Autor Tópico: Hipotético-dedutivismo  (Lida 5108 vezes)

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Hipotético-dedutivismo
« Online: 10 de Dezembro de 2006, 23:19:20 »
Existiu uma discussão trazida aqui pelo Dante sobre o critério de demarcação de ciência, onde o mesmo pôs um artigo de Peter Achinstein.Nele mostra que existem filósofos empristas que acreditam que toda explicação científica deve ser dedutiva, aplicando o princípio de Modus Tollen.Ainda que existam teorias não adequadas a testes dedutivos, elas conseguem cumprir o critério de demarcação.São teorias da cosmologia, psicologia, geologia, biologia evolutiva, teoria do caos, etc.Entretanto, é impossível retirar tudo de uma explicação científica apenas com dedutivismo em muitas delas.A psicologia por exemplo, não tem teorias com a grande a estrutura dedutiva das ciências naturais, mas dão resultados práticos mesmo assim (ver, Tábula Rasa, de Steven Pinker).E aí? Desconsiderar o indutivismo como uma boa forma de explicar fenômenos já não seria uma idéia ultrapassada?A verdade é ainda mais complicada do que pode se imaginar.Dizer que a essência do método científico é buscar generalizações confiáveis e o que dizer das ciências que possuem teorias a prova de generalizações como as ciências econômicas?A verdade é que boa parte das teorias econômicas são baseadas em trabalhos empíricos, mas só se consegue extrair toda a explicação científica através do poder descritivo e narratório (apesar da busca por generalizações, é inevitável que algumas teorias possuam numerosas exceções).

O que vocês acham?
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Re: Hipotético-dedutivismo
« Resposta #1 Online: 17 de Dezembro de 2006, 11:54:21 »
Veja bem, Huxley. Segundo Popper, o objetivo da ciência é descrever o mundo. Sempre que afirmamos legitimamente alguma coisa sobre ele, estamos negando diversas outras. Por exemplo, se eu digo que amanhã choverá o dia inteiro, estou negando que amanhã não vai chover, que amanhã nevará, que será ensolarado etc.

Se uma das coisas que eu neguei se verificam, então segue lógicamente que há alguma falha na minha teoria.

Só uma observação, não necessáriamente os prognósticos devem ser determinísticos. Pode-se trabalhar com a probabilidade de chover, por exemplo. Neste caso, é claro que um único caso contrário às minhas previsões não é suficiente para falsear a teoria na qual eu me baseei para realizá-la. Seria preciso um levantamento estatístico dos meus prognósticos e dos fenômenos meteorológicos ocorridos.

Assim, se uma teoria não é passível de testes cruciais, ou ela não passa de truísmos dos quais se deduz apenas outros truísmos (por exemplo, "talvez chova amanhã, talvez não chova"), ou ela pode ser contraposta a uma infinidade de teorias alternativas, todas impassíveis de teste (por exemplo, "a causa da chuva é São Pedro" pode ser contraposta a "a causa da chuva é Thor", "a causa da chuva é Tupã", "A causa da chuva é Zeus" etc.).

Todos os ramos científicos que você citou (cosmologia, psicologia, geologia, biologia evolutiva) fazem afirmações sobre o mundo, negam diversas outras, as quais são passíveis de testes.
Por exemplo, teorias evolutivas fazem afirmações acerca da cadeia filogenética, as quais podem ser falseadas pelo registro fóssil.

Quanto a indução, é ela que está defasada. Todas as tentativas de racionalizar a indução foram fracassadas. Ou seja, a indução não é mais legítima do que insights como gênese do conhecimento. Aliás, a própria história da ciência mostra que nem sempre as grandes descobertas foram realizadas por meio de induções. Arquimedes teve um insight sobre a hidrostática ao entrar numa banheira. Kaukulé propôs a cadeia cíclica do benzeno inspirado por um sonho de uma cobra mordendo o própio rabo.

Em vista disto, fundamentar a ciência na indução não apenas carece de base racional, mas impõe um limite ilegítimo à prática científica.

