Autor Tópico: Do Orkut - Medicina X Religião  (Lida 1747 vezes)

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Offline Meire G

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Do Orkut - Medicina X Religião
« Online: 22 de Novembro de 2006, 11:43:52 »

Offline Meire G

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Re: Do Orkut - Medicina X Religião
« Resposta #1 Online: 22 de Novembro de 2006, 11:45:10 »
(se postei em local inadequado, me corrijam)

Offline OldSkull

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Re: Do Orkut - Medicina X Religião
« Resposta #2 Online: 22 de Novembro de 2006, 16:37:30 »
Copia o texto pra cá pra quem não pode acessar ou não tem orkut poder participar do tópico  8-)

"The sun is the same in a relative way but you're older,
Shorter of breath and one day closer to death. "

Offline Alegra

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Re: Do Orkut - Medicina X Religião
« Resposta #3 Online: 22 de Novembro de 2006, 19:27:11 »
Medicina x Religião.
Depois de já ter notado em mais de um tópico a menção de posicionamentos religiosos, surgiu o interesse de conhecer a opinião dos que aqui se encontram sobre o seguinte tópico:

Quanto a sua religiosidade afeta a sua atitude ou postura como médico?

Esse tópico não tem a menor intenção de entrar em discussões teológicas, fazer apologia ou críticas às crenças pessoais, já que essa comunidade não é lugar para isso. O universo de crenças pessoas é inviolável e não cabe a alguém julgá-las enquanto escolha individual.

Também não seria produtivo discutir o papel da religião no paciente, já que, quer seus credos sejam justificados ou não, não é difícil justificar a importância de dada crença no processo de cura, nem que seja apenas como efeito placebo.

A medicina, no entanto, é uma forma de ciência, ou, para ser mais exato, uma forma de engenharia, ou tecnologia, que se utiliza de muitos conhecimentos adquiridos através do método científico e busca neles aplicações que possibilitem a diminuição do sofrimento humano, quando não um aumento na qualidade de vida.

Então longe do âmbito pessoal, apenas no contexto da prática médica, e do lado do médico, não do paciente, seriam medicina e religião incompatíveis?

Considere como "religião" para efeito dessa discussão qualquer crença ou ideologia pessoal que não seja baseada em evidências.

Dando a cara a bater, sumarizo a minha opinião, que a essa altura não deve ser segredo pra ninguém:

Religiosidade e medicina não devem se misturar. Acho válido usar a crença do paciente como auxílio terapêutico, mas no que diz respeito ao diagnóstico e tratamento da doença ou enfermidade em si devemos aplicar tão somente o método científico. Se alguém desejar secretamente rezar pelo seu paciente, por exemplo, tudo bem - desde que não o faça em detrimento do diagnóstico ou tratamento adequados.

E você, o que pensa? Espero que possamos discutir esse assunto de forma objetiva e racional.



Não sei se fiz bem ou mau, mas tomei a liberdade de copiar para cá o texto mencionado acima por Meire.
É muito interessante.
Postado por "Greg House" do Orkut.
« Última modificação: 22 de Novembro de 2006, 19:30:22 por Alegra »
Já sinto sua falta. Vá em paz meu lindo!

Offline Meire G

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Re: Do Orkut - Medicina X Religião
« Resposta #4 Online: 22 de Novembro de 2006, 19:48:11 »
Copia o texto pra cá pra quem não pode acessar ou não tem orkut poder participar do tópico 8-)

Eita ...
A discussão tem 231 posts, posso colocar aqui? Foi aberta pelo Greg e participei, foi bem produtiva.


