Meire_G
Greg,
Apesar de assumir que a medicina envolve subjetividade - já que precisamos interpretar a fala do paciente e "dar descontos" considerando que às vezes minimizam ou exageram sintomas dependendo de seu estado emocional e da razão pela qual passam pelo exame médico - penso que a melhor forma de fazer medicina é se baseando em evidências.
Vejo religião e medicina como incompatíveis, analisando num plano linear, sem desdobramentos. Religião envolve dogmas e medicina envolve evidências; religião envolve "verdades inquestionáveis" e a medicina envolve questionamentos. Ser "do contra" e quebrar paradigmas sempre foi o motor da ciência.
Penso então que o exercício da medicina deve ser desvinculado de quaisquer doutrinas religiosas. O caráter humanitário, nosso envolvimento pessoal com o paciente, nosso zelo e nosso compromisso com a melhoria da saúde pública bem como a troca de afetos que envolve a relação, independem da religião que o médico tem e existem mesmo que o médico não tenha. Pensar diferente disso é preconceito.
Já vi pacientes dizendo que preferem médicos "evangélicos" e outros que não vão a médicos evangélicos porque acreditam em tudo, que basta propaganda de laboratório para convencê-los da eficácia de alguma droga. O médico não deve permitir ser rotulado pela sua crença. Ou por não crer.
As religiões foram e são um entrave para o avanço da ciência, mas se o médico consegue separar as duas coisas e ser cético, fundamental para o exercício responsável da medicina, mantendo sua religiosidade, não há incompatibilidade. Mas na hora que um médico vem indicar Johrei ou "passes", a história muda.
E com relação ao paciente, há evidências de que a religiosidade pode ter um impacto positivo sobre a doença, pelo menos há um certo estoicismo envolvido o que pode resultar em menos sofrimento, não necessariamente em cura. A mente crente seleciona fatos e supervaloriza: uma doença auto-limitada que "desaparece" num crente é um milagre;se desaparece num ateu, ele entende que simplesmente é a história natural da doença. excluir
Adjany 08/10/2006 06:10 Vai dar o que falar., este tópico...
"Religiosidade e medicina não devem se misturar"...É possível?
Acho que o médico não pode deixar suas convicções pessoais afetarem seu raciocinio científico, as decisões devem se basear em evidências, estudos, enfim na ciência, sempre. Mas é possível desvincular-nos da pessoa que somos enquanto exercemos a nossa tarefa? Abster-nos de falar sobre nossas crenças com os pacientes (afinal o foco são eles, não nós), ter uma atitude isenta de crítica (ou a palavra melhor seria juízo?) ao ouvi-lo,atitudes assim fazem de nós melhores profissionais, mas não seria assim porque já somos melhores pessoas, dentro da nossa filosofia de vida, o q cremos ser o correto a ser feito?
Definição de religiosidade: "conjunto de escrúpulos religiosos ou de valores éticos que apresentam certo teor religioso "( Houaiss)
Difícil pensar em uma pessoa sem considerar seus "valores", não?
Márcia R. 08/10/2006 06:16 coloquei esse topico uma vez na comunidade
pena que nenhum paciente se pronunciou a respeito do que achava?
http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=8344132&tid=2458147954750710691 Meire_G 08/10/2006 06:18 Adjany,
Não nos desvinculamos totalmente por não ser a medicina uma ciência exata. Ai onde entra o que chamo exercício responsável. Se o médico não tiver auto-crítica suficiente e controle sobre suas pre-concepções, vai deixar de ser cientista e passa a ser curandeiro
A nossa experiência acumulada, tipo a relação que tivemos como nossos pais, as perdas que sofremos, os casos já vistos, e até a religião, acabam influenciando no nosso modo de ver os problemas, mas não podem ser fator de decisão se não forem acompanhadas de um amparo científico. excluir
Adjany 08/10/2006 06:45 Meire
Exatamente o que penso!
É nesse ponto em que as coisas se misturam: somos resultado de todo este "acúmulo"! Se temos algum valor religioso, ele impregna-nos. Daí eu dizer que é difícil desvincular.
Concordo totalmente qdo vc fala da atitude científica!
Greg House 08/10/2006 06:53 Meire, pra variar, tirando a questão da capacidade auto-locomotora do outro tópico, concordo em 100% contigo, incluindo a resposta à Adjany.
Márcia, no tópico que você linkou você afirmou:
"Não gostaria de ser operada por um medico agnostico, se fosse apenas atendimento simples não me importaria, mas entrar em um centro cirurgico para ser operada por alguem que não acredita em deus, com certeza eu iria procurar outro medico"
Se você não se importar, gostaria que você expusesse a lógica por trás desse raciocínio.
Ana 08/10/2006 07:01 O fato de ser médico não nos isenta de sermos pessoas comuns, sujeitos ao sentimento de religiosidade, a ter medos, a ter esperanças, etc. Ser médico não implica automaticamente em ser ateu ou agnóstico, embora muitos médicos o sejam, assim como muitos engenheiros, advogados, professores, pessoas comuns - independentes de suas profissões.
O que é muito importante é não deixar que a crença religiosa afete o raciocínio crítico do médico, chegando ao ponto de renegar conhecimentos científicos e de deixar de aplicá-los em benefício do paciente.
Ser um curandeiro e ser um médico são coisas incompatíveis, com certeza, pois a medicina é ciência e não usa "fórmulas mágicas". Mas crer em Deus ou ter uma religião e ser médico não são coisas incompatíveis, seria o mesmo que dizer que ser médico e ser gente são coisas incompatíveis.
Eu acredito em Deus, isso não afeta minha capacidade como médica nem meu raciocínio crítico nem me leva a negar a ciência (seria absurdo). O fato de crer em Deus, no meu caso, apenas me torna maiis sensível ao sofrimento do doente e a enxergá-lo como algo muito além de um monte de células.
Bruno 08/10/2006 07:05 Márcia
como médico e desprovido de crenças religiosas, tenho o mesmo questionamento que o House... por que vc não gostaria de ser operada por um médico agnóstico, e afinal, que diferença isso faria?
Greg House 08/10/2006 07:08 Ana, por isso quero manter essa discussão no contexto da prática profissional. Alguém ter ou não ter uma crença, seja ela qual for, é (ou deveria ser) irrelevante na hora de medirmos seu valor como profissional. Só o que importa é sua competência em seu campo de atuação, nesse caso a medicina.