Tente
http://luisdantas.zip.net/arch2005-08-01_2005-08-31.html ou veja abaixo:
05/08/2005
A falácia do espantalho e a violência dos videogames
O
episódio de hoje de "O Toque de um Anjo" é um dos mais destrutivos que já vi. Trata de um julgamento sobre o futuro de um jovem que atropelou uma moça, supostamente porque foi condicionado pela violência de um videogame ("Carjack 2000").
O fato de que nesse julgamento a juíza é Tess, a suposta anjo-chefe, e o advogado de defesa é um de seus melhores amigos, um anjo da morte, começa a mostrar o quanto esse episódio é incestuoso, desonesto e amedrontado ao lidar com situações do mundo real.
O episódio inteiro é uma gigantesca e preocupante Falácia do Espantalho (
http://www.ateusbrasil.hpg.ig.com.br/folhas/textos/falacias.htm#Espantalho). O jogo em questão é caricato, a ponto de ser difícil de relacionar com os que realmente existem - principalmente quando se mostra que contém níveis secretos que prometem a proteção da Irmandade, representada por um personagem virtual com robe preto, olhos vermelhos brilhantes e com o rosto oculto em sobras. Só pode ser coisa do Demo mesmo. Ou mais provavelmente, de roteiristas que não tem a mínima idéia do que um videogame é ou para que serve. Uma das testemunhas do julgamento chega a dizer que os jovens "não se importam" com certo ou errado.
No fim, Tess decreta que a solução maravilhosa é simplesmente "dizer não", proibir videogames com cenas de violência.
Que falta de noção mais destrutiva. Será que é tão difícil assim perceber que a vontade de jogar videogames por "dias seguidos" (segundo o episódio) mostra um problema com o resto do repertório social dos jovens, e não com os videogames em si? Eu jogo videogames. São ambientes de poucos detalhes, nada realistas, completamente previsíveis. Ninguém veria muita graça neles se não sentisse falta de segurança, controle sobre a própria vida ou emoções fortes. Eles não são o problema, não são sequer parte do problema ou da causa do problema. São um paliativo, uma solução temporária e imperfeita para a frustração e falta de comunhão nas vidas dos jovens. Querer proibi-los é exigir que encontrem outras formas de lidar com as frustrações e inseguranças. Na prática, isso quase sempre significa mostrar aos jovens que eles devem confiar ainda menos nos outros (que não conseguem sequer aceitar passatempos inofensivos), ser ainda menos preocupados com as consequências do que fazem (já que serão incompreendidos de qualquer jeito) e se virar por contra própria e manter mais segredos (já que quando se mostram como são causam mágoa e insegurança nos outros).
E aí é que os verdadeiros problemas começam.