Offline Meire G

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Re: Do Orkut - Medicina X Religião
« Resposta #5 Online: 22 de Novembro de 2006, 19:49:44 »
Meire_G
Greg,
Apesar de assumir que a medicina envolve subjetividade - já que precisamos interpretar a fala do paciente e "dar descontos" considerando que às vezes minimizam ou exageram sintomas dependendo de seu estado emocional e da razão pela qual passam pelo exame médico - penso que a melhor forma de fazer medicina é se baseando em evidências.
Vejo religião e medicina como incompatíveis, analisando num plano linear, sem desdobramentos. Religião envolve dogmas e medicina envolve evidências; religião envolve "verdades inquestionáveis" e a medicina envolve questionamentos. Ser "do contra" e quebrar paradigmas sempre foi o motor da ciência.
Penso então que o exercício da medicina deve ser desvinculado de quaisquer doutrinas religiosas. O caráter humanitário, nosso envolvimento pessoal com o paciente, nosso zelo e nosso compromisso com a melhoria da saúde pública bem como a troca de afetos que envolve a relação, independem da religião que o médico tem e existem mesmo que o médico não tenha. Pensar diferente disso é preconceito.
Já vi pacientes dizendo que preferem médicos "evangélicos" e outros que não vão a médicos evangélicos porque acreditam em tudo, que basta propaganda de laboratório para convencê-los da eficácia de alguma droga. O médico não deve permitir ser rotulado pela sua crença. Ou por não crer.
As religiões foram e são um entrave para o avanço da ciência, mas se o médico consegue separar as duas coisas e ser cético, fundamental para o exercício responsável da medicina, mantendo sua religiosidade, não há incompatibilidade. Mas na hora que um médico vem indicar Johrei ou "passes", a história muda.
E com relação ao paciente, há evidências de que a religiosidade pode ter um impacto positivo sobre a doença, pelo menos há um certo estoicismo envolvido o que pode resultar em menos sofrimento, não necessariamente em cura. A mente crente seleciona fatos e supervaloriza: uma doença auto-limitada que "desaparece" num crente é um milagre;se desaparece num ateu, ele entende que simplesmente é a história natural da doença.       excluir   
 
 
 Adjany  08/10/2006 06:10 Vai dar o que falar., este tópico...
"Religiosidade e medicina não devem se misturar"...É possível?
Acho que o médico não pode deixar suas convicções pessoais afetarem seu raciocinio científico, as decisões devem se basear em evidências, estudos, enfim na ciência, sempre. Mas é possível desvincular-nos da pessoa que somos enquanto exercemos a nossa tarefa? Abster-nos de falar sobre nossas crenças com os pacientes (afinal o foco são eles, não nós), ter uma atitude isenta de crítica (ou a palavra melhor seria juízo?) ao ouvi-lo,atitudes assim fazem de nós melhores profissionais, mas não seria assim porque já somos melhores pessoas, dentro da nossa filosofia de vida, o q cremos ser o correto a ser feito?
Definição de religiosidade: "conjunto de escrúpulos religiosos ou de valores éticos que apresentam certo teor religioso "( Houaiss)
Difícil pensar em uma pessoa sem considerar seus "valores", não?   
 
Márcia R.  08/10/2006 06:16 coloquei esse topico uma vez na comunidade
pena que nenhum paciente se pronunciou a respeito do que achava?

http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=8344132&tid=2458147954750710691   
 
Meire_G  08/10/2006 06:18 Adjany,
Não nos desvinculamos totalmente por não ser a medicina uma ciência exata. Ai onde entra o que chamo exercício responsável. Se o médico não tiver auto-crítica suficiente e controle sobre suas pre-concepções, vai deixar de ser cientista e passa a ser curandeiro
A nossa experiência acumulada, tipo a relação que tivemos como nossos pais, as perdas que sofremos, os casos já vistos, e até a religião, acabam influenciando no nosso modo de ver os problemas, mas não podem ser fator de decisão se não forem acompanhadas de um amparo científico.       excluir   
 
 
 Adjany  08/10/2006 06:45 Meire
Exatamente o que penso!
É nesse ponto em que as coisas se misturam: somos resultado de todo este "acúmulo"! Se temos algum valor religioso, ele impregna-nos. Daí eu dizer que é difícil desvincular.
Concordo totalmente qdo vc fala da atitude científica!   
 
 Greg House  08/10/2006 06:53 Meire, pra variar, tirando a questão da capacidade auto-locomotora do outro tópico, concordo em 100% contigo, incluindo a resposta à Adjany.

Márcia, no tópico que você linkou você afirmou:

"Não gostaria de ser operada por um medico agnostico, se fosse apenas atendimento simples não me importaria, mas entrar em um centro cirurgico para ser operada por alguem que não acredita em deus, com certeza eu iria procurar outro medico"

Se você não se importar, gostaria que você expusesse a lógica por trás desse raciocínio.   
 
