Wildes decide entregar o poder da cidade para Jesus, mesmo achando que Sobrinho vai bemMesmo fazendo uma avaliação positiva da administração do petista Roberto Sobrinho, o vereador José Wildes, também do PT, acabou apresentando na Câmara Municipal um projeto de lei garantido a Jesus Cristo o poder da cidade de Porto Velho.Vereador tem dessas coisas. Depois de avaliar positivamente o prefeito Roberto Sobrinho, numa longa entrevista a Imprensa Popular, o vereador petista, José Wildes, acabou motivando uma grande polêmica na Câmara Municipal com a apresentação de um projeto de lei transformando Jesus Cristo no novo mandatário da cidade. Com a iniciativa do vereador petista Cristo passou a ser o único “senhor de Porto Velho” e também “o único salvador” da cidade.
Antes de apresentar o projeto de lei – aprovado pela maioria da edilidade – o vereador tinha concedido uma entrevista aonde avaliava a administração do prefeito Roberto Sobrinho com muito entusiasmo. Quando falou com o repórter de Imprensa Popular, José Wildes não deu nenhuma demonstração que pretendia colocar o prefeito num plano inferior, transformando Jesus no único “Senhor” do município. As circunstâncias em que isso aconteceu ainda são nebulosas, Não se sabe se o vereador teve algum tipo de “revelação”, algum “transe espiritual” ou apenas viu em sua iniciativa uma maneira demagógica de fazer média com o segmento religioso cristão de Porto Velho.
CAMINHANDO BEM
Ressaltando “a falta de experiência administrativa” do atual prefeito, o vereador decretou com seu ar de sindicalista que Roberto Sobrinho está caminhando bem “como uma experiência nova” de administrar. Para ele não se pode avaliar o prefeito atual sem levar em consideração “os problemas estruturais, acumulados ao longo das administrações passadas” que Sobrinho recebeu como herança.
Mesmo avaliando positivamente esses nove meses da administração petista, Wildes declarou que “ninguém pode imaginar o prefeito como um redentor” e por isso, acrescentou, “no caso de algumas secretarias ainda somos merecedores de uma avaliação ruim”. O vereador preferiu não nominar estas secretarias.
Talvez esteja ai, nestas afirmações, a justificativa para o inusitado projeto de lei do vereador – aprovado pela Câmara Municipal – transformando Jesus Cristo no “Senhor” da cidade. Afinal, sendo legalmente o “Senhor”, muitas das reclamações dos munícipes deverão ser dirigidas diretamente àquele que passa a ser “o Poder” da cidade. Isto poderia aliviar não só o prefeito como o próprio vereador das eventuais insatisfações do público.
REFÉM DO ORÇAMENTO
José Wildes que muita coisa mudou positivamente na administração da capital. Ele destaca entre os setores que melhorou sensivelmente a Saúde. Para o vereador o ganho de qualidade na saúde pode ser percebido, por exemplo, pelo SAMU, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgências, que hoje opera com cinco ambulâncias totalmente equipadas.
Para o vereador, outro destaque da administração é a área da Educação. A administração de Roberto Sobrinho permitiu que três mil crianças que estavam fora da sala de aula estejam estudando hoje. Também na questão da recuperação urbana o vereador fez questão de frisar: “o atendimento nos bairros carentes está acontecendo todos os dias. Ruas onde nunca tinham entrado máquinas da prefeitura estão sendo recuperadas, preparadas para enfrentar o inverno em condições de tráfego. São trabalhos básicos, mas já estão fazendo a diferença das administrações anteriores”, enfatizou.
Mesmo empolgado com o trabalho que vem sendo realizado pelo prefeito, Wildes entende que “as pessoas que reclamam do prefeito estão cobertas de razão”, porque Roberto Sobrinho corporifica “muitas expectativas”. Ele acha necessário explicar ao povo a difícil situação desse primeiro ano de governo petista:
— É preciso compreender que o prefeito é refém do orçamento que foi elaborado pelo prefeito anterior. Só no próximo ano Roberto Sobrinho governará com o orçamento elaborado por sua equipe. A cidade de Porto Velho é de uma complexidade muito grande, porque cresceu e cresce de forma desordenada, com muitas ocupações exigindo que a prefeitura chegue com infra-estrutura e equipamentos urbanos fundamentais. É claro que não tem jeito de resolver tantos problemas como num passe de mágica.
Possivelmente seja esta visão realista que levou o vereador a elaborar o tal projeto de entregar a Jesus Cristo parcela do poder portovelhense. O vereador deve acreditar que transformado, por lei, no grande “Senhor” da cidade, estes problemas de difícil solução passem a ter um encaminhamento divino e uma parceria onde não faltará a contribuição de anjos e outros entes do Paraíso.
MAGIA NO CENTRO
A idéia de Wildes com o tal projeto de lei deixou outros dois vereadores imediatamente encantados com a importância da propositura. Valter Araújo (PP) e Ted Wilson (PFL) – tradicionais opositores do prefeito – trataram logo de assinarem o projeto, tornando-se co-autores da idéia. Mesmo que tenham embarcado “nessa proposta revolucionária”, imaginando que foi para isso que o povo da cidade resolveu elegê-los, certamente os outros dois vereadores – ligados aos esquemas eleitorais de fortes igrejas evangélicas – tiveram outras motivações.
Os dois opositores devem acreditar que com a lei transformando Jesus Cristo no “Senhor” de Porto Velho conseguirão uma maior abertura no paço municipal.
Quem sabe não estejam pensando em arrebanhar o próprio prefeito para suas confissões denominacionais.
No caso de Wildes, autor de um recente pronunciamento sobre o projeto de revitalização do centro da cidade lançado pelo prefeito, pode ser a esperança de conseguir os milhões necessários para que tudo saia do papel e se transforme em realidade. O vereador deve acreditar piamente que Furnas não vai regatear dinheiro para a transformação da Praça das Caixas D’Água se o “Senhor” tocar no coração de sua diretoria.
Agora que legalmente Jesus Cristo – por iniciativa do vereador petista – passa a ser “o Senhor da Cidade”, certamente não só será feito o complexo da estação aquaviária da Madeira-Mamoré, projeto que substituirá o do “Complexo Turístico Beira Rio” paralisado por ordem Judicial em virtude de irregularidades praticadas pela administração anterior; mas também a recuperação das praças centrais e a construção do shopping popular, substituindo a feira da muamba com suas barracas de lona e plástico. Quem resistirá um pedido do “Senhor da Cidade” para contribuir com os milhões necessários para que tudo isso seja uma realidade?
INVENÇÃO NÃO É DE WILDES
O projeto de lei apresentado pelo vereador José Wildes e aprovado pela maioria dos vereadores (quem seria maluco de votar contra e arrumar uma bela encrenca com estes evangélicos fundamentalistas???) não é um absurdo inventado por ele. O ex-prefeito de Guajará-Mirim, Cláudio Pillon, foi o pioneiro desse tipo de iniciativa, quando por decreto, transformou Jesus no chefe supremo da administração da Pérola do Mamoré.
O duro é saber que esses absurdos nasçam com o empenho de legisladores pagos com o dinheiro do povo. José Wildes não elaborou o tal projeto por mediocridade. Iniciativas dessa natureza apenas reforçam a idéia da absoluta inutilidade dos legislativos municipais. Até parece que não há Porto Velho problemas realmente sérios que deveriam chamar a atenção dos vereadores para a criação de leis mais compatíveis com a necessidade real da vida do povo.
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