Eu não posso dizer "eu não tenho certeza de nada" porque aí eu teria certeza de que não tenho certeza, o que se não é um paradoxo, com alguma fração significativa de certeza é uma estranheza considerável. Embananações e acoxambrações à parte, o pouco que entendi do que meu professor de Física Moderna falava entre um cochilo meu e outro é que não se pode ter muita certeza das coisas, afinal, delta xis vezes delta pê deve ser maior ou igual a agá cortado sobre dois, que é uma inequaçãozinha que Heisenberg inventou para convencer uns figurões a lhe darem o prêmio Nobel da Física e alguns trocados. O mundo se comporta de forma probabilística, portanto, mesmo que eu me jogue do alto do Empire State Building existe uma chance pentelhesimal, mas não nula, de todas as partículas do meu corpo tunelarem o chão e eu aparecer são e salvo dentro de uma convenção de trekkers em Hyderabad alguns instantes depois. A coisa mais legal sobre o princípio da incerteza, aliás, é que ele é uma inequação, portant você não tem certeza nem do tamanho da sua incerteza

Empulhações e descompreensões da Física à parte, como eu posso ter certeza de algo? O mundo que conheço é o mundo que os meus sentidos me apresentam. Eu amo muito dos meus sentidos, sei que eles nunca mentiriam para mim, mas embora eu tenha prometido amá-los e respeitá-los na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença até que a morte me desprovenha de toda e qualquer possibilidade de contato sensorial com o mundo externo a minha personalidade bem como às ferramentas psíquicas de manipulação do mundo interno também, é preciso abrir o olho para não encontrá-los na cama com o Ricardão. Na verdade, às vezes nossos sentidos, por construírem nosso senso comum só atrapalham; a dificuldade que temos de aceitar a Mecânica Quântica e seus conceitos de dualidade onda partícula, por exemplo, vem daí. O que me resta é ter uma fé desesperada na realidade das coisas que compreendo, ainda que parcamente. Se não delas, do quê então?