Autor Tópico: Ateísmo (menos) radical  (Lida 4061 vezes)

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Offline Vito

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Ateísmo (menos) radical
« Online: 03 de Dezembro de 2006, 21:18:30 »
Ateísmo (menos) radical

Sou um desses ateus liberais; o sobrenatural não faz sentido

Aos leitores que porventura estranharem o título desta coluna, explico: semana passada escrevi sobre o ateísmo radical de, entre outros, Richard Dawkins, o biólogo e divulgador de ciência inglês que publicou livros importantíssimos como "O Gene Egoísta" e "O Relojoeiro Cego". Raramente abordo o mesmo tema duas vezes seguidas. Porém, recebi tantas mensagens de leitores a favor e contra que optei por fazê-lo.

Antes, um breve resumo do que disse. Critiquei a postura de Dawkins, a quem admiro muito, por achá-la intolerante e radical. Dawkins essencialmente nega a religião, considerando-a uma crendice absurda, que escraviza as pessoas. Ele não é o primeiro a afirmar isso. Lucrécio, poeta romano que viveu um pouco antes de Jesus Cristo, escreveu: "As pessoas vivem aterrorizadas porque não compreendem as causas das coisas que acontecem na terra e no céu, atribuindo-as cegamente aos caprichos de algum deus".
A razão, leia-se ciência, é a luz que ilumina o obscurantismo da fé.

A maioria das mensagens que recebi defendem a postura de Dawkins. Guerra é guerra, e a religião está em guerra contra a ciência. Intolerância tem de ser enfrentada com intolerância. Em uma delas, Sam Harris, outro autor que defende uma postura anti-religiosa radical, é citado: "a religião bate sem dó e quer ser tratada com luvas de pelica".

Eu sou um desses ateus liberais que Dawkins critica. Para mim, não há absolutamente nenhuma dúvida de que o sobrenatural é completamente incompatível com uma visão científica do mundo, visão que costumo defender arduamente.

Conforme escrevi em várias ocasiões, o sobrenatural não faz qualquer sentido: se algo ocorre, seja lá o que for, desde uma erupção vulcânica a um suposto "milagre", esse algo passa a ser um fenômeno natural e, como tal, regido pelas leis da natureza. Quando as causas ainda não são conhecidas, o dito fenômeno ganha um ar de mistério, criando espaço para o obscurantismo. Mas o fato de elas não serem conhecidas não implica que devam ser atribuídas a causas sobrenaturais: o que a ciência (ainda) não explica não deve ser atribuído a seres divinos cujas ações estão além da razão.

A natureza é sutil; a elucidação dos seus mecanismos leva tempo e requer muita criatividade. O terror a que Lucrécio se refere vem da insegurança causada pela submissão ao desconhecido: tememos o que não conhecemos. Numa era científica, esse terror não deveria existir.

Se sou ateu; se fico transtornado quando vejo a infiltração de grupos religiosos extremistas nas escolas, querendo mudar o currículo, tratando a ciência em pé de igualdade com a Bíblia; se concordo que o extremismo religioso é um dos grandes males do mundo; se batalho contra a disseminação de crenças anticientíficas absurdas como o design inteligente e o criacionismo na mídia; por que, então, critico o ateísmo radical de Dawkins?

Porque não acredito em extremismos e intolerância. Porque não vejo o radicalismo criar amigos ou novos aderentes, apenas mais inimigos e ódio. Porque o extremismo é o pior dos diplomatas. Sei bem do preconceito contra os ateus, preconceito que vem da crença absurda (popular em alguns países, como os EUA) de que só as pessoas religiosas podem ser morais. É essa crença ignorante que deve ser combatida; ninguém precisa acreditar na Bíblia para saber que matar é errado, se bem que esses ensinamentos são esquecidos na brutalidade selvagem das guerras religiosas que pontuam a história. É a hipocrisia usada sob a bandeira da fé que deve ser combatida, não a fé em si.

MARCELO GLEISER é professor de física teórica do Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor do livro "A Harmonia do Mundo"
Fonte: Folha de S. Paulo, Mais!, domingo, 03 de dezembro de 2006

Offline Herf

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Re: Ateísmo (menos) radical
« Resposta #1 Online: 03 de Dezembro de 2006, 22:14:58 »
É isso aí.

Offline Mauricio Rubio

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Re: Ateísmo (menos) radical
« Resposta #2 Online: 04 de Dezembro de 2006, 07:57:00 »
Não seria mais fácil ele se colocar como Agnóstico?
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Buda Sakyamuni

Offline Stéfano

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Re: Ateísmo (menos) radical
« Resposta #3 Online: 04 de Dezembro de 2006, 09:29:05 »
Não seria mais fácil ele se colocar como Agnóstico?
Aonde ele dá a entender que é agnóstico ?
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Offline Geisa

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Re: Ateísmo (menos) radical
« Resposta #4 Online: 04 de Dezembro de 2006, 11:06:02 »
Não seria mais fácil ele se colocar como Agnóstico?
Aonde ele dá a entender que é agnóstico ?

Em nenhum lugar.

