17.10, 09h33
Agência Estado
O presidente da CPI dos Sanguessugas, Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ), está convencido de que tem origem criminosa o R$ 1,75 milhão apreendido com petistas, destinado a pagar o dossiê Vedoin. O deputado recebeu informações de fontes do Judiciário e da Polícia Federal, ao viajar a Cuiabá para retirar cópia do inquérito que apura a trama contra tucanos.
A denúncia de que o governo - e mais diretamente o ministro Márcio Thomaz Bastos - trabalha para afastar a investigação do presidente Lula levou a oposição ao ataque em três frentes. Aliados de Geraldo Alckmin vão recorrer ao Tribunal Superior Eleitoral, à Polícia Federal e à OAB para pedir isenção nas investigações e acompanhamento do caso.
Os petistas se mobilizaram para neutralizar a ação dos adversários. O próprio presidente agora diz que foi sua a iniciativa de tirar Ricardo Berzoini da coordenação de sua campanha. 'Perguntei: 'Quero saber quem fez essa burrice, porque foi de uma sandice inominável'. Ele me disse que não sabia. Eu o afastei', relatou Lula, em entrevista na TV. Seus aliados fizeram coro contra a oposição. Marco Aurélio Garcia a acusou de querer ganhar 'no tapetão', provocando instabilidade política. Jaques Wagner apontou 'desespero eleitoral'.
Hoje Berzoini depõe à PF para explicar até que ponto tinha conhecimento das negociações entre seus comandados e a família Vedoin, que chefiava a máfia dos sanguessugas. O Ministério Público Federal pediu a quebra de sigilos de Freud Godoy, segurança do presidente acusado no caso. A PF quer a mesma medida para Hamilton Lacerda, ex-coordenador da campanha de Aloizio Mercadante.
Informação veio de Cuiabá
Ele manteve encontros com a Superintendência da Polícia Federal em Cuiabá, que realiza o inquérito sobre o dossiê Vedoin e o caso dos Sanguessugas, e posteriormente esteve na Justiça Federal, onde recebeu documentos relacionados as investigações.
Biscaia veio a Cuiabá para retirar na Polícia Federal cópia do inquérito que investiga a trama contra José Serra, do PSDB. O deputado conversou por uma hora com o superintendente regional da PF, delegado Daniel Lorenz, que garantiu atuar com independência e autonomia, livre de pressões do governo.
O presidente da CPI também foi recebido pelo juiz Jefferson Scheinneder, da 2.ª Vara Federal do Mato Grosso. "A origem (do dinheiro) é ilícita, quanto a isso não há a menor dúvida", reiterou Biscaia. "A origem do dinheiro é criminosa, mas dizer se é desta ou daquela atividade criminosa é prematuro dizer."
Rastreamento oficial
Segundo o parlamentar, a conclusão sobre a procedência escusa do dinheiro do PT encontra amparo no fato de que o rastreamento oficial não identificou saques no sistema financeiro naquele montante.
"Não há no período (um mês antes da prisão de Gedimar Passos e Valdebran Padilha, com o dinheiro) saques lícitos de valores nesse total. Então, é lógico que a origem é criminosa. Quanto a isso não há mais dúvida. Fui ao Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) com outros parlamentares. Não há saques nesse montante.Os saques, se aconteceram em estabelecimentos bancários, foram feitos de forma parcelada, em pequenos volumes."
Ele disse que não vai permitir que a CPI se transforme em disputa político-eleitoral a partir do dossiê Vedoin. Daniel Lorenz, chefe da PF no Mato Grosso, afirmou que a investigação segue "boas pistas, bastante interessantes".
Ele confirmou que o rastreamento telefônico mostra contatos dos envolvidos com dez ministérios e órgãos públicos federais. "Estamos trabalhando no tempo da investigação e não no tempo do calendário eleitoral", declarou Lorenz.
Ele disse que "é possível" que ocorram novos pedidos à Justiça de quebra de sigilo bancário e telefônico de suspeitos. O superintendente confirmou também "diligências muito importantes em curso". Disse, ainda, que "antes das eleições a PF deverá esclarecer a origem do dinheiro ou pelo menos apresentar uma boa tese".