Explicações do próprio Waldo Vieira referente el ter deixado o Movimento Espirita:
Aqui tem uma entrevista com o WV. Talvez ajude a eclarecer o que aconteceu com ele, quando rompeu com o movimento:
Por Fátima Afonso e Eduardo Araia
FE - O seu trânsito da fase espírita para a fase projeciológica em especial ainda é pouco conhecido. Historicamente, como isso se deu?
WV - Tomei parte no movimento espírita devido às aulas de moral cristã do centro espírita que meu pai ajudou a fundar na cidade de Monte Carmelo(MG), onde nasci em 1932. Aos 6 anos, comecei a ter essas aulas, em que aprendíamos os dispositivos básicos e também participávamos de sessões de desobsessão, cursos rudimentares onde até se batia com o Evangelho na cabeça do médium...
FE - Exorcismo...
WV - Exorcismo de alto nível, naquela época. Minha mãe era professora, meu pai dentista. Ela estimulou muito meu processo intelectual. E, como eles observavam uma tendência de fenômenos parapsíquicos na nossa família, passaram a estudar muito isso. Os livros de espiritismo começaram a passar pelas minhas mãos. Chegou uma época em que, na minha cidade, não havia mais nada para eu ler. Também fiz o curso disponível ali, que era o do grupo escolar. Então, em 1944, fui fazer exame de admissão para entrar no internato de Uberaba.
Aos 16 anos, eu já tinha carteira assinada, trabalhava lá dentro seriamente. Naquela condição, comecei a ver o movimento espírita de Uberaba e do Triângulo Mineiro. Quando viram que eu conhecia o assunto, passaram a me envolver em tudo. Em pouco tempo, eu era o presidente da União das Mocidades Espíritas de lá. Depois, passei a ser o presidente e o secretário da diretoria da União das Mocidades Espíritas do Brasil Central e do Estado de São Paulo.
Aos 13 anos, comecei a receber poesia de psicografia, na brincadeira. Agora, a clarividência e a saída do corpo começaram aos 9 anos. Aos 14, comecei a minha biblioteca(coisa mais séria é a minha biblioteca; tinha obra minha publicada até na Europa, para vocês terem uma idéia.) Estudei muito, e as coisas foram crescendo. Fiquei conhecido no movimento espírita, mas não conhecia o Chico Xavier, pois ele estava em Pedro Leopoldo e eu em Uberaba. Em 1955, umas pessoas falaram que o Chico queria me ver para fazer algo em conjunto. Ele já conhecia alguma coisa da minha psicografia, sabia que eu escrevia para jornais. Naquele ano, tive de ir a Belo Horizonte, cheguei até Pedro Leopoldo e fiquei conhecendo o Chico pessoalmente.
WV - Em 56, começamos a entrosar mensagens que ele recebeu e mensagens que eu recebi, e foi lançado então o Evolução em Dois Mundos, um sucesso. Logo em seguida saiu outro. Em dez anos, cheguei a publicar 26 livros, sendo 17 em parceria com o Chico Xavier. Quando o Chico teve de ir para Uberaba, fui eu quem o levou; peguei dinheiro do meu bolso, fiz uma casa. Juntamos vários amigos, meus e do Chico, e fizemos uma obra básica chamada Comunhão Espírita do Estado, que existe até hoje, faz muita assistência e é conhecida em Portugal e no Japão. Depois que as coisas assentaram, começamos a trabalhar com atividade pública.
Por volta de 1964, 65, já tinha percebido que não dava para continuar. O presidente da Federação queria me preparar para substituí-lo, para liderar o movimento espírita no Brasil. Eu falei que não, pois achava que teríamos que reformular tudo, Allan Kardec inclusive, que está superado. Além disso, eu não era da doutrina, era mais da área de pesquisa, da racionalidade.
Quando o Chico foi para lá, eu já estava no fim do meu curso de medicina, já era dentista. Eu tinha muitas atividades. Depois disso, vi que não dava mais para ficar no movimento espírita, pois estava começando a me tornar persona non grata. De 64 para 65, eu disse para a minha mãe, que estava conosco: "Olha, eu vou ter de sair. Minha programação de vida não é esta. O Chico já está ciente disso." Então, pus seis pessoas para cada uma tomar conta dos setores que eu ocupava.
Em 1965, levei o Chico comigo à Europa e Estados Unidos; passamos mais de três meses fora do Brasil para incentivar o seu processo. Encontramos muita gente, demos um monte de entrevistas, recebemos mensagens em inglês, etc. Em 66, fizemos uma segunda turnê. Então ele voltou para o Brasil e eu só retornei depois que fiz várias viagens Quis estudar, por exemplo, o processo de drogas, dos hippies, etc. Já no Brasil, comecei a cuidar da minha vida; doei o que eu tinha em Uberaba, só ficamos com o usufruto de umas casas, que existem até hoje e estão no nome do Chico e no meu.
A partir de 1966, praticamente não voltei mais para Uberaba. Estive lá duas vezes, rapidamente, para ver minha família. Assim, passei um período só pesquisando. Saía do Brasil, vinha muito também a São Paulo para ver tudo quanto era tipo de médium fazer cirurgias variadas, para ver o processo de efeitos físicos, tinha contato com gente que fazia projeção consciente, etc. Comecei a me dedicar a tudo que era fenômeno, participar de congressos e das sociedades internacionais de parapsicologia, observar pesquisas e fazer a polarização de todos os meus dados da biblioteca.
FE - Você pesquisou vários temas. Porque escolheu a projeciologia?
