Autor Tópico: Contato – O filme  (Lida 717 vezes)

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Offline Srta. Quaresma

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Contato – O filme
« Online: 06 de Março de 2006, 03:51:55 »
Eu devia ter comprado o livro quando tive oportunidade. Assisti a versão cinematográfica da obra recentemente. À parte o fato do filme se mostrar uma ótima opção de entretenimento mesmo, é interessante notar como os temas de Carl Sagan estão encaixados na trama.

É notável como a questão fé/ciência é colocada de forma irônica. Quando Ellie passa pelo processo de seleção pra ser enviada a Vega, é quase exigido dela uma posição de fé. Quer dizer, dezenas de pessoas se mostraram, não só extremamente capazes de aceitar a existência de uma entidade por pura fé, mas também de usar isso como critério de seleção numa empreitada de tamanha importância. Por outro lado, quando a expedição “dá errado” e Ellie alega ter mesmo feito a viagem, essas mesmas pessoas já se mostram extremamente céticas, chegando a usar os mesmos argumentos da cientista, inclusive citando a navalha de occan. É irônico quando no meio do “julgamento” alguém pergunta pra ela: “Não há provas do que você está dizendo. Você quer mesmo que a gente aceite isso... por pura fé?”

Já Ellie, que sempre tentou manter uma postura científica, se vê com uma experiência que não consegue provar, mas que tem certeza absoluta de que foi real. Ela não só acredita piamente nisso, ela quer que seja verdade. Lembro no Mundo assombrado pelos demônios quando Carl Sagan diz que quando sua vontade pende pra um dos resultados é que você deve mesmo dobrar o ceticismo. No caso de Ellie havia hipóteses mais plausíveis (fraude e ilusão), mas ela persistia na realidade da mais improvável. Acho que isso mostra como é difícil manter a postura científica frente a certas situações. E logo no caso de uma cientista que já parecia “vacinada” contra esse tipo de coisa.

A parte de humor do filme fica com James Woods, que fez o representante do departamento de defesa, Michael Kitz. Ele sempre tem um comentário idiota pra fazer e já entra em cena fazendo uma pergunta notadamente imbecil: “Se esses E.T.’s querem fazer contato, pra quê tanta complicação? Por que eles não falam logo inglês?”. É muito engraçado quando Ellie tenta explicar pra ele que a comunicação foi feita numa linguagem universal, matemática, através de números primos, e ele fica olhando com aquela cara de interrogação enquanto ela completa: “Números primos... Você sabe, aqueles que só são divisíveis por um e por eles mesmos...?” E a cara de interrogação permanece.

Ele é a personificação da paranóia americana. Durante as discussões a respeito da utilidade da máquina cujo projeto havia sido enviado é onde isso fica mais óbvio. “Talvez seja um cavalo de onde sairá um monte de veganos para nos matar. Ou talvez seja uma máquina de destruição. De repente eles mandam esse projeto pra todas as civilizações que encontram por aí. E nós, idiotas, construímos e explodimos tudo”.

Em O Mundo assombrado pelos demônios, Sagan também faz uma crítica ao departamento de defesa americano, alegando que desde o fim da Guerra Fria ainda gastam horrores pra “nos proteger de um inimigo que não existe”. Enquanto isso, o financiamento para o Projeto SETI é cancelado em 93 por não ser considerado relevante.

A forma como o governo americano andava encarando a produção científica na época também é revelada no filme. A pressão para que os cientistas deixassem de lado a “pesquisa pura” para se lançar à tecnologia, engenharia e aplicações. O personagem Drumlin faz uma defesa dessa idéia no início do filme. A respeito disso Carl Sagan mais tarde diria:
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Maxwell não estava pensando no rádio, no radar e na televisão quando rabiscou as equações fundamentais do eletromagnetismo; Newton nem sonhava com vôos espaciais ou satélites de comunicações quando compreendeu pela primeira vez o movimento da lua; Roentgen não cogitava em diagnóstico médico quando investigou uma radiação penetrante tão misteriosa que ele a chamou de “raios X”; Curie não pensava na terapia do câncer quando extraiu a duras penas quantidades diminutas de rádio do meio de toneladas de uraninita; Fleming não planejava salvar as vidas de milhões com antibióticos quando observou um círculo sem bactérias ao redor de uma formação de mofo; Watson e Crick não imaginavam a cura de doenças genéticas quando tentavam decifrar a difratometria dos raios X do DNA; Rowland e Molina não planejavam implicar os CFCs na diminuição da camada de ozônio quando começaram a estudar o papel dos halógenos na fotoquímica estratosférica.