Ana  08/10/2006 07:01 O fato de ser médico não nos isenta de sermos pessoas comuns, sujeitos ao sentimento de religiosidade, a ter medos, a ter esperanças, etc. Ser médico não implica automaticamente em ser ateu ou agnóstico, embora muitos médicos o sejam, assim como muitos engenheiros, advogados, professores, pessoas comuns - independentes de suas profissões.
O que é muito importante é não deixar que a crença religiosa afete o raciocínio crítico do médico, chegando ao ponto de renegar conhecimentos científicos e de deixar de aplicá-los em benefício do paciente.
Ser um curandeiro e ser um médico são coisas incompatíveis, com certeza, pois a medicina é ciência e não usa "fórmulas mágicas". Mas crer em Deus ou ter uma religião e ser médico não são coisas incompatíveis, seria o mesmo que dizer que ser médico e ser gente são coisas incompatíveis.
Eu acredito em Deus, isso não afeta minha capacidade como médica nem meu raciocínio crítico nem me leva a negar a ciência (seria absurdo). O fato de crer em Deus, no meu caso, apenas me torna maiis sensível ao sofrimento do doente e a enxergá-lo como algo muito além de um monte de células.   
 
Bruno  08/10/2006 07:05 Márcia
como médico e desprovido de crenças religiosas, tenho o mesmo questionamento que o House... por que vc não gostaria de ser operada por um médico agnóstico, e afinal, que diferença isso faria?   
 
 Greg House  08/10/2006 07:08 Ana, por isso quero manter essa discussão no contexto da prática profissional. Alguém ter ou não ter uma crença, seja ela qual for, é (ou deveria ser) irrelevante na hora de medirmos seu valor como profissional. Só o que importa é sua competência em seu campo de atuação, nesse caso a medicina.   
 
 

Offline Meire G

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Re: Do Orkut - Medicina X Religião
« Resposta #6 Online: 22 de Novembro de 2006, 19:51:26 »
(vou parar por aqui, é muito grande)   
 
Meire_G  08/10/2006 07:31 Ana,
Por isso falei na incompatibilidade entre ciência e religião filosoficamente falando, mas não na incompatibilidade entre ser um médico e ter uma religião, desde que se tenha bom senso, como você também concorda. É mais fácil para um médico ateu manter a linha cética na ciência, mas é perfeitamente possível um médico crente seguir o ceticismo científico, você é prova disso, com louvor.
Mas não concordo de jeito nenhum quando diz que ser religioso confere mais sensibilidade ou humanidade ao médico, pode ser especificamente no seu caso, ou por ter mudado após algum tipo de conversão. Não vejo relação além do esteriótipo que habita o inconsciente coletivo. Prisões estão lotadas de criminosos religiosos, que fazem o sinal da cruz antes de assaltar um banco, bem como existem ONGs humanitárias totalmente desvinculadas de crença. Vários médicos religiosos que conheço são frios, grosseiros, para não dizer estúpidos, além de vaidosos e egoístas, assim como muitos ateus são envolvidos com voluntariado.
Ser ateu não é sinômino de ter descaso pela vida, isso me dói ouvir, bem como ser religioso não torna alguém mais sensível. Celebro a minha vida como um evento raro, mas tão parte da natureza quanto a vida das flores ou dos gatos, nem um milímetro mais importante ou superior.
Talvez aqui ainda exista um reflexo da discussão sobre o aborto, pois mesmo contra e considerando a vida em sua plenitude desde a concepção, sou a favor da legalização da mesma forma que sou a favor do uso de embriões em prol do avanço da ciência. A diferença aqui não é a desconsideração pela vida, mas crer que a vida tem um proposito e foi dada por alguma divindade em especial. Eu não penso na vida como algo proposital, mas como uma feliz conseqüencia do acaso; isso não a torna menos especial.
É por todos esses motivos que não vejo porque segregarmos médicos entre crentes e não crentes, porque a ciência independe da religião, e se trabalharmos bem e com responsabilidade, teremos cumprido o papel que os pacientes esperam       excluir   
 
 
Diego  08/10/2006 07:33 O alardeamento da idéia da 'medicina baseada em evidências' é, em boa medida, uma medida encontrada pelo médico para que obtenha certo conforto psico-ideológico. É uma espécie de 'vontade de ser ciência', renegando o fato de que a medicina é, em primeiro lugar, uma prática de relações humanas - uma idéia perigosa, pois equipara a medicina ao dito curandeirismo, privando-a assim do suporte ideológico que fundamenta juridicamente a exigência dos médicos de terem o monopólio da cura na sociedade.

