Emir Sader
Prof. da USP e da UERJ, Coordenador do laboratório de políticas públicas da UERJ
OLAVO DE CARVALHO NÃO EXISTE
Em: 28 / 09 / 2001
Mais uma odiosa trama do comunismo internacional. Enfraquecidos pelo fim da sua pátria, pelo novo e definitivo triunfo dos ideais do liberalismo no mundo, - que estão tornando universais os valores da oferta e da procura, diante da felicidade expressa pela grande maioria da humanidade - os comunistas não descansam. Sua última farsa no Brasil foi inventar um personagem ridículo, troglodita, um verdadeiro clown e colocar na sua boca e na sua pena as mais grotescas versões do pensamento conservador, para mais facilmente ridiculiza-lo e derrota-lo.
Um personagem que acredita que a “guerra fria” ainda não acabou, que, nascido dela, não consegue ser contemporâneo do mundo atual e vive atormentado pelos dragões do comunismo, detrás de cada armário.
Colocaram-lhe um nome fictício – Olavo de Carvalho – e imputaram a ele ser empregado de um personagem – Ronald Levinson - que protagonizou um dos mais divulgados escândalos dos tempos dos governos militares – o caso Delfin -, transformado no seu patrão, para demonstrar que esse infamante personagem trabalha financiado por uma rica empresa privada, que explora o polpudo mercado dos ensino privado. Não contentes, para terminar de liquidar qualquer credibilidade do tal Olavo de Carvalho, fazem circular a notícia de que os espaços que ele tem na imprensa – em jornais e revistas – são comprados, fazendo parte dos custosos contratos de publicidade que a mencionada “univercidade” faz nos meios de imprensa.
Isso coincidiu com a retirada do já saudoso Roberto Campos, deixando vazio o espaço para um pensamento coerente e conseqüente de direita - aquele que reivindica orgulhosamente a ditadura militar e seus métodos de governo, que não abandona a Pinochet no seu momento de martírio. Todo país tem um pensador de extrema direita. Mas no Brasil inventaram esse grotesco personagem, deram-lhe um tom improvável, ridículo, ignorante, e o expõe à execração pública, personagem que a esquerda goza ou, pior, desconhece, diante dos patéticos apelos para polemizar, que ninguém aceita e o deixa na sua solidão exposto ao escárnio.
O caso requer uma denúncia e até mesmo um processo nas organizações de defesa do consumidor, em relação às publicações que – conscientemente ou não, porque se sabe que mesmo órgãos respeitados da nossa imprensa estão profundamente infiltrados pelos comunistas e muitas vezes se deixam levar por seus cantos de sereia – usam seus espaços para divulgar esse espantalho, esse faz-me-rir, que só colabora para que a esquerda apareça como depositária da cultura, da capacidade teórica de análise, da democracia e da liberdade.
Olavo de Carvalho não existe. Ler os materiais preparados pelos zapatistas, pelo MST, pela Líbia, pela Coréia do Norte, por Cuba, pelo PT, elaborados para enfraquecer é fazer o jogo do comunismo internacional.
Olavo de Carvalho não existe. Denunciemos alto e bom tom, impeçamos que os ideais do livre comércio, tão ardorosamente defendidos por George Bush, por Silvio Berlusconi, por Pinochet, por Fujimori, sejam expostos ao ridículo por um personagem fictício, de que em qualquer pessoa com um nível mínimo de cultura só provoca riso. E seria de fato motivo de riso, não fosse trágico para a direita – para o seu presente, seu passado e – esperando que um personagem como este não o impeça –
o seu futuro.