Offline Huxley

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Re: Hipotético-dedutivismo
« Resposta #2 Online: 19 de Dezembro de 2006, 21:39:46 »
Veja bem, Huxley. Segundo Popper, o objetivo da ciência é descrever o mundo. Sempre que afirmamos legitimamente alguma coisa sobre ele, estamos negando diversas outras. Por exemplo, se eu digo que amanhã choverá o dia inteiro, estou negando que amanhã não vai chover, que amanhã nevará, que será ensolarado etc.

Se uma das coisas que eu neguei se verificam, então segue lógicamente que há alguma falha na minha teoria.

Só uma observação, não necessáriamente os prognósticos devem ser determinísticos. Pode-se trabalhar com a probabilidade de chover, por exemplo. Neste caso, é claro que um único caso contrário às minhas previsões não é suficiente para falsear a teoria na qual eu me baseei para realizá-la. Seria preciso um levantamento estatístico dos meus prognósticos e dos fenômenos meteorológicos ocorridos.

Assim, se uma teoria não é passível de testes cruciais, ou ela não passa de truísmos dos quais se deduz apenas outros truísmos (por exemplo, "talvez chova amanhã, talvez não chova"), ou ela pode ser contraposta a uma infinidade de teorias alternativas, todas impassíveis de teste (por exemplo, "a causa da chuva é São Pedro" pode ser contraposta a "a causa da chuva é Thor", "a causa da chuva é Tupã", "A causa da chuva é Zeus" etc.).

O problema é que áreas da ciência onde é impossível os testes cruciais.Por exemplo, o economista John-Maynardi Keynes diz:"Enquanto houver desemprego, o emprego variará proporcionalmente a quantidade de moeda e, quando o pleno emprego é alcançado, os preços variarão proporcionalmente a quantidade de moeda".O mesmo economista assume a priori dois pressupostos irrealistas (que os recursos dos desempregados sejam intercambiáveis e que os fatores de produção se contentam com a mesma taxa de remuneração enquanto houver um excedente deles).Depois, o mesmo admite que a taxa de salários sobe antes do esperado devido a pressão dos sindicatos.Existe inúmeras coisas que pertubarão esta hipótese ultra-irrealista, mas ainda assim ela fornece um "mapa" pelo qual o economista trabalha em aproximações da descrição dos fenômenos .Isso se chama indução, e outro grande economista que fez isso foi Milton Friedman.Estou convencido que em outras áreas da ciência o mesmo ocorra, e muito do que parece ser dedução relaxada é simplesmente indução.Só em Física e Química se extrai a maior parte da explicação científica com dedução rigorosa.A razão disso é a existência de leis naturais universais e  a baixa sensibilidade as condições iniciais em experimentos, coisas consideradas essenciais numa generalização.

Todos os ramos científicos que você citou (cosmologia, psicologia, geologia, biologia evolutiva) fazem afirmações sobre o mundo, negam diversas outras, as quais são passíveis de testes.
Por exemplo, teorias evolutivas fazem afirmações acerca da cadeia filogenética, as quais podem ser falseadas pelo registro fóssil.

Concordo com o que você falou.Existem algumas teorias nestas ciências que são amplamente testáveis por esse método, e a da descendência comum é um exemplo bom citado por você.Mas nem sempre isso ocorre.Por exemplo, imagine um biólogo funcional tentando explicar um traço complexo num organismo, um psicólogo tentando explicar um estado mental consciente e o economista tentando explicar as causas de uma inflação inesperada.Seria extremamente tosco pedir que a capacidade de explicar deles estivesse limitada a capacidade de predição, porque aí limitaria a explicação de tal forma que estas ciências poderiam facilmente ser extintas.

Quanto a indução, é ela que está defasada. Todas as tentativas de racionalizar a indução foram fracassadas. Ou seja, a indução não é mais legítima do que insights como gênese do conhecimento. Aliás, a própria história da ciência mostra que nem sempre as grandes descobertas foram realizadas por meio de induções. Arquimedes teve um insight sobre a hidrostática ao entrar numa banheira. Kaukulé propôs a cadeia cíclica do benzeno inspirado por um sonho de uma cobra mordendo o própio rabo.

Em vista disto, fundamentar a ciência na indução não apenas carece de base racional, mas impõe um limite ilegítimo à prática científica.

