O texto abaixo foi extraído do livro "Como a Mente Funciona" de Steven Pinker.
No capítulo do texto Pinker analisa uma característica da mente: dar categorias aos seres. Classificando, a mente forma parâmetros aos quais pode comparar e compreender mais facilmente o mundo. Mas a própria natureza da classificação acaba criando outra característica abominável do ser humano: o racismo.
É difícil ler a respeito da tendência da mente humana para colocar as coisas em compartimentos organizados em bases em um esteriótipo sem refletir sobre a tragédia do racismo. Se as pessoas formam esteriótipos até mesmo para coelhos e peixes, seria o racismo algo natural em nós? E se o racismo é natural e irracional, isso faz do amor pelo esteriótipo um erro em nosso software cognitivo? Muitos psicólogos sociais e cognitivos responderiam afirmativamente. Eles associam esteriótipos étnicos a uma avidez excessiva por formar categorias e a uma insensibilidade para as leis da estatística que demonstrariam a falsidade dos esteriótipos. (...)
Alguns esteriótipos étnicos realmente se fundamentam em estatísticas inadequadas ou em nenhuma estatística; são produtos de uma psicologia da coalisão que automaticamente denigre os forasteiros. Outros podem ter por base estatísticas adequadas sobre pessoas inexistentes, os personagens virtuais que encontramos diariamente nas telas da televisão: mafiosos italianos, terroristas árabes, traficantes negros, mestre de kung fu asiáticos, espiões britânicos etc.
Porém, lamentavelmente, alguns esteriótipos podem basear-se em estatísticas adequadas sobre pessoas reais. Nos estados Unidos de hoje, existem diferenças reais e acentuadas entre grupos étnicos e raciais em seu desempenho escolar médio e nos índices de crimes violentos cometidos. (As estatísticas, obviamente, nada revelam sobre hereditariedade ou outra suposta causa.) As estimativas dessa diferenças pelas pessoas comuns são razoavelmente acuradas e, em alguns casos, pessoas que tem mais contato com um grupo minoritário, como os assistentes sociais, têm estimativas mais pessimistas, e infelizmente mais precisas, da frequência de características negativas como ilegitimidade e dependência do seguro social. Um bom estatístico formador de categorias poderia desenvolver esteriótipos raciais e usá-los para tomar decisões atuarialmente seguras, mas moralmente repugnantes, sobe casos individuais. Esse comportamento é racista não por ser irracional (no sentido de estatisticamente incorreto), mas por insultar o princípio moral de que é errado julgar um indivíduo com base em estatísticas sobre um grupo racial ou étnico. O argumento contra a intolerância, portanto, não provém das especificações de design para um caracterizador estatístico racional. Provém de um sistema de regras, neste caso uma regra ética, que nos diz quando desligar nossos categorizadores estatísticos.
Tópico: As bases psíquicas do racismo (Lida 477 vezes)