Se eu puder opinar... vamos restringir um pouco as coisas. Falar em termos absolutos não dá pé. Falácia do escocês etc.
Vamos começar do começo? É o esquema da SOBRANCERÍA: o homem de verdade é auto-suficiente, ele encarna os valores cavalheirescos aristocráticos etc. etc. (Hoje usar essa palavra não pega muito bem, porque tem uma conotação de arrogância e soberba - o que valeria um estudo, porque, de fato, sobrancería é isso, mas à época dava-se um valor positivo.) Porque, convenhamos, em Portugal tem mais fidalgo que ovelha, a pessoa precisa se diferenciar por seus méritos. E aí chegamos à questão: não dá pra pensar em comunidade coesa quando todo mundo é senhor.
Chegam os ibéricos aqui tentando fazer as coisas como são feitas por lá. Exemplos bons são o status de vice-reinado dado às colônias de Castela, também por lá o sistema de encomienda (que, convenhamos, é feudal em tudo, mas controla a mão-de-obra em vez de controlar a terra), e as sesmarias aqui (cujo objetivo originais era acabar com êxodo rural). Óbvio que eles aqui, com terras aqui, acham que são os senhores feudais da américa.
Nobre não bota a mão na massa. Trabalho é coisa pra índio, pra preto e pra protestante. Faz tempo, muuuito tempo que eu li, mas tenho certeza de que o Sérgio fala do capitalismo racional weberiano que todos tão bem conhecemos, a ética do trabalho, a ascese, etc etc. Dicotomia trabalhador-aventureiro, era isso, acho. O único vínculo que os fidalgos cristãos e sem noção de ética do trabalho têm é personalista. Vínculo de pessoa a pessoa, na base da prestação de favores. O que usando a tipologia ficaria uma ação afetiva. Daí dá em toda a confusão entre o público e o privado, o "você sabe com quem está falando", o nepotismo escancarado e todas essas coisas que a gente conhece tão bem e na prática.
Acaba que o brasileiro não tem noção alguma do que é cidadania, e conseqüentemente a democracia é capenga. Se é que a nossa democracia vai além do dia da eleição, coisa da qual eu meio que duvido. Se todo mundo acha que é importante, então não existe aquele esquema da igualdade da DDH, todos estamos acima da lei. Na igualdade não tem espaço para a nossa sobrancería.
De todo modo, BRUNO, a conduta personalista não é GANÂAANCIA. Ela é afetiva, não é racional; e ganância, na tipologia, é ação racional com relação a um fim.
Enfim. Estamos em crise entre dois modelos, dois tipos ideais de ação. Falo como democrata que quer morrer com esse personalismo todo e que acha, naturalmente, que é a menos pior forma de governo inventada até o momento. A única em que todos têm pelo menos a possiblidade de realizar seus interesses.
Aí eu refaço sua pergunta: que tipo de ação é melhor, a afetiva ou a racional com relação a fins? Daí, a conduta personalista é perniciosa à sociedade democrática, e eu voto na 2.