WV - Entre 14 e 16 anos, tive um professor que era o homem mais inteligente do núcleo que hoje é a chamada Fiub, a universidade que ajudamos a criar e onde fui secretário. Aos 14 anos, eu já tinha 1.456 obras, em cinco idiomas, só abordando fenômenos parapsíquicos. E outra coisa: lia isso fluentemente e tinha esses livros todos riscados, com anotações. Nessa época, fiz uma grande panorâmica dos fenômenos parapsíquicos e concluí que havia 222 deles. Mostrei essa classificação ao meu professor e ele perguntou: "De onde você copiou isso?" Não havia copiado nada... por outro lado, a gente copia tudo. Eu havia arranjado tudo quanto era classificação. Acabei dando uma aula para o professor sobre aquelas hipóteses. Então ele se convenceu: "É, Waldo, você estudou, isso é seu. Mas tenho uma pergunta. Você tem de pesquisar por si próprio e chegar à conclusão. Qual o fenômenos mais sério entre todos esses? Qual interessa mais para que você dedique toda a sua vida?" Respondi que já sabia, mas pedi um prazo. Dois meses depois, fui até ele e falei: "Já cheguei à conclusão e não mudei nada, o fenômeno é o mesmo. É o desdobramento consciente, aquilo que os ingleses chamam de astral projection. Esse é o mais sério de todos, porque descerra tudo na vida humana e joga tudo no buraco."
FE - Você aprendeu a se projetar com alguém, em algum livro?
WV - Não, desenvolvi com os amparadores algo chamado estado vibracional. Essa técnica mantém a autodefesa na sua vida. Com esse estado comecei a fazer a projeção muito mais facilmente. Relaxa, entra em estado vibracional... é uma das técnicas discutidas no livro Projeciologia, onde há cerca de 30; e passei praticamente por todas elas para ver como eram. Alguém, por exemplo, que é muito fechado, bem terra, pode procurar um médico de confiança para supervisioná-lo num jejum de três dias. Isso amolece a pessoa, do ponto de vista das percepções do corpo.
FE - Você criou uma linguagem muito específica para a projeciologia...
WV - Não é linguagem, é uma terminologia técnico-científica com nomenclatura, porque toda ciência mexe com conceitos novos e para você não entrar na polissemia, pegando uma palavra que já existe e atribuir-lhe uma outra acepção, é preciso criar uma palavra nova. É um neologismo.
FE - Você não acha que isso dificulta o entendimento de toda a teoria?
WV - Pelo contrário, você fica livre das pessoas ignorantes, dos que têm preguiça mental. Porque isso dá trabalho para eles e para nós. Não temos mais tempo para mexer com pessoas assim. Já não participo mais de feiras faz alguns anos; isso tudo já está superado. Estamos num outro nível.
Tem outra entevista que ele deu para a Revista Ano Zero, vou postar somente a parte que ele diz onde rompeu com o Espiritismo:
AZ - Afinal, como foi que tudo começou?
WV - Aos 9 anos, eu tive uma projeção consciente, comprovada pela família e pessoas ligadas a ela. Meu irmão estava muito doente, já desenganado pelos médicos. Ficou
provado que eu tinha saído do meu corpo, ido até o quarto ao lado e visto, não só o que estavam fazendo com meu irmão, como também o que iria acontecer com ele. Dai em diante, muitos outros fatos semelhantes foram acontecendo, cada vez mais freqüentes. Com o passar do tempo, comecei a dominar o processo. Nessa época, eu tinha uma visão essencialmente espírita do fenômeno. Editei, juntamente com Chico Xavier, vários livros psicografádos que ajudaram a divulgar o espiritismo por todo o País e o exterior.
AZ - Sua família era religiosa?
WV - Era espírita. Minha formação começou com aulas de moral cristã kardecista. Logo fui mergulhando num conflito muito grande, porque a exaltação da mediunidade é parte integrante do movimento espírita. E eu falava pra todo mundo:
"Olha, é bom que, ao invés de mediunidade, vocês entrem no desdobramento".Sair do corpo e ir lá, ver a coisa diretamente. Se podemos eliminar o intermediário, por que ficar dependente de uma entidade que se manifesta por um médium? Eu já tinha retrocognicões desde menino, recordação de encarnações passadas, com muita lucidez. Foi aí que conclui: estou repetindo o que já fiz. O contexto era o mesmo, mas o cenário e a linguagem eram diferentes. Quando cheguei a esse nível, pensei: outras pessoas devem estar passando por isto. E comecei a procurá-las. Conversava com muita gente e desde os 17 anos passei a anotar num caderno, dados sobre projeção
astral. Minha família tinha poucos recursos. Sai de casa aos 12 e nunca mais voltei porque pretendia pagar os meus estudos e os dos meus irmãos.Fui para Uberaba. Enquanto estudava, comecei a trabalhar com Mário Palmério, que hoje é um escritor de renome. Fiz curso de Odontologia e depois de Medicina. A partir dos conhecimentos adquiridos, tive condições de desenvolver um estudo mais consciente dos fenômenos chamados paranormais. A essas alturas, comecei a viajar por todo o Brasil, sempre pesquisando e trocandoidéias. Passei a ver a projeção astral como um fenômeno fisiológico, assim
como comer ou respirar. Decidi me dedicar ao seu estudo específico aos 34 anos, em 1966. Larguei tudo para dedicar-me em tempo integral à projeção.Publiquei trabalhos e passei a fazer parte das sociedades internacionais de parapsicologia da Europa, Estados Unidos e América Latina.
Não me parece que houve briga dele com o Chico, ele só estava determinado a abandonar o Espiritismo pois havia uma grande distância de idéias nos movimentos.