Como um Deus bondoso, de paz, pode permitir e apoiar a guerra (1Cr 5.22), dar instruções sobre como ela deve ser travada (Dt 20) e ser aclamado pelo seu povo como o “SENHOR é guerreiro” (Êx 15.3)?
O elemento-chave em 1 Crônicas 5.22 (que nos fala das conquistas das tribos de Rúben, Gade e Manassés sobre os povos pagãos da Trans-jordânia) é o seguinte: “E muitos foram inimigos mortos, pois a batalha era de Deus”.
Certas suposições sublinham essa pergunta, as quais requerem exame cuidadoso quanto à sua justeza. Não fazer qualquer oposição ao mal é, realmente, manifestação de bondade?
Podemos dizer que um cirurgião não deve cortar e jogar fora o tecido canceroso de seu paciente, e sim deixá-lo sofrer até morrer? Podemos elogiar um destacamento policial que repousa preguiçosamente e nenhuma resistência opõe ao ladrão armado, ao seqüestrador, ao incendiário ou a qualquer outro tipo de criminoso que espreita a sociedade?
Como poderia Deus ser chamado de “bondoso” se ele proibisse seu povo de proteger as esposas contra o rapto e estrangulamento da parte de bandidos bêbados ou de resistir aos invasores que viessem roubar seus filhos e matá-los cruelmente?
Nenhum procedimento legal daria maior liberdade à perversidade e ao crime que a desistência do direito de defesa da parte dos cidadãos honestos e cumpridores de seus deveres. Não existe um modo mais eficaz de promover a causa de Satanás e os poderes do inferno que privar as pessoas honestas e que guardam a lei, de seus direitos de autodefesa. É difícil imaginar uma Divindade a que se poderia chamar “bondosa”, se sua política de combate ao crime se resumisse à total entrega ao mal, sob a alegação de pacifismo.
Toda possibilidade de se ter uma sociedade bem organizada se desfaria caso fosse abolido todo tipo de força policial. Nenhuma nação poderia conservar sua liberdade nem preservar a vida de seus cidadãos se lhe fosse impedido manter qualquer tipo de força armada que a defendesse.
Portanto, é necessário que o “bom Deus” inclua o direito de autodefesa como prerrogativa do povo. Deus de modo algum seria bom se entregasse o mundo à crueldade desenfreada perpetrada por criminosos sanguinários ou à livre agressão de exércitos inimigos.
A política sadia, apropriada e responsável da autodefesa não só é ensinada nas Escrituras, do Gênesis ao Apocalipse, como também há exemplos em que Deus ordena a seu povo que exerça o julgamento sobre nações pagãs corruptas, degeneradas, e até mesmo a extinção total de cidades como Jericó (cf. o artigo “Teria Josué justificativa para o exterminio da população de Jericó?” em conexão com Josué 6.21).
As leis de guerra estabelecidas em Deuteronômio 20 representavam o controle da justiça, da retidão e da bondade no uso da espada e, por isso, representavam verdadeiramente a vontade de Deus. Algumas condições especiais foram definidas como motivo justo para que alguns soldados fossem dispensados do serviço militar até que tais empecilhos desaparecessem (Dt 20.5-7).
Até mesmo os que não pudessem apresentar tais desculpas, mas tinham medo e não queriam lutar, tinham permissão de ir embora (v. 8). Diferentemente dos exércitos pagãos, que podiam atacar uma cidade sem primeiro dar-lhe a oportunidade de entregar-se condicionalmente (cf. 1Sm 11.2,3; 30.1,2), os exércitos de Israel concediam ao inimigo a chance de entregar-se sem derramamento de sangue e aceitar a vassalagem aos hebreus antes que se procedesse ao cerco e à conseqüente destruição. Ainda assim, as mulheres e crianças eram poupadas, e seus captores tinham o dever de cuidar delas (Dt 20.14). Só no caso dos habitantes de Canaã, a Terra Prometida, que eram degenerados e depravados, deveria haver destruição total; desobedecer a tais ordens com toda certeza traria a corrupção moral e espiritual e a quebra dos padrões da sociedade israelita, de acordo com os versículos de 16 a 18. (Essa influência corruptora tornar-se-ia aparente mais tarde, no período dos juízes [Jz 2.2,3,11-15]).
Nos tempos do NT, a convocação de um soldado era considerada uma honra, quando exercida com responsabilidade. (Mt 8.5; Lc 3.14; At 10.1-6, 34,35). Paulo chega a fazer uma analogia entre o serviço militar e o compromisso cristão (2Tm 2.4), sem apresentar a mínima restrição àquela atividade. A descrição que ele estabelece, em Efésios 6.11-17, da armadura espiritual que o guerreiro de Cristo deve usar quando a serviço de seu Senhor segue o mesmo princípio. Parece que não existe a mínima base nas Escrituras, seja no AT, seja no NT, para o conceito de um Deus “bom” que exige pacifismo incondicional da parte de seus seguidores.
(Para um estudo mais profundo acerca das evidências bíblicas sobre desse ponto, v. G. L. Archer: “Teria o pacifismo alguma base bíblica?” The Evangelical Beacon, 28 de dezembro de 1971: 4-6.)
Bye
Gênesis