RNA atua na transmissão genética
O DNA sempre foi o astro solo no espetáculo da hereditariedade. Ao primo pobre, o RNA, cabia apenas o trabalho de montar proteínas seguindo o código ditado pelo protagonista. Essa crença foi seriamente abalada pela descoberta de que o RNA também pode transmitir características às novas gerações.
O fenômeno já havia sido observado há 50 anos, quando cientistas tentavam controlar fatores ligados à hereditariedade da cor violeta de certas sementes. Segundo as leis da genética, era esperado que essa característica fosse eliminada nas gerações futuras, mas isso não aconteceu na prática. O fenômeno, conhecido como paramutação, ficou sem explicação.
Resultados parecidos foram encontrados recentemente por uma equipe de cientistas liderada por Minoo Rassoulzadegan, da Universidade de Nice, França. Eles já sabiam que uma determinada mutação do gene Kit produzia manchas brancas nas patas e cauda de camundongos de pelagem marrom. O experimento consistiu em acasalar animais heterozigotos, isto é, que possuíam uma cópia normal e outra defeituosa do gene. Era esperado que os filhotes que herdassem as duas cópias normais não exibissem mais as pintas brancas. Mas para surpresa geral, elas foram observadas em boa parte da prole.
Tentando explicar o fenômeno, os cientistas encontraram, nos camundongos mutantes, alguns fragmentos de RNA regular intercalados em grandes porções de RNA mensageiro - algo incomum. Além disso, também detectaram RNA no esperma do camundongo. Quando injetado em embriões, esse esperma produziu pintas brancas na pelagem de 50% dos descendentes. Alguns indivíduos do grupo controle também nasceram com as manchas, mas elas raramente foram transmitidas às gerações seguintes.
Como o RNA consegue transmitir características à progênie na ausência do gene responsável pelas mesmas nos progenitores permanece um mistério. Os achados desafiam a compreensão atual sobre herança genética. "É particularmente interessante a possibilidade de o RNA regular aspectos não-genéticos da hereditariedade, como características metabólicas e comportamentais", destaca Paul Soloway, da Universidade Cornell, em comentário que acompanha o artigo publicado na revista Nature de 25 de maio de 2006.
Fonte:
SCIAM Brasil - junho
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