Eu, pessoalmente, penso que seja a hipótese mais provável.
Abaixo, trechos de um artigo (VIDA NO UNIVERSO: uma busca do século XXI) sobre o assunto de Augusto Damineli – Prof. do IAGUSP e Membro do Comitê Diretor dos Telescópios Gemini. Damineli é provavelmente o mais proeminente astrônomo brasileiro em nível internacional.
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A idéia de origem da vida fora da Terra (panspermia ou transpermia) tem desenvolvido argumentos de peso.
Olhando para longe, podemos ver a formação de outros planetas e assim rever processos que aconteceram no nosso. Os casos não são idênticos, mas são tantos que muitos são bem próximos ao nosso e isso é suficiente para determinar a importância da água, da poeira e de diversos elementos químicos como o carbono, o nitrogênio etc. É muito fácil detectar um sistema proto-planetário, pelo menos muito mais fácil que detectar um planeta em torno de outra estrela pelo fato de a matéria estar espalhada em um imenso disco que reflete a luz da estrela hospedeira. A observação de centenas de sistemas proto-planetários indicam que a teoria atual da origem do sistema solar é bastante sólida e podemos usá-la para delimitar as condições físicas reinantes no início do nosso planeta. A descoberta de aminoácidos em meteoritos, incluindo todos os que são usados pelos seres vivos e dezenas a mais, reforça a importância do contexto astronômico para o estudo da vida. Na verdade, não podemos descartar a hipótese de que ela tenha se originado fora da Terra e aqui aportado já pronta ou quase pronta. O local e o material que formou nosso planeta eram extremamente hostis à vida. A essa distância do Sol (150 milhões km = 1 unidade astronômica = 1 UA), a poeira era seca, não existia água nem compostos biogênicos (amônia, metano e moléculas de carbono em geral). Eles só eram abundantes a partir de 5 UA de distância do Sol (=órbita de Júpiter), onde a temperatura era mais baixa. Quando Júpiter se formou (70 m.a. depois do início do sistema solar) sua gravidade começou a espalhar para todos os lados os cometas que restavam em suas proximidades. Muitos deles caíram sobre a Terra, trazendo para cá a água e moléculas orgânicas. A água que bebemos hoje veio de bem mais longe que as nuvens de nossa atmosfera. É possível que os aminoácidos que deram origem à vida tenham vindo para cá prontos. O experimento de Miller (1953) que os gerou em laboratório pela primeira vez, reproduzia a composição química que Urey supunha existir na atmosfera primitiva da Terra, mas que na realidade era a de planetas gasosos, como Júpiter, Saturno, Urano ou Netuno (alta abundância de hidrogênio, amônia e metano). Esse tipo de atmosfera é completamente diferente da dos planetas rochosos, como a Terra, Vênus ou Marte (com alta abundância de dióxido de carbono e nitrogênio e sem hidrogênio). A existência de uma atmosfera redutora, rica em hidrogênio (H) foi um fator fundamental para o sucesso do experimento de Miller. Até hoje não se conseguiu produzir aminoácidos em atmosferas neutras como a da Terra primitiva, em quantidades significativas. Por outro lado, alguns meteoritos carbonáceos, como o que caiu em Murchison (Austrália, 1969) contêm aminoácidos predominantemente levógiros, como os usados por seres vivos. A glicina já foi detectada em nuvens de gás interestelar, além de açúcares, álcoois e outros compostos orgânicos. O que parece tão difícil para a Terra abiótica acontece facilmente no céu. O bombardeamento meteorítico trouxe para cá bastante aminoácidos, e esse pode ter sido o material do qual a vida se originou. É mesmo possível que a vida tenha sido destruída e recomeçado diversas vezes ainda quando a Terra não estava completamente formada. Nos primeiros 400 m.a., ocorriam impactos de meteoros tão grandes a ponto de evaporar os oceanos e esterilizar a vida na Terra. Existem indicações de que a vida já estava plenamente instalada de forma perene logo após essa fase. Uma evidência é que há 3.8-3.9 b.a. já havia ampla atividade fotossintética. Essa parece ser uma estratégia relativamente tardia de obter energia pelos seres vivos (autotrofismo) e portanto requereria estágios anteriores. Outro sinal indireto aparece é a deficiência de 13C em rochas de 3,86 b.a. (Ishua - Groenlândia), um processo que até onde se sabe, só pode ocorrer através de atividade biológica. É impressionante como a vida apareceu tão depressa, tão cedo e foi tão resistente às catástrofes não só iniciais como ao longo de toda a história evolutiva. Parece que as catástrofes têm um papel ambivalente para a vida.
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