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Lula é filho do sentimento de culpaAssis Utsch (economista)Lula é conseqüência do sentimento de culpa da sociedade brasileira. Hoje ele vive deblaterando contra a mídia. É uma enorme ingratidão do petista, pois ele é produto dessa mídia. Não fora a grande cobertura que ele sempre teve da imprensa, desde os tempos de sindicalista, quando era festejado, paparicado e adulado pelos meios de comunicação, não teria chegado onde chegou. E é aí que se manifestam os sintomas do sentimento de culpa. Trata-se de um sentimento inerente às sociedades ibero-católicas. É uma herança do cristianismo; ele é de natureza semelhante a um outro sentimento também imperceptível, o auto-engano. Todos aqueles que tenham tido a oportunidade de ler os textos do Novo Testamento podem se recordar da infinidade de versículos que invocam a culpa, o pecado, a auto-flagelação. Como também a resignação, a conformação, a humildade, o desapego. Isto tornou-se um elemento cultural que domina em maior ou menor intensidade todas as sociedades ibero-católicas. Convém entretanto lembrar que os protestantes, embora cristãos, a partir da Reforma Luterana/Calvinista estes aboliram tais características. Além de outras, como por exemplo a atitude diante das riquezas. O protestante passou a contemplar a riqueza acumulada como resultado da bênção de Deus ao seu trabalho, enquanto os católicos continuaram a encarar a prosperidade como caminho para a perdição.
No caso de Lula, sua celebração desde seus primeiros momentos é resultado do aludido sentimento de culpa, presente em todos os segmentos da sociedade brasileira, inclusive na imprensa, é claro. Todos nós, em nosso interior, inconscientemente, nos sentimos culpados pela pobreza, pelas injustiças sociais, pela falta de oportunidades de tantos, pela escravidão feita pelos colonizadores, pela miséria. Então, quando um retirante nordestino se destaca em um sindicato, temos que aproveitar essa oportunidade para lhe dar espaço, abrir-lhe as portas, ajudá-lo a ascender-se e finalmente votar nele e nos redimirmos. É claro que seu êxito não decorreu apenas de uma culpa coletiva. A ambição de Lula, sua pertinácia, seu destemor, sua megalomania, seu apelo ao sentimentalismo, seu linguajar e sua comunicabilidade populistas, essas foram causas também essenciais que se somaram a muita propaganda, demagogia e patrulhamento dos adversários.
De outra parte, os neomarxistas, neocomunistas ou neo-socialistas, todos viram nele um instrumento de seu projeto de poder.
Todo rico, em nossa cultura ibero-católica, padece do sentimento de culpa. Para redimir suas faltas, o empresário manda sua mulher ajudar a Casa de Menores Abandonados. E os pais, miseráveis, conquanto culturalmente padeçam também da mesma sensação de culpa, todavia, não sentem qualquer remorso pelos numerosos filhos que geram, já que foi Deus quem os mandou.
Nesse processo de culpas, os intelectuais somam seus pecados ao seu neomarxismo. Neste caso, festejar alguém vindo dos extratos inferiores, dentro da lógica comunista de colocar o sistema de cabeça para baixo, esta é outra causa que veio a facilitar a ascensão de Lula, já que ele poderia contribuir para o alcance daquelas aspirações utópicas.
Além desses, os sindicatos, principalmente aqueles vinculados às estatais e à Administração Direta, todos viram em Lula uma oportunidade para uma perfeita simbiose. Já que Lula passaria a defender ardorosamente o estatismo ou as estatais e ao mesmo tempo se apoiaria em seus sindicatos para desenvolver sua trajetória.
Ademais, a grande maioria das pessoas tem uma necessidade recôndita de encontrar um salvador, um mito.
Já a reeleição, com o poder e sua máquina nas mãos, mais os métodos populistas de governar, tudo ficou mais fácil, apesar dos colossais escândalos que, não obstante, nem abalaram mais a candidatura, pois o povo já estava saturado daquelas notícias.
E assim geramos o fenômeno Lula.