Em resumo, um filme excelente. Queria saber as impressões de vocês, sobretudo comparações com a obra literária, uma vez que ainda não li o livro.


Algumas dúvidas:

1. Nos extras vi que a viúva de Carl Sagan, Ann Druyan fez uma ponta no filme. Alguém notou isso? Alguém sabe que ponta foi essa?

2. Fui pesquisar mais a respeito do projeto SETI e me deparei com um monte de informações mal organizadas cronologicamente (um pedaço aqui, um pedaço ali). No Mundo assombrado pelos demônios, Carl Sagan diz que o projeto surgiu em 92, foi cancelado em 93 e voltou em 95 com o nome de Projeto Fênix. Mas em uma página na internet com as informações muito loucamente organizadas, havia menções ao projeto desde a década de 70. E citava vários “projetos seti” como se não fizessem parte de uma única organização. Eu queria saber quando surgiu o projeto, quando voltou a ser chamado SETI (visto que em 95 virou “Fênix”), quantos programas SETI existem (se for o caso), e quando surgiu o SETI@home (essa informação não consta no site do SETIBR). Alguém conhece algum site esclarecedor a esse respeito?


P.S.: Uma breve pesquisa por “contato” me valeu 11 páginas de resultado. Em nenhuma delas encontrei um tópico sobre o filme. Caso seja um tópico repetido, favor me avisarem pra que eu possa transferir minha mensagem para o tópico já em voga.

Offline Guinevere

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Re: Contato – O filme
« Resposta #1 Online: 06 de Março de 2006, 12:40:35 »
Quando Ellie passa pelo processo de seleção pra ser enviada a Vega, é quase exigido dela uma posição de fé. Quer dizer, dezenas de pessoas se mostraram, não só extremamente capazes de aceitar a existência de uma entidade por pura fé, mas também de usar isso como critério de seleção numa empreitada de tamanha importância.
Acredito que o ponto não foi bem esse. Eles disseram que, se 90% da humanidade tem fé, ela representaria melhor esses 90% se também tivesse.

Eu teria argumentado melhor, no lugar dela.

Offline Srta. Quaresma

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Re: Contato – O filme
« Resposta #2 Online: 07 de Março de 2006, 01:22:48 »
Quando Ellie passa pelo processo de seleção pra ser enviada a Vega, é quase exigido dela uma posição de fé. Quer dizer, dezenas de pessoas se mostraram, não só extremamente capazes de aceitar a existência de uma entidade por pura fé, mas também de usar isso como critério de seleção numa empreitada de tamanha importância.
Acredito que o ponto não foi bem esse. Eles disseram que, se 90% da humanidade tem fé, ela representaria melhor esses 90% se também tivesse.
Bom, se ela representaria melhor se também tivesse essa crença então é porque isso estava contando pontos a favor ou contra. Se estava contando pontos então estava sendo usado como critério de avaliação também.

Mas meu ponto foi a questão da crença pela crença mesmo (fé). Em um momento ela é tão importante pra essas pessoas, em outra já não tem a menor validade para os fatos.

Apenas achei interessante a dicotomia da coisa, muito embora sejam situações de fé diferentes.

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Eu teria argumentado melhor, no lugar dela.
Ora essa, bastava mentir. :anjo:

Offline Guinevere

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Re: Contato – O filme
« Resposta #3 Online: 07 de Março de 2006, 12:46:40 »
Mas *EU* não teria feito isso.

 

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