Autor Tópico: 'Lei do chicote' renasce entre índios na Bolívia  (Lida 1820 vezes)

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Skorpios

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'Lei do chicote' renasce entre índios na Bolívia
« Online: 23 de Novembro de 2006, 16:17:03 »
Já viu se a moda pega aqui ? Quem sabe o Lula importa o método ...

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Sob Morales, 'Lei do chicote' renasce entre índios na Bolívia
 
Lucy Ash
 
 
   
Sob a liderança do primeiro índio a presidir o país, a comunidade indígena boliviana está vivendo um renascimento do uso do chicote.

A chicotada, forma tradicional de punição na cultura indígena dos Andes, agora é aceita oficialmente.

Em Wilicala, um vilarejo remoto nas montanhas dos Andes, um grupo de homens caminha para um encontro na praça central com cordas coloridas penduradas sobre seus ombros.

As cordas são chicotes, e os homens que as levam são mallkus – a palavra que designa príncipe ou líder na linguagem aimará.

Francisco Espejo, um idoso cujos dentes estão manchados de verde pelo hábito de mascar folhas de coca, era um deles.

Ele disse estar satisfeito com o fato de que a chicotada agora é uma forma de punição aceita oficialmente.

“Quando tínhamos procuradores do sistema de Justiça ocidental, eles punham as pessoas atrás das grades por 20 anos”, disse.

“Quem tinha dinheiro trazia bons advogados e não ia para a prisão, então que tipo de justiça era aquela?”, questiona. “É muito melhor dar algumas chicotadas em alguém e encerrar o assunto.”

Justiça revolucionada



Uma das principais promessas de campanha do presidente Evo Morales era revolucionar o sistema de Justiça.

Ele prometeu promover tribunais comunitários nos quais os anciãos dos vilarejos julgam os malfeitores e determinam como eles devem ser punidos, de acordo com a tradição pré-colombiana.

Esta prática, que antecede os incas, tem três regras básicas, que são: Amu Sua – Não roube; Amu Llulla – Não minta; e Ama Quella – Não seja preguiçoso.

A maioria dos mallkus são relutantes em conversar com gente de fora.

“A Justiça comunitária era uma prática muito secreta”, explica Wascar Ari, um indígena aimará e professor universitário.

“Quando o Estado boliviano era controlado pelos brancos, eles usavam a Justiça ocidental como forma de subordinar os índios, e a memória desse tempo ainda é forte em algumas partes”, diz.

“Por isso algumas pessoas ainda estão temerosas de falar sobre estas coisas.”

Prática normal

Mas com Evo Morales no poder, o que era secreto está se tornando prática normal.

Ao dar à Justiça tradicional indígena o reconhecimento oficial ao lado das leis nacionais é uma parte vital do que ele chama de “estratégia de descolonização”.

Há um novo departamento dedicado à lei indígena dentro do Ministério da Justiça, e a faculdade de direito da Universidade Mayor de San Andres, em La Paz, recentemente iniciou um curso de três anos de Justiça comunitária para pessoas de origem indígena.

O recém-nomeado chefe do sistema penal da Bolívia, Ramiro Llanos, diz que os antigos métodos indígenas são a melhor forma de lidar com pequenos crimes, como roubo de gado em uma vila.

A superlotação das prisões, ele observa, as reduziu a “depósitos de lixo humano”.

Velocidade de lesma



Um grande acúmulo de casos nos tribunais e a velocidade de lesma do sistema de Justiça boliviana pode levar as pessoas a atos desesperados.

William Vilca, um alfaiate, quase foi morto no verão passado, quando foi confundido com um ladrão por uma multidão enfurecida na cidade de Cochabamba.

“De repente estávamos cercados por umas 40 pessoas gritando ‘Não queremos criminosos aqui! Vamos te queimar, te enforcar e te matar!’”, conta.

“Eles nos amarraram e colocaram gasolina em todas as nossas roupas. Eles então jogaram fósforos acesos em nós e um dos fósforos pegou no meu braço”, relata.

