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O hipermercado místico das religiões Os habitantes quase sempre circunstanciais do Vaticano já vivem no paraíso. No paraíso fiscal. O padre jesuíta e cientista político americano Thomas Reese dá notícia de que, pelo menos até 1996, havia um supermercado, um posto de gasolina, uma loja de roupas e outra de equipamentos eletrônicos na pequena cidade-Estado de meio quilômetro quadrado. Como os produtos lá vendidos são livres dos impostos italianos, o pequeno complexo comercial, a priori restrito aos empregados do Vaticano e aos religiosos de Roma, tornou-se bastante popular."Todos em Roma parecem ter um amigo que compra coisas para eles no Vaticano", disse a Reese um funcionário que, por razões talvez menos espirituais, pediu para não ser identificado. Essa espécie em miniatura de Ciudad del Este para os romanos, um duty-free cravado no seio de onde se administra o catolicismo de 1 bilhão de terráqueos, de acordo com o jesuíta dos EUA é especialmente desejada para adquirir gasolina, bebidas alcoólicas e cigarros (produtos altamente taxados na Europa em geral e na Itália em particular).Alguns cardeais, como o americano Edmund Szoka, designado por João Paulo 2° para presidir a Comissão Pontifícia do Estado da Cidade do Vaticano (que cuida diretamente da gestão daquele pequeno país), achavam errada a venda de cigarros pelo Vaticano. Mas, até 1996 pelo menos, pregavam para o deserto: "O Vaticano está no centro da Itália, onde fumar muito ainda é bastante comum", comenta Reese, com dose detectável de acidez jesuíta. O comércio desses bens, ao que consta, dá lucro para o Vaticano.Não foi desse supermercado que o cardeal eleitor Geraldo Magella Agnello, presidente da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil, se lamentou em entrevista ao repórter da Agência Folha Luiz Francisco: "Vivemos em um mundo subjetivista e relativista, um mundo em que cada pessoa quer dizer como quer ser, até mesmo como quer ser católico. Então, essa pessoa toma a palavra de Deus, mas não é aquela palavra de Deus que deve ser igual para todos. Essa pessoa quer dizer o que aceita e o que não aceita, como se fosse um supermercado de religião, onde o 'cliente' escolhe o que quer".Ecos superficiais dessa conversa se fizeram ouvir na semana passada na flamante troca de farpas sobre a religiosidade do presidente Lula que envolveu os arcebispos de São Paulo, Cláudio Hummes, e do Rio, Eusébio Scheid. Lula não é "suficientemente católico", disse Scheid (absolutista?); é "católico a seu modo", disse Hummes (relativista?); é "um homem de muita fé", não tem mais tanto tempo de freqüentar a igreja, mas, quando vai, comunga, disse o próprio Lula.Foi apenas um incidente político-religioso menor, de dimensão nanométrica se comparado com a gravidade com que os principais teólogos católicos --alguns deles estarão presentes no conclave que se inicia no dia 18-- encaram a discussão sobre como administrar os temas espirituais num mundo que julgam cada vez mais individualista e materialista.A tese do hipermercado de religiões supõe a revalorização do elemento místico à religiosidade das pessoas, borrando o distanciamento clássico entre o humano e o divino. É forçoso concluir que esse "estabelecimento comercial" a um só tempo material e espiritual não tem sido abastecido apenas por fenômenos como o das seitas neopentecostais no Brasil. Também têm lá o seu "market-share" alguns movimentos católicos que foram valorizados durante o papado de João Paulo 2°, caso dos carismáticos, mas não só deles.Tampouco se trata de acontecimento restrito ao estrato dos fiéis, aos leigos. Esse processo tem sido acompanhado, do lado da doutrina emergente na cúpula da igreja, da revalorização de teólogos místicos do passado --caso de Bernardo de Claraval (1090-1153, santo desde 1174), o Doctor melifluus do medievo católico-- e da figura de Maria, que é a mãe de todo misticismo cristão, pois no seu ventre o divino e o humano se tornaram um só.Aos teólogos o que dos teólogos é. Que se entendam ou se desentendam sobre isso à vontade. De minha parte, queria mesmo é ter um amigo padre romano para descolar um computador novo na lojinha do Vaticano, que este aqui já deu o que tinha que dar. http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/ult2655u18.shtml