Como disse Paul Feyerabend, nenhuma teoria interessante é completamente consistente com todos os fatos relevantes.

Uma coisa interessante foi postado na Wikipédia:

"O principal exemplo da influência das interpretações naturais que Feyerabend fornece é o argumento da torre. O argumento da torre é uma das maiores objeções contra a teoria do movimento da terra. Aristotélicos supunham que o fato de uma pedra ser jogada de uma torre e cair exatamente abaixo dela demonstraria que a terra é estacionária. Eles pensavam que, se a terra se movesse enquanto a pedra estivesse caindo, ela cairia em posição contrária à do movimento. Objetos cairiam diagonalmente em vez de verticalmente. Visto que isto não ocorre, os Aristotélicos pensaram que esta seria uma evidência de que a terra não se move. Se alguém utilizasse as antigas teorias de impulso e movimento relativo, a teoria copernicana certamente pareceria ter sido falsificada pelo fato de que objetos caem verticalmente na terra. Esta observação requereu uma nova interpretação para torná-la compatível com a teoria de Copérnico. Galileu foi capaz de elaborar uma certa mudança a respeito da natureza do impulso e do movimento relativo. Antes que estas teorias fossem articuladas, Galileu teve de lançar mão de alguns métodos ad hoc e proceder de maneira indutiva."
http://pt.wikipedia.org/wiki/Paul_Feyerabend#Trabalhos_a_respeito_da_natureza_do_m.C3.A9todo_cient.C3.ADfico

Obviamente, existem situações em que a regra falseacionista erra feio.Então, porque que o indutivismo não pode falhar quando tenta generalizar através de "suportes argumentativos independentes", como fez Isaac Newton no passado? Considero que a confirmação indutiva é muito relevante, não apenas a busca cega e selvagem por falseadores potenciais.
« Última modificação: 19 de Dezembro de 2006, 21:45:09 por Huxley »
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Re: Hipotético-dedutivismo
« Resposta #3 Online: 24 de Dezembro de 2006, 03:51:26 »
Citação de: Huxley
O problema é que áreas da ciência onde é impossível os testes cruciais.

Justamente. Esse é o motivo porque em ciências Humanas geralmente se tem várias teorias ou hipóteses ("escolas") diferentes convivendo; isso se deve ao fato de não ser possível, por exemplo, de se criar um grande "mercado de laboratório" e se controlar todas as variáveis envolvidas. Em economia, os "testes" geralmente são feitos "ao vivo", na prática, através dos governos.

Citação de: Huxley
Por exemplo, o economista John-Maynardi Keynes diz:"Enquanto houver desemprego, o emprego variará proporcionalmente a quantidade de moeda e, quando o pleno emprego é alcançado, os preços variarão proporcionalmente a quantidade de moeda".O mesmo economista assume a priori dois pressupostos irrealistas (que os recursos dos desempregados sejam intercambiáveis e que os fatores de produção se contentam com a mesma taxa de remuneração enquanto houver um excedente deles).Depois, o mesmo admite que a taxa de salários sobe antes do esperado devido a pressão dos sindicatos.Existe inúmeras coisas que pertubarão esta hipótese ultra-irrealista, mas ainda assim ela fornece um "mapa" pelo qual o economista trabalha em aproximações da descrição dos fenômenos. Isso se chama indução, e outro grande economista que fez isso foi Milton Friedman.

O quê se chama indução? Para mim, indução é fazer afirmações a partir de casos vistos para casos não vistos, sendo que estas afirmações tenham a intenção de fazer afirmações categóricas sobre o futuro. No hipotético-dedutivismo, não se pode fazer afirmações sobre o futuro de uma teoria, mas sobre o passado. Não vi nada "indutivo" aí, ao contrário, vi previsões (admitindo variações, claro) feitas sobre o comportamento da economia baseada em alguns princípios. O pouco que eu conheço do Keynesianismo me permite afirmar que ele faz sim deduções a partir de pressupostos que diferem am alguns posntos da teoria clássica (a negação da Lei de Say, por exemplo). E das afirmações que ele faz, é possível se extrair falseadores potenciais bastante óbvios (Ex: aumentar a quantidade de moeda na economia em que não há pleno emprego e o emprego não aumentar, ou diminuir,).


