Camus,
Como o tópico pede opinião, eu penso que talvez tenhamos mais fé na "idéia" de que razão humana pode entender o mundo que realmente na própria razão. Acredito que em algum momento todo mundo seja ateu, crente, agnóstico e cético, com predomínio para uma uma mais dessas coisas na maior parte do tempo.
Mesmo o mais crente dos homens perde sua fé de vez em quando, embora não admita, assim como o ateu as vezes precisa se agarrar a suas próprias necessiades. Uma vezes duvidamos de tudo e em outras tudo parace fazer sentido.
Quem dera conseguíssemos ser apenas razão, por pelo menos um instante, mas também somos emoção. Não podemos guardar uma na gaveta enquanto utilizamos a outra. Elas existem paralelamente, influenciando no resultado final das coisas.
Talvez a imparcialidade seja uma de nossas muitas utopias. Pois é muito fácil ser imparcial quando a questão não envolve diretamente o que nos interessa. Somos apaixonados pelo que pensamos, pelo que acreditamos - como se disso dependesse nossa própria vida. É quase um instinto.
As vezes, chego a acreditar que não é o homem quem escolhe entre o teísmo e o ateísmo ou o ceticismo, mas que é escolhido, por suas próprias inclinações e necessiades. Talvez, não consigamos lutar contra o que realmente somos.
Por que, com tanta evidência contrária, o religioso alimenta tanto apego pelo que acredita? Será que ele escolheu racionalmente acreditar nisso, por uma questão de teimosia ou será que simplesmente não consegue lutar contra o que acredita?
Seria influência do meio, herança genética ou algo inato, estabelecido aleatoreamente? Será que o raciocínio, a emoção ou a própria constituição física do cérebro não propicie nossas inclinações?
Conhecemos homens extremamente racionais, capazes de elaborar "teorias" que atravessam séculos, mas que estranhamente, alimentam uma fé inabalável. A história da Ciência está cheia desses exemplos. Por que, esses gênios, dotados de uma capacidade e conhecimentos tão acima da média não puderam se livrar de preceitos que muitos de nós consideram arcaicos e infantis?
Talvez isso comprove que a razão não está acima da emoção, nem abaixo, mas ao lado, determinado o que somos e no que acreditamos. Talvez isso varie de pessoa para pessoa. E nesse caso a emoção poderia ser um fator tão decisivo na inteligência tanto quanto a razão.
Mesmo sobre as coisas mais simples e banais sobre as quais pouco o nada pensamos, penso que o que sabemos é muito pouco perto do que ignoramos. Gostamos de acreditar que as coisas são dessa ou daquela maneira, principalmente na defesa do que acreditamos, mas as coisas são como são, independente do que desejamos que elas sejam. E muito poucos têm consciência disso!
Muitos céticos, ateus e agnósticos são racionais e conseguem exercer uma certa impacialidade, mas a maioria esmagadora do homens, independente do que acreditam ser são apenas apaixonados pelo que acreditam e estão cegos por essa paixão. Como existem religiosos que conseguem, às vezes, ser muito mais ponderados.
Sinceramente, somos semelhantes, mas não iguais. Cada um é único e tem sua própria fórmula. Falar sobre céticos, crentes, ateus ou agnósticos, tentando generalizar formas de pensar, que na verdade são tão individuais, mesmo dentro de uma corrente própria não responde suas perguntas. Cada um só pode falar por si mesmo, pois as próprias regras de conduta dentro de cada corrente abre uma imensa margem a interpretações.