As religiões se unem em Jesusland A morte de João Paulo 2º, como se imaginava, foi transformada em um estrondoso acontecimento midiático. Milhares de imagens do Vaticano chegaram aos jornais e às TVs. Há poucas, contudo, com significado histórico tão relevante quanto as que registraram o atual presidente dos EUA, George W. Bush, e dois ex-presidentes do país, George Bush e Bill Clinton, ajoelhados diante do cadáver do papa.A foto que tenho em mãos, publicada na Folha de S.Paulo (7/4/2005, pág. Especial 7), traz ainda a secretária de Estado, Condoleeza Rice, e a mulher de Bush Jr., Laura, com um véu negro. Os três, além de Bush pai, olham, compenetrados, o corpo de João Paulo 2º, já vestido solenemente para o funeral. Clinton está de cabeça abaixada, como se rezasse. Ao fundo, cardeais e bispos, de pé.Creio que é a primeira vez na história que três presidentes americanos, todos eles de credos não-católicos, se postam assim diante de um papa, no Vaticano. George Bush é da igreja episcopal. Clinton é batista. E George W. Bush, batizado na episcopal, é um "born again" (renascido) na igreja metodista, a mesma de sua mulher.Por que os presidentes resolveram fazer tal reverência a João Paulo 2º e ao Vaticano, país com o qual os EUA só restabeleceram relações de fato em 1984 (era Reagan)? Por que George W. Bush foi o primeiro chefe de Estado a desembarcar no Vaticano para os funerais, ele que dirige um país onde os católicos não passam de 23% da população (no Brasil, eles chegam a ser cerca de 74%)?Há pelo menos dois motivos. Primeiramente, pela repercussão internacional do evento. O que vemos nesta imagem é o principal império político e econômico compartilhando do luto do maior império religioso, o catolicismo, com cerca de 1 bilhão de fiéis. O que vemos é o império americano reverenciando um dos papas mais amados da história e o líder religioso que, embora se opondo à invasão do Iraque, foi o parceiro fundamental dos EUA na derrubada do comunismo. A visita é portanto extremamente importante do ponto de vista do simbolismo político.No plano local, americano, a dimensão político-eleitoral da visita é o mais importante. O voto católico foi significativo para a reeleição de George W. Bush, em 2004. Quando concorreu pela primeira vez, em 2000, ele teve 47% do voto católico, contra 50% do democrata Al Gore.No ano passado, Bush levou 52% do voto católico, contra 47% do democrata John Kerry. Detalhe: Kerry é católico e ele poderia ter sido a oportunidade de os católicos elegerem o seu segundo presidente em toda a história americana. Em mais de 200 anos de democracia, o único católico americano que chegou à Casa Branca foi John F. Kennedy (1961-1963). O liberalismo de Kerry em causas como a do aborto e dos direitos dos homossexuais desagradou os católicos americanos, que antes votavam majoritariamente com os democratas. Desde o acontecimento trágico de 11 de Setembro, parte dos católicos americanos (dentre eles os numerosos latino-americanos), também entraram numa onda fundamentalista, como os seguidores de outras igrejas no país. Hoje, a pauta conservadora está fazendo convergir o catolicismo e as igrejas que outrora eram inimigas juradas do Vaticano."Caso Schiavo culmina aliança católicos-evangélicos" foi o título de uma reportagem do "New York Times", no último 24 de março. A reportagem ressaltava como católicos e evangélicos estão reunindo forças para defender a "cultura da vida", condenando a eutanásia, o aborto e a pesquisa com células-tronco."Agora, a aliança de evangélicos e católicos está entre as mais poderosas forças que moldam a política americana. No último ano, evangélicos conservadores comemoram quando uma penca de bispos católicos disseram que o senador John Kerry, o católico que era candidato presidencial democrata, não poderia receber a comunhão por sua posição a respeito do aborto. Bush cortejou votos evangélicos e católicos em 2004 e se beneficiou da mobilização", diz o "New York Times". "Evangélicos e católicos juntos" é o nome de um documento de 1994, redigido pelas igrejas. O esforço de aceitação entre elas e de coligação em determinadas causas remonta, portanto, à época do governo Clinton (1993-2001). O documento, que pouca atenção mereceu à época, ganha importância histórica cada vez maior, pois ajudou a romper com séculos de animosidade entre católicos e evangélicos. Desde o século 19, os Estados Unidos, não tinham embaixada no Vaticano, apenas representantes diplomáticos esporádicos. Quando o país estabeleceu uma embaixada no Vaticano, em 1984, várias religiões nos EUA protestaram, alegando que