Na minha lista de escritores argentinos, me esqueci de dois (e um deles se a minha mãe lê, me mata, porque é o preferido dela!)
Ernesto Sábato: curiosamente sempre gostou de escrever , mas era físico de formação, e muito talentoso. Inclusive foi recomendado para trabalhar nos laboratório dos Curie nos anos 40, na época das pesquisas nucleares, mas o abandonou para seguir carreira como escritor (o amigo que o recomendou nunca mais falou com ele!).
Sim, também formou parte do partido comunista, foi exilado várias vezes, blá-blá-blá.
Além de ter sido o primeiro tradutor de Bertrand Russell, escreveu entre outras coisas uma famosa trilogía: "El túnel", "Sobre héroes y tumbas" ('Informe sobre ciegos' é uma parte dele, sobre uma seita de cegos que realizam incursões à noite, suspeitos de assassinatos, meio conto macabro, meio alegoría kafkiana), e "Abbadón El Exterminador" (Abbadon sería a encarnação de Jesus quando vier acabar com o universo, mas é uma alegoría sobre a ditadura, a luta do bem contra o mal e tal).
Sábato me lembra muito Frank Kafka, com esses ambientes opressivos e personagens oníricas que passeiam, fazem coisas esdrúxulas, e a narrativa é entrecortada e caótica.
"Sobre héroes y tumbas" mistura fatos de um protagonista que perambula por uma Buenos Aires na ditadura que ais parece um grande cemitério, e a historia da corrida dos partidários de um herói da independência (Lavalle) convertido em inimigo por reviravoltas políticas, que é morto e seus partidários correm para levar o cadáver a ser sepultado no Chile para que o corpo não seja pego pelos seus inimigos políticos. Retrata também uma constante na Argentina: depois do cara virar herói, vira vilão e todos o desprezam.
Também formou parte da comissão de direitos humanos que escreveu "Nunca Más" reunindo os relatos e documentos sobre os abusos da ditadura na Argentina.
Osvaldo Soriano: além de um grande escritor, foi um jornalista famoso e quase fundador do jornalismo independente (foi parte de um jornal chamado "Primera Plana" e fundador, depois da ditadura, do "Página/12" que existe até hoje. Suas obras mais famosas retratam o início da ditadura : "No habrá más penas ni olvido" e "Cuarteles de invierno".
Adoro seus personagens, sempre gente simples do interior, 'perdedores', esquecidos, não heróis nem nada disso...
Um livro alegórico sobre a ditadura bem legal de ler é "De dioses, hombrecitos y policías", que mistura deuses gregos, um grupo de poetas, perseguidos pela polícia que acha que são malditos comunistas inimigos do povo e dos bons costumes e tal.