23/11/2006
Três novas espécies do menor primata do mundo
do Der Spiegel
Tradução: Deborah Weinberg
No interior das florestas de Madagascar, cientistas alemães descobriram três novas espécies do menor primata do mundo, o rato-lemuriano. Mas o habitat que essas minúsculas criaturas chamam de lar agora está sendo ameaçado pelo desmatamento.
Três anos se passaram desde que as três novas espécies do lêmure - Microcebus bongolavensis, Microcebus danfossi e Microcebus lokobensis - foram descobertas pelos cientistas alemães nas florestas de Madagascar. No entanto, freqüentemente demora muito até que uma espécie animal seja oficialmente "batizada" com um nome científico. A estrada para se obter um nome oficial latino é longa, cheia de armadilhas e obstáculos, que envolve um processo de pesquisa detalhado sobre a nova espécie e que termina com um estudo revisado pela comunidade publicado em uma revista científica. Somente após outros cientistas revisarem a pesquisa, as correções serem feitas e o estudo ser defendido com sucesso, o batismo científico finalmente termina.
Três espécies de ratos-lemurianos agora ultrapassaram este procedimento e são oficialmente as mais novas espécies de primatas do mundo. Trabalhando com colegas em Madagascar, cientistas do Instituto de Zoologia da Universidade de Medicina Veterinária (TiHo) em Hanover, Alemanha, descobriram e classificaram os animais. Os resultados de sua pesquisa serão publicados na próxima edição da revista Molecular Philogenetics and Evolution.
Em uma expedição que começou em 2003 e terminou no ano passado, a equipe de pesquisa foi para Madagascar estudar os padrões de distribuição dos lêmures. O grupo visitou a ilha entre maio e outubro -a estação seca- para observar as populações. Mas o trabalho não foi de forma alguma fácil. "As florestas lá estão encolhendo, e tivemos dificuldades em trabalhar onde os lêmures estavam", disse Ute Radespiel do TiHo ao Speigel Online.
Os menores primatas do mundo
As criaturas são os menores primatas do mundo e portanto os menores parentes em uma ordem biológica que também inclui humanos.
Para o leigo, essas espécies recém descobertas não parecem diferentes de outras espécies. À primeira vista, são todas iguais. Como vivem no escuro da floresta densa, elas não têm a necessidade de serem visivelmente diferentes. Assim, os pesquisadores tiveram que inspecioná-las minuciosamente. Primeiro descobriram um animal cujo rabo era dois centímetros mais longo do que os outros. Essas dificuldades, entretanto, são apenas humanas -os lêmures tornam um pouco mais fácil para membros de sua própria espécie identificarem-se: eles podem ser reconhecidos por seu odor ou sons, em freqüências que uma pessoa não pode ouvir.
Desde então, os pesquisadores puderam determinar as diferenças genéticas, diz Radespiel. "No futuro, a pesquisa vai se concentrar mais no estilo de vida dos animais: onde dormem, como é sua organização social, quando se reproduzem, etc."
Como todos os outros lêmures, os ratos-lemurianos, que são do mesmo tamanho que hamsters, têm rabos entre 12 e 17 centímetros e só são encontrados em Madagascar. Durante o dia eles dormem em ninhos nas folhas e ocos de árvores. À noite são ativos -comunicando-se, movimentando-se e alimentando-se de frutas, resina e insetos. O desenvolvimento diferente dos lêmures levou os pesquisadores a concluírem que o reduzido tamanho das áreas de dispersão devem-se às barreiras criadas por grandes rios.
Pesquisa diante do desmatamento
Peter Kappeler do Centro Alemão de Primatas em Göttingen, disse ao Spiegel Online que um exame minucioso dos ratos-lemurianos é difícil. Para ter as descobertas científicas necessárias, eles têm que ser capturados e medidos, e pequenas amostras de decido devem ser extraídas. "Essa é a questão de metodologia e de possibilidade técnica", disse Kappeler.
O pesquisador pertence a um grupo que passou três anos estudando a distribuição de cinco espécies específicas de lêmures nas florestas do Leste de Madagascar. Ele estima que até agora apenas metade de todas as espécies de lêmures na ilha foram descobertas e nomeadas. E outras novas espécies devem ser anunciadas no próximo ano.
De acordo com Kappeler, a pesquisa de lêmures "é mais ou menos uma competição". Há uma pressão crescente sobre os recursos naturais da quarta maior ilha do mundo e cada vez mais habitats naturais estão sendo destruídos por fogo e abate. Radespiel do TiHo quer montar uma zona de proteção ambiental no futuro próximo em Madagascar. Para muitas espécies, diz ela, até agora não há nenhum santuário.
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