A terceira onda
por Rodrigo Constantino em 17 de novembro de 2005
Resumo: O novo business model é não produzir nada, mas vender em todo lugar.
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“Knowledge is the most democratic source of power.”
(Alvin Toffler)
Alvin Toffler escreveu The Third Wave em 1980, mas muito do que o autor disse na época ainda parece totalmente ignorado. Toffler descreve três tipos de sociedades, baseadas no conceito de ondas. A primeira onda teria sido a mudança da cultura nômade de caçadores para uma revolução agrária, onde a terra era o recurso básico. A segunda onda foi calcada na produção industrial, com distribuição de massa, onde o capital e trabalho eram as ferramentas principais. A terceira onda seria justamente a era pós-industrial, com maior diversidade, foco em nichos de mercado e subgrupos, onde a informação substitui os recursos materiais e torna-se o principal insumo dos trabalhadores.
Apesar dessa transformação parecer mais evidente hoje, muitos ainda ignoram seus efeitos concretos, incluindo economistas presos nos conceitos da era industrial, como os fisiocratas antes deles, que não conseguiram abandonar a mentalidade da fase agrária. Isso gera distorções nas análises sobre o quadro atual, prejudicando o diagnóstico dos problemas e suas soluções.
As novas empresas vencedoras são como plataformas, operando modelos enxutos, sem grande necessidade de capital físico. Isso permite maior agilidade, foco na marca, inovação e força de vendas. As enormes fábricas não mais precisam ficar sob a estrutura dessas empresas, que podem terceirizar a produção dos bens que vendem. Uma das conseqüências disso é a transferência da parte mais volátil e dispendiosa do negócio para países menos desenvolvidos. A troca é mutuamente benéfica, pois gera milhões de empregos nos países emergentes. Para essas empresas plataforma, que focam nos serviços, os ganhos também são evidentes, com lucros mais estáveis e excelentes retornos sobre capital investido, possíveis pelos ativos mais “leves”.
O novo business model é não produzir nada, mas vender em todo lugar. As empresas plataforma sabem onde os clientes estão, o que desejam, e onde conseguir tais produtos. Elas organizam esse processo de demanda dos consumidores e oferta dos produtores, adicionando suas marcas, cuidando da logística e faturando pelo serviço prestado. São estas empresas que retêm o valor das pesquisas, desenvolvimento de novos serviços e marketing. Exemplos de empresas plataforma seriam a Dell, IKEA, Microsoft, Intel etc.
Para o sucesso desse modelo, alguns pilares são fundamentais, como a existência do livre comércio, direito de propriedade e excesso de capacidade produtiva. Tais características são comuns ao capitalismo, que pode ser visto como o pai das empresas plataforma. Essas empresas vão prosperar onde há maior liberdade de comércio entre fronteiras, para que possam decidir com maior eficácia a alocação de recursos. Vão prosperar onde o direito de propriedade, incluindo a intelectual, é garantido, para que os investimentos em pesquisa e inovação possam dar retorno. Vão prosperar onde a infra-estrutura de logística é decente, com boa comunicação, portos, estradas e aeroportos. Vão prosperar se houver excesso de produção, para que tenham flexibilidade e poder de barganha com os fornecedores. E por fim, vão prosperar onde o modelo tributário é amigável, já que podem migrar mais facilmente para outros países, por não terem raízes físicas em fábricas gigantescas.
Essa última característica coloca em xeque o modelo de welfare state, com pesados gastos sociais por parte do governo. A competição para atrair as empresas plataforma poderá forçar um enxugamento da máquina estatal nos países desenvolvidos, assim como a adoção de regras tributárias mais simples e sobre consumo, não renda. Afinal, nada impede que a sede dessas empresas vá para um país que ofereça condições mais favoráveis. Desta forma, a tendência será uma gradual liberalização da economia, com a falência do modelo social-democrata, que engessa através da burocracia e impostos a competitividade dessas empresas. Tanto a “destruição criativa” de Schumpeter como as “vantagens comparativas” de Ricardo deverão ficar livres para exercerem sua influência no crescimento econômico. Quanto mais o governo tentar impedir a atuação dessas forças de mercado, mais ele afastará as empresas vencedoras, com o modelo de plataforma. Para termos uma idéia melhor disso, basta compararmos a quantidade de empregos gerados nos Estados Unidos na última década com os empregos criados na Europa, menos liberal economicamente. A Europa perdeu de “goleada”.
Como evidência empírica das vantagens desse modelo, temos que a média da participação de serviços no total da produção de riquezas dos vinte países mais ricos do mundo está acima de 70%, enquanto no Brasil está próxima de 50%. A participação da agricultura no PIB dos países ricos é ínfima, abaixo de 2% do total, enquanto nos países mais pobres ainda é superior a 20% do total. Os países ricos já abandonaram tanto a primeira como a segunda onda, e estão vivendo na era do capital intelectual, das empresas plataforma. Suas economias estão com volatilidade bem menor, lucros mais previsíveis e retornos crescentes. Tudo graças ao progresso do modelo capitalista, com império da lei, direito de propriedade, ambiente favorável aos negócios e liberdade econômica.
Enquanto isso, os atrasados ainda surfam a primeira onda, em alguns casos a segunda, da fase industrial. Ainda debatem a questão da reforma agrária e aturam os crimes de um MST da vida. E permanecem culpando o sucesso alheio pela sua miséria, resultado exclusivo do modelo que adotaram, com pouca liberdade econômica, asfixiante presença estatal e ausência do império da lei. Quem não quiser perder a onda, terá que nadar rápido na direção certa. E a corrente aponta na direção do capitalismo liberal. A alternativa é ficar eternamente “pegando jacaré” na beira do mar...
fonte:
http://www.midiasemmascara.com.br/artigo.php?sid=4305