Muitos textos científicos são escritos numa linguagem de difícil compreensão para o grande público. Torna-se necessário traduzi-los para torná-los mais acessíveis ou, pelo menos, para uma difusão mais extensiva da profundidade do pensamento científico.
Transformar um texto simples em científico é muito fácil.
Isto pode ser feito com aplicação de um método engenhoso que consiste na troca de conceitos que, numa sucessão progressiva de análises - ou estágios - aumentam a complexidade do texto original até o nível de incompreensão desejado.
Se estas colocações parecem ainda obscuras ou abstratas - o que mostra que são científicas - um exemplo muito simples ilustrará o método e facultará ao leitor esperto praticá-lo em outros textos. O exemplo que daremos a seguir é o de um texto altamente informativo em que são discerníveis elementos de Química, Física, Botânica, Geometria e outras disciplinas.
Como se verificará, entretanto, essa massa de compreensão pode ficar mais distante. Ao final do quinto estágio, surgirá a análise mais refinada daquele texto, antes compreensível, evidenciando a eficácia do nosso método.
Agora, o texto "trabalhado" para que vocês possam compreender tudinho:
TEXTO ORIGINAL
Rapadura é doce, mas não é mole.
PRIMEIRO ESTÁGIO
Açúcar mascavo em tijolinhos tem o sabor adocicado, mas não é macio ou flexível.
SEGUNDO ESTÁGIO
Açúcar não refinado, sob a forma de pequenos blocos, tem o sabor agradável do mel. Porém não muda de forma quando pressionado.
TERCEIRO ESTÁGIO
O açúcar, quando ainda não submetido à refinação e, apresentando-se em blocos sólidos de pequenas dimensões e forma tronco-piramidal, tem o sabor deleitável da secreção alimentar das abelhas, todavia não muda suas proporções quando sujeito à compressão.
QUARTO ESTÁGIO (já está ficando incompreensível...)
A sacarose extraída da cana de açúcar, que ainda não tenha passado pelo processo de purificação e refino, apresentando-se sob a forma de pequenos sólidos tronco-piramidais de base retangular, impressiona agradavelmente ao paladar, lembrando a sensação provocada pela mesma sacarose produzida pelas abelhas em um peculiar líquido espesso e nutritivo.
Entretanto, não altera suas dimensões lineares ou suas proporções quando submetida a uma tensão axial em conseqüência da aplicação de compressões equivalentes e opostas.
QUINTO ESTÁGIO (agora sim, qualquer um compreende)
O dissacarídeo de fórmula C12H22O11, obtido através da fervura e da evaporação de H2O do líquido resultante da prensagem do caule da gramínea Saccharus officinarum, Linneu, isento de qualquer outro tipo de processamento suplementar que elimine suas impurezas, quando apresentado sob a forma geométrica de sólidos de reduzidas dimensões e arestas retilíneas, configurando pirâmides truncadas de base oblonga e pequena altura, uma vez submetido a um toque no órgão do paladar de quem se disponha a um teste organoléptico, impressiona favoravelmente as papilas gustativas, sugerindo a impressão sensorial equivalente provocada pelo mesmo dissacarídeo em estado bruto que ocorre no líquido nutritivo de alta viscosidade, produzindo nos órgãos especiais existentes na Apis mellifera, Linneu.
No entanto, é possível comprovar experimentalmente que esse dissacarídeo, no estado físico-químico descrito e apresentado sob aquela forma geométrica, apresenta considerável resistência a modificar apreciavelmente suas dimensões quando submetido a tensões mecânicas de compressão ao longo do seu eixo em conseqüência da pequena deformidade que lhe é peculiar.
(Texto copiado da Internet e adaptado)
Autores do texto original
Alexandre Oda
João Carlos Holland de Barcellos