Ótimo texto.
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Offline Stéfano

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Re: Ateísmo (menos) radical
« Resposta #5 Online: 04 de Dezembro de 2006, 11:08:48 »
Mudando só um pouco o assunto, vocês não tem notado uma "mudança na maré" no último ano ? Agora cientistas e divulgadores da ciência passaram à ofensiva contra religiões. Até há uma parcela crescente de médicos protestando abertamente contra a Homeopatia.
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Offline Dr. Manhattan

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Re: Ateísmo (menos) radical
« Resposta #6 Online: 04 de Dezembro de 2006, 11:19:20 »
Tenho notado. Não sei no Brasil, mas certamente nos EUA. Acho que isso tem a ver com os livros de Harris, Dennet e Dawkins, além
do trabalho de caras como Penn&Teller. Acho que deva estar relacionado às trapalhadas do governo Bush, assim como ao
11 de Setembro.

Citar
Até há uma parcela crescente de médicos protestando abertamente contra a Homeopatia.

É? Que ótimo!
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Luz

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Re: Ateísmo (menos) radical
« Resposta #7 Online: 04 de Dezembro de 2006, 11:33:10 »
Mudando só um pouco o assunto, vocês não tem notado uma "mudança na maré" no último ano ? Agora cientistas e divulgadores da ciência passaram à ofensiva contra religiões. Até há uma parcela crescente de médicos protestando abertamente contra a Homeopatia.

Eu também tenho notado, e não somente isso... há tempos venho notando na mídia uma mudança de postura, ainda muito sutil, mas crescente. Parece que o ceticismo está na moda. Quem sabe isso não pega?

Uma propaganda de shampoo outro dia me chamou a atenção... acho que para cabelos mais lisos. A mensagem final é: isso não é magia, é ciência.

São coisas pequenas, como essa, mas cada vez mais comuns.
« Última modificação: 04 de Dezembro de 2006, 11:46:55 por Luz »

Offline Vinte e Dois

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Re: Ateísmo (menos) radical
« Resposta #8 Online: 04 de Dezembro de 2006, 11:46:49 »
Bacana mesmo!

seqvme

Offline Fabulous

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Re: Ateísmo (menos) radical
« Resposta #9 Online: 05 de Dezembro de 2006, 22:52:55 »
É a hipocrisia usada sob a bandeira da fé que deve ser combatida, não a fé em si.

 :clapping:
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Offline OldSkull

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Re: Ateísmo (menos) radical
« Resposta #10 Online: 06 de Dezembro de 2006, 09:39:08 »
Citar
Mudando só um pouco o assunto, vocês não tem notado uma "mudança na maré" no último ano ? Agora cientistas e divulgadores da ciência passaram à ofensiva contra religiões. Até há uma parcela crescente de médicos protestando abertamente contra a Homeopatia.
Eu tenho atentado para isso realmente, mas me parece ser mais uma resposta 'as intrusões da religião em lugares como escolas, universidades, etc…
Ultimamente houve um aumento disso, e a resposta por parte de médicos e cientistas me parece uma reação normal
E justa!

"The sun is the same in a relative way but you're older,
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Offline Fabulous

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Re: Ateísmo (menos) radical
« Resposta #11 Online: 06 de Dezembro de 2006, 18:12:48 »
OldSkull você é um dos criadores do malvados?
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Offline Mauricio Rubio

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Re: Ateísmo (menos) radical
« Resposta #12 Online: 06 de Dezembro de 2006, 22:19:54 »
ops, errei o topico  :|
"Para quem a agitação não existe,
e para quem ser/existir e não ser/existir
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Buda Sakyamuni

Offline Fabulous

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Re: Ateísmo (menos) radical
« Resposta #13 Online: 09 de Dezembro de 2006, 09:17:26 »
:erm:
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Offline FxF

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Re: Ateísmo (menos) radical
« Resposta #14 Online: 09 de Dezembro de 2006, 14:20:45 »
Citar
É a hipocrisia usada sob a bandeira da fé que deve ser combatida, não a fé em si.
Fé é acreditar sem evidência. Como combater a hipocrisia na fé sem combater a fé?
Me soou como "Devemos cometer as mortes causadas pelos assassinatos, e não os assassinatos em sí".

Offline Freddy Hazuki

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Re: Ateísmo (menos) radical
« Resposta #15 Online: 09 de Dezembro de 2006, 18:53:56 »
o gleiser é bem do tipo que tem vários, que me incluo, aqui no fórum: ateus cansados de discutir ateísmo e religião. :D
“Milagre: um acontecimento descrito por aqueles que souberam dele por gente que não o viu.”

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Offline Luis Brudna

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Re: Ateísmo (menos) radical
« Resposta #16 Online: 13 de Dezembro de 2006, 11:58:52 »
  O Gleiser qcqbou revelando a propria mascara.

Ficou estranho nesse texto ele tentar ser severo e bondoso ao mesmo tempo.

Tambem passo por esse tipo de conflito. Nao sei qual eh a melhor forma de abordar a questao, e acabo adaptando para cada caso.
Mas como o Gleiser escreve pruma multidao, teve que adotar a postura do bate-e-assopra.

Tipica saia justa. hehe

Offline Geisa

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Re: Ateísmo (menos) radical
« Resposta #17 Online: 14 de Dezembro de 2006, 12:51:33 »
É que chega uma hora que cansamos de debater, e passamos apenas a observar...  :|
"Não há no mundo amor e bondade bastantes, para que ainda possamos dá-los a seres imaginários." Friedrich Nietzsche

 

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