É a fundamentação ideológica para a monopolização desse poder. Nada de novo. Na idade média, quando o cristianismo era a ideologia que transportava a 'verdade última', a Igreja fez o mesmo, proibindo os feiticeiros de praticarem a cura (sob pena de morte), e esse poder ficou restrito exclusivamente aos padres (ou 'curas').

Após o iluminismo, a academia tomou para si esse poder, declarou o positivismo como 'verdade última' e proibiu qualquer pessoa que não integrasse suas fileiras de curar. Usurpou o poder de cura e obteve os louros ($$$ e poder) da vitória.

Não é à toa que haja tanta luta pelo monopólio desse poder: em todas as sociedades, em todas as épocas, o indivíduo que curava sempre ocupou os mais altos postos sociais.

O que o médico ignora é que, ao exigir esse monopólio, usurpa o direito individual de qualquer pessoa que, por vontade própria, deseje ser tratada por alguém que não siga uma fundamentação positivista. Esse é um direito individual inalienável, mas para garantir seu monopólio, seu poder, sua grana, o médico não está nem aí para o fato de que o usurpa diariamente com suas posições conservadoras.   
 
 Greg House  08/10/2006 07:34 Meire, da próxima vez que você postar, deixe um espaço preu assinar embaixo.   
 
 Greg House  08/10/2006 07:40 Após o iluminismo, a academia tomou para si esse poder, declarou o positivismo como 'verdade última' e proibiu qualquer pessoa que não integrasse suas fileiras de curar. Usurpou o poder de cura e obteve os louros ($$$ e poder) da vitória.

Desculpe, Diego, mas não sou grande fã de teorias da conspiração. Esse "positivismo" que você menciona (de forma pejorativa e imprecisa se utilizar como definição da medicina "moderna") é o responsável pela duplicação da expectativa de vida e diminuição do grau de morbidade e mortalidade de diversos males que sempre nos afligiram mas sobre os quais o "curandeirismo" nunca surtiu efeito.

É muito fácil se utilizar desse discurso enquanto se aproveita de todos os benefícios proporcionados tão somente pela própria prática que criticas, mas também é um tanto hipócrita, não?   
 
Tulio Cezar  08/10/2006 07:43 Diego

Não mesmo!!!
O médico tem obrigação sim de exigir este monopólio, senão, daqui um pouco teremos médicos indicando Reikki a distância ou hipnose, e outras práticas menos ortodoxas dentro da medicina. Na medicina temos que trabalhar majoritariamente voltados para a medicina baseada em evidências sim. Agora, se uma pessoa quiser praticar estas aberrações, tem todo o direito. Mas médico compactuar com isto, é complicado!   
 
 Greg House  08/10/2006 07:44 Exatamente, Tulio.   
 
Meire_G  08/10/2006 07:49 Túlio,
Bonito o que disse, acho válido e adequado, respeito profundamente. Inclusive, fiz teologia e tenho muito material sobre diversas crenças e deuses.
Bato de frente com todo e qualquer tipo de preconceito, desde menina. Falando em arquétipos, a tendência de alguns religiosos é acreditar que pessoas que creem em alguma divindade são moralmente elevadas e de outros é que o homem é um ser especial, feito à semelhança de uma mente superior. Penso que somos simplesmente, humanos (tal como disse Niet), demasiado humanos. Portanto, tenhamos crenças ou não, somos animais com desenvolvimento cerebral diferenciado e a diversidade é regra. Nem bons, nem maus. Somos livres na selva (de pedra), e vivemos no sentido de perpetuar nossos genes; a maior parte de nossas ações é de natureza e impulso biológicos e se precisamos ou não crer, isso não nos torna melhores ou piores. Ateus ou crentes, todos temos a mesma natureza, passíveis a erros, a atitudes descabidas, ao egoísmo e ao altruísmo. Pessoas "ruins", insensíveis e ditas desumanas, podem acreditar ou não em deus: quando são crentes, esse fator é desconsiderado, mas se esse tipo é ateu, automaticamente a mente seletiva credita a insensibilidade ao ateísmo.
O mesmo raciocínio imputo a quem tem preconceito contra homossexuais, negros ou quaisquer outros.

Beijos a todos! 

 

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