Mães-de-santo fazem manifestação em frente ao TJ LUIZ FRANCISCO
da Agência Folha, em SalvadorAcostumados a conviver com advogados, juízes e desembargadores, os funcionários do Tribunal de Justiça da Bahia acompanharam nesta quarta-feira uma manifestação diferente. À tarde, cerca de 50 mães, pais e filhos-de-santo da Bahia, representando 40 terreiros de candomblé (de um total de 4.000 existentes na capital baiana), participaram de um protesto em frente ao prédio do TJ, cobrando o cumprimento de uma sentença proferida em janeiro do ano passado.
Na época, em primeira instância, a Justiça da Bahia condenou a Igreja Universal do Reino de Deus a pagar uma indenização de R$ 1.372 milhão à família da ialorixá (comandante de terreiro) Gildásia dos Santos, a mãe Gilda, que teria sido "perseguida" por adeptos da religião.
Segundo seus familiares, com os constantes ataques, mãe Gilda entrou em depressão e morreu em conseqüência de um enfarto, em 2000.
Após 30 minutos de manifestação, alguns representantes do candomblé foram recebidos pelo desembargador Juarez Santana, responsável pela análise da apelação feita por advogados da Igreja Universal do Reino de Deus.
À comissão, o desembargador disse que a apelação da igreja será julgada até o começo do próximo mês.
No processo encaminhado à Justiça, a família de mãe Gilda acusa a Universal de editar, sem autorização, uma foto da mãe-de-santo publicada na revista "Veja", em 1992.
A foto da ialorixá foi editada no jornal "Folha Universal", que pertence à igreja, com uma tarja preta nos olhos e com a legenda "Macumbeiros charlatões lesam o bolso e a vida dos clientes". A foto ilustrava uma reportagem de pessoas que cobram para "interpretar" o futuro.
No processo, os advogados contratados pela família da ialorixá contam que mãe Gilda começou a ter problemas de saúde após a publicação de sua fotografia no jornal. O terreiro comandando pela ialorixá, Ilê Axé Abassá de Ogum, também teria sido invadido por três adeptos da Universal, de acordo com os autos do processo.
A data da morte de mãe Gilda, 21 de janeiro, foi transformada pela Câmara Municipal em Dia da Intolerância Religiosa.http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u68783.shtml