Justamente. Esse é o motivo porque em ciências Humanas geralmente se tem várias teorias ou hipóteses ("escolas") diferentes convivendo; isso se deve ao fato de não ser possível, por exemplo, de se criar um grande "mercado de laboratório" e se controlar todas as variáveis envolvidas. Em economia, os "testes" geralmente são feitos "ao vivo", na prática, através dos governos.
Sendo bom com você, até aqui tudo bem.
Não é necessário ser "bom", muito menos "comigo". Sinta-se à vontade para dizer o que na sua opinião houver de errado.
Leve em conta o enunciado de Keynes que postei.Se uma evidência contrária aparecer contra ele, um economista keynesiano não está em apuros porque suas descrições são só aproximativas.Se o emprego não variar proporcionalmente a quantidade de moeda até o pleno emprego, ela poderá dizer que a demanda efetiva não variou em proporção exata a quantidade de moeda, que os recursos não eram homogêneos ou que a pressão dos sindicatos fez com que os salários subissem antes que o pleno emprego fosse alcançado.
Se o keynesianismo realmente for imune à qualquer tipo de refutação, e se para QUALQUER situação imaginável da economia houver uma "explicação" possível que justifique sua falha de previsão, então segundo o método falsificacionista ele de fato é (e eu reitero isso) uma pseudociência.
Porém, não é esse o caso. O keynesianismo faz predições claras (como as que você citou) e juntamente com elas ele procura listar as situações que fariam essas previsões não se concretizarem. É possível de se acompanhar em diferentes países ou no mesmo ao longo do tempo se realmente estas situações especiais que impediriam o cumprimento pleno das predições ocorreram. É possível, por exemplo, checar se em países diferentes (ou em um mesmo país em épocas diferentes) com diferentes níveis de atuação e exigência por parte dos sindicatos, o emprego subiu menos quando os sindicatos são mais fortes, a despeito de semelhante expansão da moeda e do crédito. Com a demanda efetiva poderia-se fazer o mesmo. Enfim, é possível ao longo do tempo ir verificando se, dentro das variações esperadas, as previsões de uma teoria têm se mostrado válidas e se as "exceções" de fato se enquadram dentro das situações previstas pela própria teoria.
As ciências humanas definitivamente não são como as naturais, disso não há a menor dúvida. Não é razoável se esperar que as teorias das CH sejam avaliadas, aprovadas ou rejeitadas com a mesma rapidez, prontidão e grau de certeza que são as das CN. Sempre haverá muito mais "brechas" por onde os defensores de suas respectivas "escolas" procurarão explicar alguma aparente falha de sua teoria. Disso, porém, não se segue que nas CH, as teorias se adequem a QUALQUER situação empírica imaginável, que nas CH são criadas teorias
irrefutáveis e que os seus cientistas trabalhem na verdade como "advogados" de teorias. Em economia, por exemplo, o tempo se encarrega de revelar o que está de acordo ou não com a realidade. Acho que nenhum economista sério não vê o acontecimento de 1929 como uma objeção à teoria clássica na forma em que estava, da mesma forma que acho que nenhum cientista sério não vê a crise iniciada nos anos 70 como uma objeção ao keynesianismo na forma como estava, bem como não acho que haja cientistas e sociólogos sérios que não pensem que alguma coisa errada há no marxismo.
Acho que deu para entender o que eu disse: Do fato das CH terem objetos de estudo mais complexos do que as naturais não se segue que as teorias por elas formuladas sejam, por exemplo, como a psicanálise de Freud: que se adequem a qualquer situação empírica imaginável, que seus cientistas trabalhem mais como "advogados" de teorias e que a experiência e os acontecimentos ao longo do tempo sejam insuficientes ou incapazes de levarem a mudanças ou abandonos das mesmas.
Todas essas "complicações" assumidas a priori fazem parte da cláusula ceteris paribus, a qual se fosse cumprida, significaria uma evidência contraditória a teoria.Mas a cláusula ceteris paribus assumida por ele nunca ocorre na economia real.Assim, ao apontar um fator complicador envolvido que influencia a determinação de um único acontecimento, mais cedo ou mais tarde ele terá que recorrer a uma indução.A grande complexidade dos fatores envolvidos na determinação de um único acontecimento em algumas ciências simplesmente impede uma regressão infinita de deduções.
Acho que eu só poderei responder isso se você der um exemplo ilustrativo do que está dizendo. Faça isso.
É necessário não confundir indução "heurística" com indução "epistemológica". Somente a segunda é contestada pelo racionalismo crítico.
A indução "heurística" pertence ao chamado "contexto da descoberta" de teorias, que não possue nenhuma relevância para a aceitação ou não delas. Já a indução "epistemológica" participa do chamado "contexto da justificação" das teorias.
Um exemplo: Suponha que um economista perceba, através do acompanhamento dos fatos, que sempre que a taxa de juros média sobe, há uma queda na quantidade de empregos, e vice-versa. Baseado nessa observação, ele então formula a seguinte teoria, lei, postulado, conjectura ou que nome for: "A taxa de empregos varia inversamente à taxa de juros média da economia". Vemos aí que ele utilizou a observação de alguns fatos meramente como "guia" para a concepção dessa lei. Nesse caso a função da indução foi meramente heurística. Suponha então que ele queira alegar que essa lei é verdadeira e será sempre verdadeira porque foi derivada de vários casos que ele observou, ou seja, ele procura justificar uma alegação
universal e
para o futuro com base nos casos que ele observou. Essa é que é a indução "epistemológica", que é contestada pelo falsificacionismo, o qual afirma que só é possível se comprovar a
falsidade de uma lei ou teoria, e nunca a veracidade.
