Mídia Sem MáscaraOs erros de Lula[size=9]por José Nivaldo Cordeiro em 13 de outubro de 2006
Resumo: Insistir na mentira de que Geraldo Alckmin acabará com a bolsa-família é martelar em uma clientela que já é do PT e não será capaz de ser atingida pela propaganda do PSDB.
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Vi hoje o programa eleitoral dito “gratuito” do horário noturno. Flagrantemente a produção do programa de Lula foi muito superior à de Geraldo Alckmin. Ele, Lula, vestiu novamente o gibão do “Lulinha paz e amor” e sua voz produzida em estúdio torna-se como a de um contador de histórias infantis: terna, aveludada, um pai bondoso falando aos filhos obedientes. Foi didático em apresentar a xaropada que chama de programa de governo. E os depoimentos dos candidatos eleitos ou disputando o segundo turno declarando voto e apoio caíram muito bem.Não vi um erro sequer na produção, exceto na insistência em repetir mentiras óbvias e desnecessárias, pois se não houver fato novo do tipo do dossiê Tabajara ou algum erro grotesco nos debates ele possivelmente estará eleito, a dar créditos às últimas pesquisas.
Vejo esses erros como sintoma do medo que tomou conta do governo Lula com a inesperada ida ao segundo turno. Diria mesmo pânico de perder o poder. É um medo apavorante, pois milhares de cabos eleitorais e apaniguados petistas de todos os naipes fizeram da boca-livre do governo Federal seu meio de vida e uma derrota poderá significar um desemprego duradouro para essa gente, como houve em outros lugares, a exemplo da cidade de São Paulo e do Estado do Rio Grande do Sul. Para os líderes será a frustração da perda de poder e da oportunidade de levar avante a estratégia do Foro de São Paulo, um prejuízo ainda maior, pois estão fazendo do Brasil o epicentro do processo revolucionário na América do Sul.
Insistir na mentira de que Geraldo Alckmin acabará com a bolsa-família é martelar em uma clientela que já é sua e não será capaz de ser atingida pela propaganda do PSDB. E mentira, sobretudo aquela descarada, pode ser prejudicial. Esse eleitorado está definido e defendido pelas lideranças, como a da família Gomes no Ceará e os Sarney no Maranhão, que não deixarão passar a propaganda adversária. Lula não perde e também não ganha voto nesse segmento. Entendo que esse terrorismo só faz sentido pela inexistência de um discurso alternativo mais coerente e também porque fazer assim é típico do modo petista de produzir propaganda mentirosa, insistindo até ao limite da demência naquilo que todo mundo sabe ser mendaz.
Faz mais sentido estratégico a mentira relativa à suposta privatização do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal e outras estatais. Desde logo deixo claro que a privatização dessas gigantescas corporações não é exeqüível pelo simples fato de que a sua perenidade é do interesse de muita gente – e gente muito poderosa – e só um processo revolucionário seria capaz de reunir forças para tanto. E sabemos também que programaticamente o PSDB entende essas entidades como não passíveis de privatização, como instrumentos da governabilidade. Em resumo, há um interesse de uma larga maioria de funcionários, políticos, empresários fornecedores e esferas locais de administração que simplesmente formam um formidável muro de proteção, impedindo que esses monstros sejam privatizado e postos a serviços o povo brasileiro, o distinto consumidor.
Qual a necessidade da mentira nessa matéria? Ela é dupla. De um lado, visa a mobilização dos milhares de cabos eleitorais nelas empregados e que estão sem nenhum entusiasmo na campanha lulista, abalados moralmente por causa dos escândalos. As bases petistas sempre foram farisaicamente moralistas e nem por sonho esperavam ver fotografias de montanhas de dinheiro sujo para pagar dossiês fajutos, dólares na cueca da família Genoino, mensalão e demais estripulias delituosas de seus líderes. Do outro lado, ao falar de uma suposta privatização Lula apela ao instinto de sobrevivência dessa gente, que vê no Estado o seu meio de vida e de fato acredita que seus órgãos de origem sejam algo necessário ao povo. Sentem-se membros de uma organização de interesse público. A mentira de Lula ameaça diretamente seu eleitorado de outrora, como aquele residente em Brasília, que votou maciçamente no primeiro turno no candidato das oposições, fato que me causou grande e agradável surpresa.
Os funcionários públicos federais demonstraram cabalmente seu desprezo e seu repúdio pelo governo Lula, algo que eu quero sublinhar e louvar nesse espaço. E o fizeram porque, por dever de ofício, tiveram que conviver que essa malta despreparada que tomou de assalto o Estado brasileiro, testemunharam sua tolices, conviveram com as barbeiragens administrativas e os desmandos dos noviços.
A questão é saber se essa lorota ridícula será aceita pelos integrantes das corporações de Estado, em geral pessoas de boa formação e bem informadas dos bastidores da política. Essa gente conviveu com o governo de FHC e tem consciência de que o PSDB expressa, mais do que o revolucionário PT, a sua própria ideologia. Todos acreditam no papel superlativo do Estado e, em especial, na ação dessas gigantes estatais. FHC foi como que um pai para os integrantes das carreiras de Estado. Ao contrário dos intelectuais das universidades, a burocracia estatal dá grande valor à competência e à boa formação dos integrantes do poder e não têm em Lula alguém que possam admirar. A convivência com a malta petista nesses quatro anos redundou em grande desprezo desses funcionários pelo modo de governar petista. Os estrategistas de Lula sabem disso e estão apelando feio para trazer esses eleitores de classe média para seu rebanho. Penso que não serão bem sucedidos, pois essas pessoas são bem formadas e têm estabilidade garantida por lei. Estão acima das ameaças petistas. Estes é que estão com a cabeça a prêmio se o eleitorado lhes der bilhete azul.
Outro erro que entendo é a insistência de comparar continuamente o governo Lula com o governo FHC. Este não é candidato a nada. Se há uma possibilidade de comparação é com o governo Alckmin em São Paulo, que foi muito elogiado pelos paulistas, sobejamente competente, tanto que José Serra se elegeu com uma consagradora maioria no primeiro turno e aqui Alckmin ganhou os decisivos votos para ir ao segundo turno. Os estrategistas de campanha insistem na tecla e põem na boca de Lula os maiores disparates, a ponto de atribuir a ele no programa de hoje a eliminação da inflação elevada. Ora, qualquer pessoa medianamente bem informada sabe que esse crédito é integralmente de FHC, desde que foi ministro da Fazenda.
Enfim, as emoções da propaganda eleitoral desse segundo turno estão só começando. Se os bons podem errar, o que dizer de um desqualificado como Lula. Mais cedo ou mais tarde vai pisar na casca de banana. Se o fizer, poderá entregar os pontos e perder a eleição. Geraldo Alckmin precisa trabalhar no erro do adversário, como fazem os bons técnicos de futebol. E time de várzea como esse de Lula não tem pontaria certeira no gol, seu centro-avante é um perna-de-pau. Vamos torcer, pois são os destinos maiores do Brasil que estão em jogo. Precisamos ganhar esse campeonato.