
da Folha Online
O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, disse neste sábado que está "profundamente preocupado" com a violação, por parte de Israel, do cessar-fogo no Líbano.
Annan já havia recebido um telefonema do primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, que defendeu a incursão dos comandos israelenses contra um bastião do grupo terrorista libanês Hizbollah.
"O secretário-geral está profundamente preocupado com uma violação pelo israelenses do cessar-fogo tal como estabelecido pela resolução 1.701 do Conselho de Segurança", disse o porta-voz de Annan em um comunicado.
Olmert tentou explicar a Annan que o objetivo era evitar que o Hizbollah fosse reabastecido com armas e munição. Segundo ele, é necessário reforçar a supervisão na fronteira do Líbano com a Síria, de onde supostamente estariam entrando armas para o grupo terrorista.
O líder da ONU não ficou satisfeito com as explicações. "Todas estas violações da resolução 1.701 do Conselho de Segurança ameaçam a frágil calma alcançada depois de muitas negociações e minam a autoridade do governo do Líbano", acrescentou o comunicado.
"O incidente envolveu um ataque israelense no leste do Líbano neste sábado. De acordo com a Unifil [Força Interina das Nações Unidas no Líbano], também houve várias violações aéreas por um avião militar israelense", acrescentou o comunicado.
"Violação flagrante"
A operação no vale do Bekaa foi classificada pelo governo do Líbano como uma "violação flagrante" do cessar-fogo que pôs fim ao conflito de 34 dias no Oriente Médio.
Membros da segurança libanesa informaram que três combatentes do Hizbollah foram mortos no confronto realizado antes do amanhecer contra comandos israelenses. O governo de Israel afirmou que um soldado foi morto e dois ficaram feridos na ofensiva.
"É uma flagrante violação do cessar-fogo declarado pelo Conselho de Segurança", afirmou o primeiro-ministro libanês, Fouad Siniora, em referência à resolução aprovada na ONU no dia 11 de agosto. A trégua entrou em vigor na última segunda-feira (14).
Comandos em dois veículos descarregados de helicópteros foram interceptados quando se dirigiam a um escritório de um líder do Hizbollah, xeque Mohammed Yazbek, na vila de Boudai, segundo fontes libanesas. Os soldados israelenses iniciaram a incursão sob a cobertura de ataques aéreos.
"Forças especiais conduziram uma operação para interromper ações terroristas contra Israel com ênfase na transferência de munição da Síria e do Irã para o Hizbollah", alegou o Exército de Israel.
Boudai localiza-se a cerca de 15 km ao noroeste da cidade de Baalbek e a 26 km da fronteira síria.
A ação coincide com o esforço do Exército do Líbano para ampliar o controle sobre a fronteira com a Síria. Milhares de militares foram enviados para bloquear as rotas de contrabando de armas neste sábado, de acordo com fontes da segurança.
Apesar da medida, o Ministério de Relações Exteriores de Israel afirma que o Hizbollah continua recebendo carregamento de armas e que a falta de tropas internacionais e do Líbano na fronteira tornou a incursão necessária.
"Israel se reserva o direito de agir a fim de se fazer cumprir o espírito da resolução [da ONU]", afirmou o porta-voz da chancelaria israelense, Mark Regev.
A resolução 1.701 determinou que Israel colocasse fim a "todas ações de ofensiva militar" e que o Hizbollah suspendesse todos os ataques. O documento aprovado no Conselho de Segurança também exigiu o embargo no envio de suprimentos de armamentos não autorizados para o Líbano.
Neste sábado, o Exército do Líbano se posicionou na fronteira com Israel pela primeira vez em 30 anos, informou o general Charles Chikhani, comandante da 10ª Brigada de Infantaria.
"Nos posicionamos neste sábado na fronteira em Kfar Kila e no portão de Fátima. É muito emocionante estarmos aqui pela primeira vez desde 1975. Protegeremos a fronteira de nosso país", declarou o oficial.
Tropas da ONU
Uma embarcação com um contingente de 50 soldados franceses, o primeiro grupo militar a se integrar à Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil), chegou neste sábado ao porto de Naqoura, no sul do país.
Fontes da Unifil confirmaram que os 50 militares franceses são os primeiros soldados estrangeiros a chegar ao Líbano como reforço das tropas. Sua missão é garantir o cumprimento do cessar-fogo entre Israel e o Hizbollah, de acordo com a resolução 1.701.
Paris informou nesta sexta-feira que enviará 200 membros do Exército francês como contribuição à força internacional de paz no sul do Líbano, mas pediu mais medidas de segurança para aumentar sua contribuição.
A Unifil, postada no sul do Líbano desde 1978, contava até agora com cerca de 2.000 militares. A resolução 1.701 estabelece, entretanto, que o número deve subir para 15 mil, além de 15 mil soldados libaneses que vão ocupar a mesma região.
Com agências internacionais
http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u99210.shtml