Mimi, eu amo você, juro. Um dia eu vou ser especialista de verdade. Por enquanto só são pitacos mais ou menos embasados.
Não dá pra transpor a idéia do "ética protestante" assim sem mais nem menos; uma das coisas que o Weber fazia e fazia bem era teorizar a partir do real - isso pode parecer óbvio, mais muito sociólogo esquece que existe o mundo.
Grosso modo, a idéia em questão é o que escreveu o Leafar. A pessoa crê que Deus já escolheu antecipadamente quem vai viver eternamente ou só viver esta vida, e um dos indicativos de ela ter sido escolhida por Deus é a prosperidade material no mundo (este aqui); pra ela obter prosperidade material no mundo ela precisa trabalhar muito e gastar com PARCIMÔNIA. Como dizia meu professor "ele não bebe, não fuma, não fode, ele tem que ter saúde e acordar cedo e trabalhaaaar". Isso cria uma "ética do trabalho"; o cara vive pra trabalhar, não gasta o dinheiro dele com coisas desnecessárias, e junta dinheiro e investe dinheiro NON-STOP. Aí dá no que deu.
Vcs vejam que nós não estamos mais na época da Reforma e daquilo que se convencionou chamar de capitalismo mercantil; a gente está em um pedaço de terra que começou a existir como periferia desse capitalismo aí, que foi dado e dividido e gerido por estados católicos. Apesar da influência da Inglaterra e dos EUA, nós não recebemos pressões de cunho religioso; mesmo no caso mais radical de presença protestante aqui, que é o caso dos holandeses em pernambuco, tudo indica que o clima então imposto era de diversidade religiosa.
Tem mais coisas, mas acho que só por isso já dá pra indicar que são situações diferentes.
Dito tudo isso, eu realmente acho que não tem nada a ver as seitas neopentecostais de hoje, e qualquer que seja o conteúdo da pregação delas, com o famigerado way of life calvinista.
É mais uma questão de senso comum. SE a gente só consegue dar de comer aos nossos filhos se ganhar dinheiro, e se só se ganha dinheiro seguro trabalhando, então não tem muito o que fazer. A matéria mesma indica que os próprios pastores estavam vendo que exorcizar os exus não dava em nada, e uma hora as pessoas iam descobrir a pilantragem, então mudaram de método.
Não tem a ver com salvação nem com vida eterna - o que é a motivação principal dos calvinistas de antes; tem a ver com sair do serasa e spc e pagar a conta de luz mesmo.
Quanto à diferença entre os EUA e nós, faço minhas as palavras do Gabriel; eles podem ser tão caretas quanto quiserem. Literalmente. Democracia, federalismo e direitos civis são coisas que, se não existem de maneira ideal, pelo menos mobilizam a opinião pública por lá.
Spock: e quem cria o estado laico que permite tais liberdades, deus?!?!?! Óbvio que são os próprios protestantes. Você sabe que as grandes universidades e institutos de pequisa e museus americanos foram criados por eles, financiados por eles, que a ciência moderna que a gente tanto louva vem de lá. Talvez mais em decorrência da lembrança da perseguição religiosa e da caretíssima Inglaterra do que por dogma próprio, mas enfim.
Ser religioso não é necessariamente ser obscurantista.
(talvez mais depois)