Hoje Villca está envolvido em bandagens que cobrem seu pescoço e seu queixo.
Ele perdeu um dos lóbulos da orelha e tem dificuldades em mover seus dedos.

Apesar de dezenas de enxertos de pele e operações, ele não pode mais usar uma máquina de costura ou segurar um lápis.

Distorção



Cochabamba, a cidade na qual Villca foi atacado, é notória por incidentes similares, de acordo com a advogada defensora dos direitos humanos Rose Gloria Acha.

“O linchamento é uma distorção da Justiça comunitária – os tribunais indígenas nunca determinaram uma pena de morte -, mas, em suas cabeças, as pessoas algumas vezes fazem uma conexão”, diz ela.

“As vítimas de crimes em bairros pobres se sentem abandonadas pelo Estado. Elas dizem que nenhum policial as ajudará se elas não pagarem subornos.”

Grover Zapata, um chefe policial em Cochabamba, nega com firmeza que seus comandados sejam corruptos.

“Nós temos um policial para cada 5 mil cidadãos, e temos escassez de recursos”, diz.

“Algumas vezes, pedimos ao público para ajudar com nossos gastos. É verdade que algumas vezes não temos dinheiro suficiente para a gasolina para ir até o local de um crime, por exemplo”, afirma.

Justiça ausente

A nova ministra da Justiça, Casimira Rodriguez, diz que os linchamentos não têm relação com a Justiça comunitária, mas sim com a total ausência de justiça em um país que gasta apenas 1% de seu Orçamento em seu Judiciário.

A ministra, uma indígena quechua da região rural de Cochabamba, passou sua adolescência em uma virtual escravidão como empregada doméstica antes de escapar e fundar um sindicato de trabalhadores domésticos.

Sua própria experiência com juízes corruptos a deixou desconfiada do sistema de Justiça ocidental.

A ministra descreve a Justiça comunitária como livre, rápida e transparente, mas ela diz que as punições precisam ser bem calculadas e não são aplicáveis a todos os crimes.

Os crimes mais sérios, como estupro ou assassinato, ela diz, deveriam ser julgados pelo sistema normal porque os tribunais comunitários não têm recursos para coleta de provas, como impressões digitais, e para investigação.

“Ambos os tipos de justiça precisam se complementar”, ela diz.
 




http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2006/11/061123_boliviachicoterw.shtml

Offline Rodion

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Re: 'Lei do chicote' renasce entre índios na Bolívia
« Resposta #1 Online: 24 de Novembro de 2006, 00:36:58 »
então, isso é algo que superamos no tempo de roma.
mas nenhuma cultura é melhor que outra, né?
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Offline Dbohr

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Re: 'Lei do chicote' renasce entre índios na Bolívia
« Resposta #2 Online: 24 de Novembro de 2006, 07:02:40 »
Nenhuma cultura é superior a outra, mas PQP, como tem gente que se esforça!! :hihi:

Offline Spitfire

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Re: 'Lei do chicote' renasce entre índios na Bolívia
« Resposta #3 Online: 24 de Novembro de 2006, 07:27:54 »
Se um lado empunha o cicote é porque o outro deixou o bumbum a disposição. Gostaria de ver o "carrasco" tentar aplicar a pena em alguem que não se submete (e que tenha atributos físicos para se garantir na porrada).

Offline Pregador

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Re: 'Lei do chicote' renasce entre índios na Bolívia
« Resposta #4 Online: 24 de Novembro de 2006, 15:07:32 »
É isso aí, temos um vizinho com organização tribal em pleno século XXI. Até na Roma Antiga a justiça era mais avançada...
"O crime é contagioso. Se o governo quebra a lei, o povo passa a menosprezar a lei". (Lois D. Brandeis).

