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Quinta-feira, 14 de abril de 2005 02h28"Nordeste terceiriza crime de extermínio", diz deputadoLUIZ FRANCISCOda Agência Folha, em SalvadorUma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) instaurada pela Câmara para apurar a "ação de grupos de extermínio e milícias privadas no Nordeste" revela a existência de 250 pistoleiros na região, segundo informações do relator Luiz Couto (PT-PB), 60.Apesar do grande número de envolvidos no crime, o relatório do parlamentar paraibano ainda não foi votado pela Câmara, mais de oito meses depois de o texto ter sido entregue ao deputado João Bosco Costa (PSDB-SE), presidente da CPI."Os parlamentares não têm vontade de votar porque muitas pessoas envolvidas nos crimes dão proteção para autoridades", disse Couto.De acordo com o deputado, a CPI apurou também que, entre 2001 e 2002, nos nove Estados da região, foram assassinadas 1.035 pessoas."Nós descobrimos que existe a terceirização do crime no Nordeste. Quando um grupo está com muita gente na 'fila' para matar, as novas encomendas são sublocadas", disse o deputado.Integrante da CPI, o deputado Luiz Alberto (PT-BA), 52, disse que os trabalhos foram boicotados por "políticos conservadores". "Ficou provado no relatório que existe uma relação muito grande entre os grupos de extermínio e políticos de algumas cidades. Ou seja, para se manter no poder, os políticos se aliam a matadores profissionais."Para Luiz Alberto, o fato de o relatório não ter sido votado ainda estimula a impunidade. "Quem mata e quem manda matar têm a impressão que o crime não vai dar em nada e tudo fica por isso mesmo."Luiz Couto disse também que o seu relatório aponta uma "escola para a formação de pistoleiros" em uma cidade do Ceará. "Lá, meninos de 13 anos já estão dando os primeiros passos no crime, aprendendo a manejar armas e a enfrentar situações de extremo perigo, como o confronto com policiais."O deputado não revelou o nome da cidade porque o relatório ainda não foi votado. Couto disse também que um pistoleiro, já falecido, deu depoimento à CPI informando a existência de uma fazenda no interior de Pernambuco onde também acontecem os primeiros passos do crime organizado.A primeira proposta feita pelo deputado paraibano para apurar os crimes de extermínio no Nordeste aconteceu em março de 2003. "O texto ficou na gaveta porque poucos parlamentares deram apoio à iniciativa."Segundo Luiz Couto, somente depois que a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) apoiaram publicamente a instalação da CPI é que a Câmara resolveu investigar as denúncias, no dia 24 de setembro de 2003."A gente fica chocado quando observa uma chacina como a que aconteceu no Rio de Janeiro, há quase duas semanas. No entanto, damos pouca importância quando uma ou duas pessoas morrem assassinadas. Somente nos três primeiros meses deste ano, na Paraíba, quase 40 pessoas foram mortas por integrantes de grupos de extermínio, e ninguém fala nada."O relatório não foi votado porque não houve quórum --apenas 12 deputados foram favoráveis à iniciativa. O número mínimo de parlamentares para colocar o relatório em votação nessa CPI é 13."Vou pedir novamente a prorrogação por mais 60 dias da CPI. Mas, do jeito que as coisas estão caminhando, acho que estou perdendo tempo, porque os deputados já deram demonstrações de que não querem votar nada relacionado ao crime de extermínio", disse Couto.