Citação de: Huxley
Estou convencido que em outras áreas da ciência o mesmo ocorra, e muito do que parece ser dedução relaxada é simplesmente indução.Só em Física e Química se extrai a maior parte da explicação científica com dedução rigorosa.A razão disso é a existência de leis naturais universais e  a baixa sensibilidade as condições iniciais em experimentos, coisas consideradas essenciais numa generalização.

Não é o que eu vejo nas ciências humanas. A maioria das teorias tem seus pressupostos (suas "leis gerais") e fazem sim suas deduções e previsões. A única diferença é que as previsões que fazem admitem muito mais variação, pois múltiplos fatores estão envolvidos e não se pode controlá-los. Portanto, há convivência de teorias diferentes, cada uma explicando à sua maneira essas "exceções" às suas regras.

Citação de: Huxley
Concordo com o que você falou.Existem algumas teorias nestas ciências que são amplamente testáveis por esse método, e a da descendência comum é um exemplo bom citado por você.Mas nem sempre isso ocorre.Por exemplo, imagine um biólogo funcional tentando explicar um traço complexo num organismo, um psicólogo tentando explicar um estado mental consciente e o economista tentando explicar as causas de uma inflação inesperada.Seria extremamente tosco pedir que a capacidade de explicar deles estivesse limitada a capacidade de predição, porque aí limitaria a explicação de tal forma que estas ciências poderiam facilmente ser extintas.

Não entendi. A única exigência é simplesmente que essas explicações não "expliquem tudo" (como fazia Freud), que haja situações imagináveis incompatíveis com a teoria, apenas isso. A ausência disso é que impede o avanço do conhecimento.


Citação de: Huxley

Como disse Paul Feyerabend, nenhuma teoria interessante é completamente consistente com todos os fatos relevantes.

Feyerabend! Você leva ele a sério?!
Tudo bem, não importa. Continuemos.

Citação de: Huxley
Uma coisa interessante foi postado na Wikipédia:

"O principal exemplo da influência das interpretações naturais que Feyerabend fornece é o argumento da torre. O argumento da torre é uma das maiores objeções contra a teoria do movimento da terra. Aristotélicos supunham que o fato de uma pedra ser jogada de uma torre e cair exatamente abaixo dela demonstraria que a terra é estacionária. Eles pensavam que, se a terra se movesse enquanto a pedra estivesse caindo, ela cairia em posição contrária à do movimento. Objetos cairiam diagonalmente em vez de verticalmente. Visto que isto não ocorre, os Aristotélicos pensaram que esta seria uma evidência de que a terra não se move. Se alguém utilizasse as antigas teorias de impulso e movimento relativo, a teoria copernicana certamente pareceria ter sido falsificada pelo fato de que objetos caem verticalmente na terra. Esta observação requereu uma nova interpretação para torná-la compatível com a teoria de Copérnico. Galileu foi capaz de elaborar uma certa mudança a respeito da natureza do impulso e do movimento relativo. Antes que estas teorias fossem articuladas, Galileu teve de lançar mão de alguns métodos ad hoc e proceder de maneira indutiva."
http://pt.wikipedia.org/wiki/Paul_Feyerabend#Trabalhos_a_respeito_da_natureza_do_m.C3.A9todo_cient.C3.ADfico

Obviamente, existem situações em que a regra falseacionista erra feio

Há um livro que não lembro o nome do autor ( alguma coisa Anderson) em que os argumentos de Feyerabend são rebatidos um a um.
 O que importa no caso (e que muitas pessoas confundem esse ponto) é que o falsificacionismo não manda eliminar-se de forma imediata teorias logo que se encontre qualquer observação falseando-as, a única coisa que o método exige, grosso modo, é que se faça alguma coisa a respeito: pode-se (deve-se) inicialmente repetir o experimento para ver se não há erros, deve se fazer o mesmo experimento utilizando-se outros meios, testar alguma hipótese auxiliar que foi utilizada na consecução do experimento, pode-se modificar a teoria e pode-se abandonar a teoria. Usando a terminologia de Kuhn, tanto a estratégia "normal" (modificar, ampliar ou desenvolver a teoria) quanto a "revolucionária" (abandonar a teoria em prol de outra)  são compatíveis com o falsificacionismo. A única exigência é que não se crie hipóteses ad hoc (que diminuam o grau de falseabilidade da teoria) para tentar preservar as teorias da refutação, nada mais.

