O FMI costuma funcionar como pronto-socorro para economias com problemas de balanço de pagamentos ou como CTI (Centro de Tratamento Intensivo) em alguns casos mais graves de desequilíbrios cambiais.
É para isso que aquela instituição foi criada em 1944 e que hoje conta com a participação da maioria absoluta dos países.
Os principais cotistas do FMI são os países desenvolvidos, que também são os maiores credores dos países endividados. O maior cotista é o governo norte-americano e a sede do FMI fica em Washington.
Não é de surpreender que os políticos em geral não gostam de dizer que precisam da ajuda do FMI. Na maioria dos casos, a necessidade de se buscar ajuda no FMI resulta de erros de condução da política econômica, como foi o caso brasileiro de 1999. Uma política cambial, com valorização excessiva do real, se de um lado ajudou a segurar a inflação provocou, por outro lado, grandes déficits nas contas externas, cujo desfecho foi a explosão da taxa de câmbio em janeiro de 1999.
Principalmente nos países do terceiro mundo, os discursos dos políticos com relação a eventuais programas monitorados pelo FMI costumam vir recheados de frases dirigidas à grande massa de eleitores, que não dispõe de informações para um bom entendimento sobre o papel daquele organismo internacional.
Atualmente o Brasil não precisa mais dos recursos do FMI, e por isso decidiu pagar antecipadamente sua dívida com aquele organismo. Poderia também simplesmente continuar pagando conforme o cronograma, se assim o desejasse.
Em 1999, o Brasil precisou do FMI para não quebrar. Precisou porque acumulou grandes déficits nas contas externas nos anos anteriores.
Agora, o Brasil não precisa mais dos recursos do FMI, porque acumulou grandes superávits, o que lhe permitiu recuperar níveis confortáveis de reservas cambiais.
Depois de pagar antecipadamente a dívida com o FMI, no valor de US$ 15,5 bilhões, as reservas cambiais brasileiras ainda se situavam em US$ 53 bilhões, o que já pode ser considerado razoável para a economia brasileira. As reservas externas brasileiras têm crescido sistematicamente nos últimos tempos, com as compras feitas pelo Banco Central.
Mantido o quadro de abundância de oferta de recursos no mercado financeiro internacional, essas reservas deverão continuar a crescer.
Uma eventual nova crise cambial no caso brasileiro, não está visível até onde a vista alcança, inclusive porque o sistema de câmbio flutuante tende a prevenir a ocorrência de desequilíbrios estruturais na contas externas.
O FMI E O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
O FMI não foi criado para se preocupar com o desenvolvimento econômico de seus membros.
Esse é um papel que cabe ao Banco Mundial, inicialmente criado para cuidar da reconstrução da Europa, pós-guerra.
O FMI foi criado para cuidar dos problemas de balanço de pagamentos, como mencionamos.
Interessa aos devedores não "quebrar", pois isso costuma ser muito doloroso, em termos de recessão e desemprego.
Interessa, também, aos credores, receber.
Assim, o FMI preocupa-se com o desenvolvimento de um país, somente até o ponto em que esse desenvolvimento seja útil para que o país devedor possa pagar suas dívidas.
O FMI preocupa-se com o fluxo de caixa externo do país-membro, não com o seu desenvolvimento.
Daí as dificuldades que, com freqüência, ocorrem nos relacionamentos entre o FMI e os governos dos países que recorrem ao organismo.
Se um país não precisa do FMI é porque está em situação cambial confortável. Neste caso, essa economia também terá maior possibilidade de crescimento sem enfrentar problemas cambiais.
É o caso do Brasil depois de alguns anos de grandes superávits na balança comercial.
Não podemos nos esquecer, entretanto, que nos momentos de crise, um socorro do FMI pode permitir que o processo de ajuste seja menos doloroso, e não o contrário, como muitas vezes se pensa.