imprensa teima em vão me reduzir.
E isso fica patente quando Nelsinho tenta desqualificar a veracidade dos fatos descritos no Guia Politicamente Incorreto dos Anos 80 Pelo Rock, alegando que eu tenha desferido algumas “provocações juvenis” sobre Chico Buarque e Caetano Veloso quando todos sabemos se tratar de uma história digna de ao menos mais atenção averiguação e seriedade do que uma mera redução simplória, leviana e desviante.
Como se fosse tarefa muito complexa qualquer observador mediano poder facilmente constatar haver algo de muito errado nesse cenário onde nossos septuagenários coronéis nos concedem provas irrefutáveis de praticar aquilo que chamo no livro de totalitarismo cultural.
Nelsinho, talvez não se apercebeu que ao tentar jogar panos quentes em episódios tão evidentes e graves lança também dúvidas insondáveis ao seu próprio depoimento tendo ele a importância de sua participação definidora em todos esses últimos 50 anos.
Mas a cereja do bolo mesmo seria colocada com todo o carinho ao final, vinda em forma de inofensiva e carinhosa admoestação paternal:
Nelsinho, do alto de seus setenta e tantos anos, com a cara mais deslavada do mundo, ergue os braços para a câmara e me aconselha após sorridente saudação: “Vida longa ao grande Lobo! E se possível, com mais música e menos política!”
…Mais música e menos política?!…Inevitável sentir uma profunda irritação com essa palhaçada cínica, Nelsinho!.
Afinal de contas, eu sou um dos artistas que mais produz música no Brasil na atualidade e um jornalista do seu calado ignorar esse fato me congelando indevidamente no passado é algo no mínimo, muito grave.
E assim me surge aquela célebre pergunta que não quer calar: Será que Nelsinho ousaria aconselhar com a mesma sem - cerimônia ( “mais música, menos política”) gente como Caetano Veloso invadindo um terreno para tentar fazer show para o MTST? Ou tentar convencer Chico Buarque que escrever uma canção para filha do Geisel poderia diminuí-lo enquanto compositor?
Será que Nelsinho teria questionado Gilberto Gil com mais música menos política quando assumiu o Ministério da Cultura? E o grupo de parasitas do Procure Saber/342?( que alberga dezenas de supostos grandes nomes da canção, da literatura, do teatro, da TV e do cinema) que vive se metendo em tudo o que é assunto na vida pública brasileira em benefício próprio? Aí falar de politica pode? Seria isso mesmo?
Mas não. O conselho “Mais música, menos política” parece cair como uma luva justo e exclusivamente para quem? Euzinho aqui!
Perceber tamanha preocupação da sua parte pelas minhas supostas declarações estapafúrdias e desconexas sobre política “que tanto divertem o público, mas me afastam da música,” me deixa marejado de emoção, Nelsinho querido!
Fico consternado em perceber que você, como compositor de Certas Coisas, uma das 24 faixas do meu novo disco em parceria com Lulu Santos, não tivesse a mínima possibilidade de ignorar o fato quando realizou enquanto jornalista a matéria de ontem, dia 3 de novembro( pois todo autor tem que dar sua permissão para a gravação da composição no disco) e mesmo assim prosseguir em insólito silêncio a respeito.
E ainda tendo eu que ouvir daqui, justo de você…”Mais música, menos política”. Imagina só como me senti.
Portanto para finalizar, meus caros amigos do Jornal da Globo/ Nelsinho Motta, espero que na próxima “homenagem” me concedam como presente o direito do contraditório e me convidem para dar meus pitacos, tá?
E, quem sabe…de quebra… tentem convencer os manda-chuva aí da emissora que bloquear a minha presença na programação não é só desonesto; é pouco inteligente. Assim vocês poderão além de desfrutar da minha mesmerizante companhia, ter uma visão verdadeira do que eu realmente sou, faço e represento para a cultura, a música e a política no Brasil.
De qualquer forma, apesar de tantos ‘senões” da minha parte, desde já peço minhas apologias pela severa (contudo necessária)carraspana seguida de meus sinceros agradecimentos pela amorosa lembrança.
Um beijão para todos vocês!
Lobão
Em tempo: para aqueles que viveram os Anos 80, o Guia Politicamente Incorreto dos Anos 80 Pelo Rock é leitura obrigatória.
Histórias deliciosas, bastidores, paqueras, contratos, cartolas, gravadoras, composições, "zuêras"... muita coisa.
Paralamas, Titãs, Barão Vermelho, Marina Lima, Ritchie, Capital Inicial, Lulu Santos, Rita Lee, Legião Urbana e ainda os chamados coronéis da MPB, Caetano, Chico, Gil e mais Milton Nascimento e muita gente mais, histórias de todos eles.
Nélson Motta, Liminha e vários outros produtores musicais importantes, causos e mais causos.
Resenhas do livro:
Lobão em "Guia Politicamente Incorreto dos Anos 80 Pelo Rock" ~ Resenha do livro!Lobão destila amores, ódios e erros em guia raso sobre rock dos anos 80 (essa aqui é meio mal-humorada)
Não recebo um centavo pela propaganda, claro, mas indico onde o livro (ou e-book) pode ser encontrado:
https://www.amazon.com.br/Guia-Politicamente-Incorreto-Anos-Pelo/dp/8544105637https://www.saraiva.com.br/guia-politicamente-incorreto-dos-anos-80-pelo-rock-9726685.html