isto violava a Constituição americana, pois o Estado criava relação oficial com uma igreja, em detrimento de outras.Conta-se que a decisão de Reagan de reatar as relações com o Vaticano foi acompanhada de várias trocas de favores. Uma delas teria sido o pedido do presidente para que o Santo Padre condenasse a teologia da libertação na América Latina, em troca do apoio americano ao sindicato polonês anti-soviético Solidariedade. No século 17, o catolicismo se estabeleceu sobremaneira no Sul dos Estados Unidos. Com a onda de imigração do século 19, milhões de italianos e irlandeses engrossaram o número de católicos em toda parte no país. Foi este o período do pior e mais violento anticatolicismo nos EUA. Para os não-católicos, a hierarquia da Igreja e a relação dos fiéis com um Estado estrangeiro (Vaticano) era vista como um risco à democracia americana. Sem falar na animosidade histórica que havia por serem os americanos em sua maioria filhos da Reforma.Ainda hoje há campanhas americanas na internet contra os católicos e o Vaticano, que ganham força quando ocorrem escândalos como o dos padres pedófilos. Há editoras anticatólicas nos EUA, como a Chick Publications, que publicam sistematicamente livros, panfletos e até mesmo quadrinhos raivosos contra a igreja, como "Alberto", a história de um ex-padre.O anticatolicismo americano, porém, abrandou muito nas últimas décadas nos Estados Unidos. Em "Jesusland" (como chamaram a parte da nação americana que votou em Bush em 2004), igrejas cristãs estão muito mais preocupadas em superar divergências e se coligarem, mesmo com o judaísmo. Unidas, elas pensam ganhar força para enfrentar os novos anticristos, que são o fundamentalismo islâmico, inimigo nem sempre explicitado, e, sobretudo, o "individualismo hipermoderno" (na definição da revista "Christianity Today"), com seu desprezo pelos fundamentos religiosos. http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/ult682u121.shtml
Empregados do Vaticano podem ficar sem receber gratificaçõesda France Presse, no VaticanoOs empregados do Vaticano devem receber uma gratificação após a morte do papa, conforme uma antiga tradição, mas este prêmio lhes foi negado em 1978 com a morte de João Paulo 1º.Um dos motivos para o não-pagamento desta tradicional gratificação neste momento são as finanças do Vaticano, que atualmente se encontram no vermelho.A decisão de conceder a gratificação cabe ao camerlengo, o cardeal espanhol Eduardo Martínez Somalo, encarregado de administrar os bens do Vaticano desde a morte de João Paulo 2º e até a eleição de seu sucessor.Contudo, até agora nenhum anúncio sobre o tema foi realizado até esta terça-feira, após a oitava reunião dos cardeais encarregados de preparar a eleição do novo papa.Depois da morte de João Paulo 1º, no dia 28 de setembro de 1978, com somente 33 dias de pontificado, o camerlengo --que naquela época era o cardeal francês Jean Villot-- se opôs ao pagamento desta gratificação cuja quantidade equivale a um mês de salário.É provável que desta vez a gratificação seja esquecida, devido ao péssimo estado das finanças do Vaticano --problema que se arrasta há vários anos.Em 2003, a Santa Sé registrou um déficit de 9,57 milhões de euros (R$ 32 milhões, aproximadamente), anunciou em junho de 2004 o cardeal Sérgio Sebastiani, o ministro das Finanças do papa. Em 2002, esta cifra ficou em 13,5 milhões de euros (R$ 45 milhões, aproximadamente)."A Santa Sé gastou 213,22 milhões de euros (R$ 711,4 milhões, aproximadamente) e recebeu em seus cofres 203,66 milhões de euros (RS 679,5, aproximadamente), disse o cardeal Sebastiani.As finanças de Estado da Cidade do Vaticano, uma administração distinta, estavam igualmente sob números vermelhos, com um déficit de 8,82 milhões de euros (29,4 milhões, aproximadamente), em 2003.Uma parte destas perdas foi justificada por uma doação de 10,5 milhões de euros (R$ 35 milhões, aproximadamente) para cobrir as dívidas da Rádio Vaticano, explicou o cardeal Sebastiani.
Ecos superficiais dessa conversa se fizeram ouvir na semana passada na flamante troca de farpas sobre a religiosidade do presidente Lula que envolveu os arcebispos de São Paulo, Cláudio Hummes, e do Rio, Eusébio Scheid. Lula não é "suficientemente católico", disse Scheid (absolutista?); é "católico a seu modo", disse Hummes (relativista?); é "um homem de muita fé", não tem mais tanto tempo de freqüentar a igreja, mas, quando vai, comunga, disse o próprio Lula.