Arqueólogos do Iepa (Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá) dizem ter identificado um observatório astronômico pré-histórico no município de Calçoene, a 390 quilômetros da capital do Estado amazônico.
Ao que parece, pode ser o maior observatório astronômico do Brasil antes da chegada dos portugueses no país. Uma análise inicial das cerâmicas encontradas nas proximidades dos monólitos indicam que a idade do sítio pode chegar a 2000 anos, mas muitos estudiosos acham precipitado fazer uma datação sem que antes se faça escavações sistematizadas.
O local é formado por 127 blocos de granito, distribuídos em intervalos regulares, no interior de uma clareira. A arqueóloga Mariana Petry Cabral, da equipe, supõe que já existisse uma sociedade organizada nessa época.
"Trata-se de uma estrutura muito bonita, no alto de uma colina", conta ela. "Quando passamos a examiná-la, percebemos uma inclinação que poderia estar associada ao solstício de inverno e decidimos verificar isso".
Eles tiraram a prova (no hemisfério Norte, onde está o Amapá, a data costuma corresponder ao dia 22 de dezembro) e dizem ter verificado que uma das pedras realmente parece estar exatamente alinhada com o Sol no solstício de inverno. Nesse dia, quando o astro alcança sua posição mais alta no céu (o chamado zênite), ele apareceria logo acima da pedra, de forma que ela não lança sombra nenhuma no chão.
Já o especialista em arqueoastronomia Germano Afonso, da Universidade Federal do Paraná, não concorda com a hipótese, levantada por Cabral, de que apenas uma sociedade complexa poderia ter montado a estrutura.
"Não é preciso uma organização social mais elaborada do que a da maioria dos índios da época do Descobrimento para isso", afirma. Segundo ele, o conhecimento astronômico vem da observação da natureza, e qualquer grupo caçador-coletor tem isso.
Outro exemplo desse tipo de estrutura no Brasil fica em Monte Alto, no interior da Bahia, a 500 km de Salvador. São 260 blocos rochosos (há indícios de que existiram mais), agrupados a uma distância de cerca de 3 m uns dos outros, no formato de um semicírculo de aproximadamente 1 km de extensão. A sua existência foi anunciada pela primeira vez numa publicação científica brasileira em 1922, mas não despertou interesse nos centros de pesquisa arqueológica.
Em 1971 o historiador Luís Galdino resolveu ver de perto a notícia dada 50 anos antes. Encontrou o círculo lá, tal como anunciado. "Descobri também as ruínas de uma construção que diferem de tudo o que se conhece do período colonial. Acho que é obra indígena", diz. Primeiro, Galdino aventou a possibilidade de que o alinhamento se destinasse a rituais de fertilidade. Em 1996 a arqueóloga Maria Beltrão, do Museu Nacional, foi a Monte Alto acompanhada por dois pesquisadores com formação astronômica. O estudo revelou que o alinhamento tem cerca de 4 mil anos e que reproduz a disposição das estrelas entre o Grande quadrado de Pégaso e as Plêiades, numa certa data do ano. Sua função seria marcar a passagem do ano, com cada bloco de pedra sinalizando a passagem de um dia.