http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2006/06/060613_criancasetiopiacg.shtmlCrianças etíopes transformam esgoto em casa
Número de crianças que vivem nos esgotos é estimado em até 150 mil
Milhares de pessoas passam pelas ruas movimentadas de Adis-Abeba, a capital da Etópia, todos os dias, sem se dar conta de que embaixo delas, entre túneis e canos de esgoto, vive um número estimado entre 60 mil e 150 mil crianças.
As principais razões que levam as crianças ao submundo de Adis-Abeba são, em parte, as mesmas que afetam as crianças de rua brasileiras, pobreza e fome, mais os conflitos civis e a seca que atinge as áreas rurais do país africano. Muitas vezes elas são órfãs ou deixam para trás pais negligentes ou violentos.
Várias crianças com quem os repórteres da BBC conversaram querem permanecer invisíveis. É o caso de Mohammed e seus amigos, que vivem em um bueiro que fica na frente do principal posto de correio da cidade, sem ser notados.
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O espaço não tem mais de meio metro de altura e, embora tenha cinco a seis metros de comprimento, apenas uma pequena porção fica exposta.
Como as crianças de rua brasileiras, as etíopes crescem no meio do trânsito de Adis-Abeba e aprendem a se virar muito cedo, ganhando a vida pedindo dinheiro nas ruas ou vendendo pequenas coisas nos semáforos.
Meninas
Embora estejam em minoria, as meninas também estão representadas no submundo da capital da Etiópia.
Hana, de 15 anos, saiu de casa temendo a ira do pai, depois de ter deixado gado da família fugir. Ela diz que pretende voltar um dia, mas por enquanto acha que está bem.
"Aqui você não tem muito com o que se preocupar. Se você tiver alguma coisa para comer, está bom. Se não há nada, você passa o tempo dormindo ou conversando com os amigos."
As crianças estão sempre se mudando, fugindo da polícia, de abusos por outros moradores de rua ou da água que ameaça os seus abrigos temporários.
Um repórter da BBC decidiu dar para Dawit, de 12 anos, uma pulseira ao perceber que o menino olhava encantando para ela. No dia seguinte, desanimado, ele contou que lhe haviam roubado o presente.
"Enquanto dormia, agarraram meu pescoço começaram a me sufocar. Eles disseram: 'Me dê isso ou eu tiro a sua vida'. Então eu dei."