Não é o que eu vejo nas ciências humanas. A maioria das teorias tem seus pressupostos (suas "leis gerais") e fazem sim suas deduções e previsões. A única diferença é que as previsões que fazem admitem muito mais variação, pois múltiplos fatores estão envolvidos e não se pode controlá-los. Portanto, há convivência de teorias diferentes, cada uma explicando à sua maneira essas "exceções" às suas regras.
Acho que respondi também a esta alegação.
Já eu acho que não. Poderia dizer especificamente o que há de errado com essa postagem? Agradeço.
Não entendi. A única exigência é simplesmente que essas explicações não "expliquem tudo" (como fazia Freud), que haja situações imagináveis incompatíveis com a teoria, apenas isso. A ausência disso é que impede o avanço do conhecimento.
Certo,isso é o que NÓS pensamos.Mas para a epistemologia popperiana o poder de explicar deve está limitado ao poder de predizer ou retrodizer.Isto é um fato.
(…)algumas pessoas acham que eu denigro o caráter científico das ciências históricas, tal como a paleontologia ou a história da vida na Terra (…)Isto é um equívoco, e eu desejo aqui afirmar que estas e outras ciências históricas têm caráter científico em minha opinião: suas hipóteses podem em muitos casos serem testadas. Parece que é como se algumas pessoas achassem que as ciências históricas são intestáveis porque descrevem eventos únicos.Entretanto, a descrição de eventos únicos pode muito frequentemente ser testada derivando delas predições testáveis ou retrodições" (Popper,2000).
Popper é claro:
EXPLICAÇÃO SEM PREDIÇÃO=EXPLICAÇÃO NÃO-EMPÍRICA (SEM TESTES).
TEORIA COM POUCO PODER PREDITIVO=TEORIA COM POUCO PODER EXPLANATÓRIO.
http://www.geocities.com/lagopaiva/popper80.htm
Das duas frases que você citou em maiúsculas, só a primeira está correta. A segunda ("teoria com pouco poder preditivo = reoria com poco poder explanatório") não está. Conhece a teoria de Freud? Ela tinha um poder explanatório de fazer inveja à qualquer físico (ela simplesmente explicava TUDO!) , e disso se gabavam seus adeptos, apesar de não ter praticamente nenhum poder preditivo. Não há nada no texto de Popper que você citou e nem nos que eu já li que diga que pouco poder preditivo é igual a pouco poder explicativo, e vice-versa.
Isso foi uma resposta a uma crítica que ele sofreu na New Scientist:
HALSTEAD, Beverly, 1980. Popper: good philosophy, bad science? New Scientist 87(1210):215-217.
Quem ganhou esta discussão foi o Halstead.Teoria do Caos e a teoria dos sistemas de informação complexos conseguem explicar muito com pouco poder preditivo.E aí, como explicar o fato dessas teorias progredirem em poder explanatório a ponto de gerarem benefícios práticos?O mesmo pode ser dito da teoria da seleção natural, o qual Popper chamou de "programa de pesquisa metafísica":http://www.geocities.com/criticalrationalist/popperevolution.htm
Bom, só mesmo dando uma olhada melhor quando eu estiver com mais tempo para checar isso. Até hoje não vi nada de Popper que afirme que pouco poder preditivo implique em pouco poder explicativo, ao contrário, o excesso de "poder explicativo" é que tende a criar teorias imunes à refutação empírica (como o exemplo paradigmático da psicanálise).
Não vejo também como algum benefício prático além do puramente psicológico possa ser obtido de teorias sem nenhum poder preditivo, afinal, se serão aplicadas para algum fim prático, espera-se a partir delas alguns resultados e não se espera outros.
Feyerabend! Você leva ele a sério?!
Não sei porque esta exclamação.Ele foi um dos filósofos da ciência mais notáveis do século XX.
"Notável" Olavo de Carvalho também é, não?
Mas veja que o caso da não-movimentação da Terra era uma hipótese amplamente corroborada por um teste crucial.E veja que a hipótese ad hoc criada para servir como conciliador para a teoria copernicana era feita a partir de uma indução.Qual a hipótese que você acha que Popper ou Hempel escolheriam se obedecessem seus princípios epistemológicos?
Eu já disse anteriormente e vou repetir: o falsificacionismo não manda que se abandone teorias frente à primeira ou a qualquer aparente refutação que apareça. A única coisa que ela manda é o seguinte:
"faça algo à respeito! Alguma coisa está errada! Faça o que quiser desde que isso não diminua a falseabilidade de sua teoria", só isso. Em suma, você pode criar hipóteses que expliquem a não ocorrência do reultado previsto por sua teoria, desde que essa hipótese seja
independentemente testável e gere previsões novas. A decisão prática do que fazer cabe ao cientista decidir, e não ao filósofo ditar. Não cabe ao filósofo ditar em que teoria ou programa de pesquisa o cientista deve trabalhar. O fato de um cientista trabalhar em uma teoria, modificando-a ou aperfeiçoando-a para que fique compatível com os dados empíricos não implica que ele ache, pense ou alegue que a teoria em que ele está trabalhando é a melhor no momento à despeito da experiência.
No caso de Galileu, eu não sei agora especificar a ordem cronológica e nem os detalhes dos acontecmentos;mas ele, com suas experiências com a queda dos corpos que vinha há muito tempo praticando, tinha razões para desconfiar (e dizer) que as leis do movimento aristotélicas estavam incorretas e que era a
mudança de velocidade, e não a velocidade em si, que estava ligada à ação de uma força; do que se deduz o princípio da inércia.