Não pretendo discutir o desarmamento, mas a apatia do povo; o conformismo, a letargia, a inanição, a alienação, o amor à mesmice.
Pretendo discutir a inércia que assola o brasileiro como uma doença que o impede de se movimentar com as próprias pernas. Veja os bolsas-esmolas. Que outra coisa não é isso que sua imobilidade atávica? Recentemente a rede globo de televisão quis inovar numa novela, mas o público a rejeitou; os próprios atores concluíram que o telespectador não aceita novas formas, que quer sempre e sempre as mesmas histórias de mocinhos e mocinhas românticas dominados por vilões malévolos e dinâmicos. A mesma história repetida ad nuseum.
O brasileiro adora futebol. Pois se submete a assistir os jogos nos horários determinados pela rede globo. Jamais lhe passa pela cabeça que tem, como telespectador, o poder de vida e morte sobre qualquer programa de televisão, bastando para isso desligar o aparelho. Mas não. O público prefere dobrar-se para garantir a diversãozinha.
O mesmo se dá com o horário político -- basta desligar o aparelho que ele deixaria de ter sentido. Mas o distinto público vai lá e prestigia. Alimenta a vaidade dos políticos com o seu marasmo.
Cito a manipulação da rede globo apenas como exemplo. Na verdade ela somente explora essa característica do povo, de certa forma responsável pelas coisas como são. O povo se deixa manipular. O povo prefere uma paz escrava a uma liberdade guerreira. Não pode se queixar quando o governante o trata como um menino pedinte que se contenta com um docinho qualquer. Trocou a altivez pelo conformismo...
Não acredito que o brasileiro seja solidário. A verdadeira solidariedade faz as coisas acontecerem. Aqui cada qual é solidário com o próprio umbigo. Primeiro o meu cargo, a minha vaga, o meu benefício, a minha vantagem. Você? Bem, Deus cuida de todos.
A religião católica se deu bem nessas terras -- promete a salvação e essa é somente fruto do seu livre-arbítrio, independente de qualquer consideração pelo outro. Contanto que eu faça o que Deus manda não preciso do outro para me salvar. Isso não é lá muito propício a estimular a solidariedade. Ah, tem a caridade. Mas ela funciona mais para o caridoso do que para o necessitado. Ela não transforma, ela mantém. Solidariedade para o brasileiro: esmola.
Por isso eu acho, minha opinião, que o Brasil não vai a lugar nenhum. Porque seu povo preso a hábitos ancestrais não se moderniza e não avança. Preso a antigas crenças, antigos hábitos, ao mesmo de sempre, não muda, não reage. Como os animais inaptos condena-se à extinção ou ao zoológico da história.