Huxley, e demais, algumas questões sobre as quais talvez vocês possam me clarear, e que penso estarem relacionadas ao post anterior.
Há algum tempo atrás, logo após os relatórios da WMAP, no ano passado, houve um debate no Cosmofórum (http://www.cosmobrain.com.br/cosmoforum/) com um astrônomo, e a certa altura ele afirmou que já se podia dar como certo o fato de o Universo:
1) ser plano, possuir uma geometria euclidiana;
2) ser “aberto”, e portanto infinito.
Na seqüência, houve aqui no CC um debate sobre o mesmo tema, e foi levantado que sobre o fato de o Universo ser plano, ter uma geometria Euclidiana, todos concordam.
Porém ficou no ar que não se podia ainda afirmar ser ele “aberto”, infinito.
Lendo o livro “Cosmologia Física” lançado agora pela Editora Livraria Física, vários autores, lê-se na página 196:
3. O Universo é “aberto” ou “fechado”?
Tudo indica que a soma das densidades das componentes é igual à densidade crítica (Ômega), ou seja:
Ômega = 1
Assim, a geometria é Euclidiana e o Universo é aberto. E mais ainda, a aceleração da expansão pode provocar a desconexão causal de todos os observadores no futuro.
Afinal, já podemos dar como certo o fato de o Universo ser “aberto”? 
E em caso afirmativo, disso poderíamos inferir que ele seja espacialmente infinito? 
Eu estou estranhando esse Universo "euclidiano e aberto".Até onde sei as soluções das equações da Relatividade Geral por Friedmann, prevê três geometrias possíveis:
Fechado:é o correspondente tridimensional da superfície da esfera.Se você desse uma volta nesse Universo a uma velocidade infinita, voltaria ao mesmo ponto.Um triângulo desenhado neste na superfície deste Universo pareceria ter mais de 180º.Neste modelo, o Universo alcançaria um tamanho máximo e depois se contrairia.As equações prevêem que se o Universo é fechado no tempo, também será no espaço (volume espacial finito).
Aberto:a geometria aberta corresponde a superfície de uma sela (ou seja, é não-euclidiana, mas difere de Euclides de modo oposto ao Universo fechado).Um triângulo desenhado neste Universo pareceria ter menos de 180º.A distância entre dois pontos escolhidos arbitrariamente começa do zero e cresce sem limite.Se o Universo é aberto no tempo, também será aberto no espaço.Portanto, é infinito.
Euclidiano:o próprio nome já diz tudo.Se desenhássemos um triângulo na sua superfície , ele teria e pareceria ter exatamente 180º.O volume espacial também é infinito, como no modelo aberto (ainda que a constante cosmológica seja zero, a velocidade de expansão neste modelo se estabiliza em algum valor diferente de zero,porém ela se torna cada vez mais próxima de zero, mas NUNCA alcança essa velocidade).
Veja, todos esses três casos representam as soluções das equações da Relatividade Geral SEM a constante cosmológica.O autor do livro que você leu deve está levando em conta que o valor da constante cosmológica é igual a ZERO, uma afirmação que parecia ser bem razoável até 10 anos atrás.Além disso, acredito ele quis dizer que o Universo é "aberto no tempo" e não "geometria aberta".
Se a constante cosmológica é diferente de ZERO (as evidências atuais apontam para isso), Friedmann prevê apenas que qualquer geometria pode ocorrer com qualquer tipo de evolução de tempo.Pelo menos, agora sabemos que a geometria do Universo é EUCLIDIANA.
O mero fato do Universo se encontrar numa fase de expansão acelerada não implica que ele se espalhará para sempre.Alguns físicos defendem que se a energia escura estiver associada a algum campo instável, após seu decaimento a fase de aceleração se encerra e ela poderia até assumir efeito contrário depois que sua capacidade de distender o Universo se encerrasse.Foi isso que disseram Mário Novello e Laerte Sodré Júnior num especial da Superinteressante chamado "OS GRANDES MISTÉRIOS DA CIÊNCIA" (2003).Por outro lado, Paul Steinhardt defende que a energia escura esvaziaria a matéria e a energia produzidas no "bang", espalhando-as de modo muito rarefeito, o que prepararia o Universo para um novo ciclo.Neste modelo, o Big Bang não é o início do tempo e existe uma 3-brana paralela a nossa (separada por uma outra dimensão que serveria como um elástico conectando os dois mundos; se não me engano, essa seria a "11ª dimensão" da Teoria M) .Depois de trilhões de anos depois da colisão que depositou matéria no nosso Universo, a gravitação faria nossa 3-brana voltar a se encontrar com essa 3-brana e ocorreria uma colisão titânica que reiniciaria o ciclo cósmico baseado em colisões e rebotes.Em ambos modelos discutidos neste parágrafo, o Universo é finito.
Conclusão:A geometria do Universo é Euclidiana, mas quando o assunto é o tamanho do volume espacial e o destino final do Cosmo, todas as cartas ainda estão na mesa.
P.S.:Para maiores informações sobre o que discuto, ver capítulo 3 de "O Universo Inflacionário" (Editora Campus) de Alan Guth.