Digamos que alguém quisesse matar todos os católicos do planeta (não que isso seja uma boa idéia) e sugerisse bombardear incessantemente a Alemanha até que não restasse uma só alma viva em território germânico. Sem entrar no mérito das questões morais relativas a um holocausto religioso, já que esta foi apenas uma metáfora, a tática seria duplamente imbecil, retardada, idiota, digna das menos dotadas cabeças do planeta: pelo mero fato de que nem é verdade que na Alemanha só vivem católicos e muito menos é verdade que todos os católicos vivem na Alemanha.
Pois era exatamente esta a idéia da cláusula de barreira, que tombou esta semana por decisão unânime do Supremo Tribunal Federal: a meta era limitar a atuação de partidos de aluguel(leia-se: partidos com pouco ou nenhum elo ideológico, cujas existências servem mais a acordos econômicos, religiosos e corporativos do que políticos), para isso, dizia a lei, deveria se retirar o poder dos partidos pouco votados. Esqueceram de dizer aos imbecís dos legisladores duas coisas:
1.
O partido mais votado do país (PMDB) e outros partidos de grande porte (PL e PTB, pelo menos) encaixam-se perfeitamente no que se define como partido de aluguel.
2.
Alguns dos partidos menos votados como PCO, PSTU e PC do B estão longe desta definição: são partidos que (não se atine para o fato de serem todos de esquerda) possuem cartilhas ideológicas muito bem amarradas e militâncias coerentes com elas. Não é costume ver estes partidos se aliando a outros com os quais não tenham proximidades de pensamento econômico, social e político.
Se ficasse valendo, a cláusula cometeria a proeza de dar superpoderes a homens como Paulo Maluf e Pudim e, em contrapartida, lançar ao limbo político indivíduos como Gabeira e Chico Alencar (que, mais uma vez, não se pese as posições à esquerda ou à direita dos exemplos).
Por enquanto está derrubada, mas o próprio STF admite que a qualquer momento a maldita pode voltar, basta uma manobra do Congresso…