Costumam me dizer que eu deveria respeitar as crenças alheias. Isso soa completamente sensato, ao menos até se pensar a respeito. O problema está em saber onde traçar a linha. Posso entender porque, por exemplo, os presbiterianos deveriam respeitar as crenças dos metodistas. Eles são praticamente a mesma coisa.
Mas que fazer com as pessoas do Heaven's Gate, que acreditavam que deveriam se matar pra que as suas almas seguissem um cometa? Eu sou obrigado a respeitar estas crenças também? E que fazer com as pessoas que doam todas as suas posses, porque determinaram a data exata em que o mundo vai acabar? Eu respeito as suas opiniões até a data prevista e, depois que ela passar, continuo respeitando sua opinião enquanto eles imploram aos vizinhos pra devolverem suas tralhas?
Eu respeito os Mórmons por serem bem-sucedidos em criarem bons cidadãos. Qualquer coisa que eles façam parece funcionar. Raramente se ouve falar de uma gangue de Mórmons aterrorizando uma cidade. Mas eu devo respeitar também a prática de usar cuecas especiais, para afastar o mal? Tem que levar o pacote inteiro?
Suponho que se poderia argumentar que devemos respeitar qualquer religião que seja pacífica e que tenha boas intenções nos seus princípios. E eu certamente concordo com tratar todas as pessoas com respeito, mesmo que você não o sinta no seu coração. Mas parece-me desonesto demonstrar o mesmo respeito por todas as crenças. Certamente há crenças que merecem um pouco menos de respeito que outras.
Deve ser um problema ainda maior para aqueles que têm uma religião. Algo como "meu profeta falou com um anjo de verdade, mas o seu profeta evidentemente estava bêbado mijando na floresta e achou que um toco de árvore estava falando com ele".
Também me pergunto se mostrar respeito por todas as crenças não causa mais problemas do que os evita. A única coisa que impede as pessoas de concretizar as suas crenças absurdas é o medo de que as pessoas venham a os tratar como retardados. O sarro é uma ferramenta social muito importante para conter a estupidez. Pelo menos é isso que eu falo depois de tirar sarro dos outros. Ou, colocando em outras palavras, eu nunca vi ninguém mudar de idéia por causa do poder de um argumento superior ou pela aquisição de novas informações. Mas já vi um monte de gente mudar seu comportamento para evitar ser zoada.
Muitos dos maiores problemas do mundo são causados por diferentes posições religiosas. Mas não é socialmente aceitável nem discutir quais delas foram criadas pelo onipotente ou pelo cara bêbado mijando num toco de árvore. No mínimo, só pra dar um exemplo, ou o Cristianismo ou o Islamismo são completa e redondamente errados. As crenças são mutualmente exclusivas. Os muçulmanos crêem que todos os cristãos vão queimar no inferno; os cristãos acreditam que o Corão é ficcção. Não podem ambos estar certos - eles poderiam obviamente estar ambos errados, caso os caras do Heaven's Gate estiverem certos no final.
Eu fantasio quanto a me tornar presidente um dia, e insistir em definir qual religião é a "correta". Eu juntaria todos os experts em história e religião e ciência, e transmitiria pela TV eles discutindo os méritos e evidências das suas posições, com exames cruzados e - o mais importante - tiração de sarro. Também não haveria prazo pra concluir o debate. Iria continuar até que até uma criança pudesse reconhecer quais posições são mais fáceis de zoar. Às vezes, isso é o mais próximo que a gente pode chegar da sabedoria.
Saiu no Dilbert's Blog,
http://dilbertblog.typepad.com/the_dilbert_blog/2006/04/respecting_the_.html, com tradução livre, livre, muito livre, minha. Corrijam o que for necessário.
Sou absolutamente pró-sarro e pró-iconoclasmo. Ridendo castigat mores, e etc. Que acham?
Tópico: [Scott Adams] Respeitando as crenças alheias (Lida 1082 vezes)