Offline Dr. Manhattan

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Re: 'Lei do chicote' renasce entre índios na Bolívia
« Resposta #5 Online: 24 de Novembro de 2006, 17:07:57 »
Nenhuma cultura é superior a outra, mas algumas culturas garantem maior liberdade para o indivíduo que outras.
Outra coisa: esses tribunais indígenas aceitam apelação da sentença, ou habeas corpus?
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Alan Watts

Offline Dbohr

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Re: 'Lei do chicote' renasce entre índios na Bolívia
« Resposta #6 Online: 24 de Novembro de 2006, 19:18:16 »
Dificilmente :-)

Aliás, gostaria de saber quais são as gradações das sentenças para roubo, assassinato etc.

Ahh, outra: viram que os índios Mapuche do Chile (vou ver se acho o link) estão processando a Microsoft porque a próxima versão do Windows vai sair com suporte à língua deles? O raciocínio é que a companhia não lhes pediu permissão antes de fazer tal coisa, e que isso é uma forma de pirataria cultural.

... então tá...

Offline Rodion

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Re: 'Lei do chicote' renasce entre índios na Bolívia
« Resposta #7 Online: 24 de Novembro de 2006, 19:50:00 »
Nenhuma cultura é superior a outra, mas algumas culturas garantem maior liberdade para o indivíduo que outras.
Outra coisa: esses tribunais indígenas aceitam apelação da sentença, ou habeas corpus?

improvável. habeas corpus é coisa nossa. no japão, por exemplo, não existia até metade do século.
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Re: 'Lei do chicote' renasce entre índios na Bolívia
« Resposta #8 Online: 24 de Novembro de 2006, 19:51:31 »

Offline Dr. Manhattan

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Re: 'Lei do chicote' renasce entre índios na Bolívia
« Resposta #9 Online: 24 de Novembro de 2006, 20:23:07 »
improvável. habeas corpus é coisa nossa. no japão, por exemplo, não existia até metade do século.

Meu consciente, um tanto cínico, rotulou minha pergunta como sendo retórica, enquanto meu
inconsciente, sempre otimista, afirmava que ela não era... Já que o Morales defende a
justiça tradicional indígena [1] em detrimento da "justiça colonialista", ele podia ir mais longe e
descartar outras influências nefastas coloniais, como a Constituição, ou quem sabe, as
Universidades e os partidos políticos. Talvez ele devesse enviar uma comissão ao Camboja,
para aprender com a experiência parecida do Khmer Vermelho.

[1] Maldito Rousseau e seus malditos Bons Selvagens  |(
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Alan Watts

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Re: 'Lei do chicote' renasce entre índios na Bolívia
« Resposta #10 Online: 24 de Novembro de 2006, 21:06:26 »
Spitfire

"o outro deixou o bumbum a disposição" Pra min as chicotadas eram nas costas.. crédo bumbum deve doer menos.

Voce foi banido do RV ?

Não deseje.

danieli

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Re: 'Lei do chicote' renasce entre índios na Bolívia
« Resposta #11 Online: 25 de Novembro de 2006, 04:02:17 »
bem cara do morales isso mesmo tsc tsc

Skorpios

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Re: 'Lei do chicote' renasce entre índios na Bolívia
« Resposta #12 Online: 25 de Novembro de 2006, 06:17:40 »
improvável. habeas corpus é coisa nossa. no japão, por exemplo, não existia até metade do século.

Meu consciente, um tanto cínico, rotulou minha pergunta como sendo retórica, enquanto meu
inconsciente, sempre otimista, afirmava que ela não era... Já que o Morales defende a
justiça tradicional indígena [1] em detrimento da "justiça colonialista", ele podia ir mais longe e
descartar outras influências nefastas coloniais, como a Constituição, ou quem sabe, as
Universidades e os partidos políticos. Talvez ele devesse enviar uma comissão ao Camboja,
para aprender com a experiência parecida do Khmer Vermelho.

[1] Maldito Rousseau e seus malditos Bons Selvagens  |(

Dê-lhe mais um pouco de tempo . Afinal ele está só começando .

Offline Lion

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Re: 'Lei do chicote' renasce entre índios na Bolívia
« Resposta #13 Online: 16 de Novembro de 2010, 23:22:50 »
Punição para traficantes na Malásia: surra com vara de bambu [18+]
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