Citação de: Huxley"
.Então, porque que o indutivismo não pode falhar quando tenta generalizar através de "suportes argumentativos independentes", como fez Isaac Newton no passado? Considero que a confirmação indutiva é muito relevante, não apenas a busca cega e selvagem por falseadores potenciais.

Os falseadores potenciais, digamos, "surgem" naturalmente em qualquer teoria que tenha conteúdo empírico relevante.
Não acredite em quem lhe disser que a verdade não existe.

"O maior vício do capitalismo é a distribuição desigual das benesses. A maior virtude do socialismo é a distribuição igual da miséria." (W. Churchill)

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Re: Hipotético-dedutivismo
« Resposta #4 Online: 25 de Dezembro de 2006, 11:10:07 »
Huxley, me parece que você interpreta o conceito de "teste crucial" do falseacionismo popperiano como um mero experimento de laboratório no qual, caso o resultado seja x, então a teoria é falsa. Não é tão simplista assim:

1º) Qualquer observação pode ser um teste crucial

Numa pesquisa de campo podemos encontrar um fossil ou um espécime vivo de uma nova espécime que podem estar de acordo ou desacordo com nossas teorias acerca de equilíbro ecológico ou sobre a inserção das espécies na cadeia filogenética.
A constatação de que no mundo em que vivemos as previsões de Marx não se concretizaram pode ser interpretada como um teste crucial de resultado desfavorável ao marxismo.


2º) Um resultado desfavorável a uma teoria não significa que ela seja completamente falsa

O próprio Popper identificou identificou este equívoco (inferir a falsidade completa da teoria devido a um resultado desfavorável a ela em um teste) como falseacionismo ingênuo. Afinal, talvez apenas uma única sentença que compõe a teoria seja falsa. Ou seja, um resultado desfavorável não nos obriga a descartar uma teoria, mas refiná-la.


3º) Teorias que fazem prognósticos estatísticos não são falseadas por um único resultado

Por exemplo, uma teoria segundo a qual a tendência de uma pessoa ao suicídio é inversamente proporcional à incidência de luz solar no ambiente em que ela vive não seria falseada por um único caso de um equatoriano suicida, nem por um único caso de  norueguês de bem com a vida.
Teorias como esta são passíveis de testes cruciais, só que muito mais complexos.

Offline Huxley

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Re: Hipotético-dedutivismo
« Resposta #5 Online: 25 de Dezembro de 2006, 23:35:27 »
Justamente. Esse é o motivo porque em ciências Humanas geralmente se tem várias teorias ou hipóteses ("escolas") diferentes convivendo; isso se deve ao fato de não ser possível, por exemplo, de se criar um grande "mercado de laboratório" e se controlar todas as variáveis envolvidas. Em economia, os "testes" geralmente são feitos "ao vivo", na prática, através dos governos.
Sendo bom com você, até aqui tudo bem.

O quê se chama indução? Para mim, indução é fazer afirmações a partir de casos vistos para casos não vistos, sendo que estas afirmações tenham a intenção de fazer afirmações categóricas sobre o futuro. No hipotético-dedutivismo, não se pode fazer afirmações sobre o futuro de uma teoria, mas sobre o passado. Não vi nada "indutivo" aí, ao contrário, vi previsões (admitindo variações, claro) feitas sobre o comportamento da economia baseada em alguns princípios. O pouco que eu conheço do Keynesianismo me permite afirmar que ele faz sim deduções a partir de pressupostos que diferem am alguns posntos da teoria clássica (a negação da Lei de Say, por exemplo). E das afirmações que ele faz, é possível se extrair falseadores potenciais bastante óbvios (Ex: aumentar a quantidade de moeda na economia em que não há pleno emprego e o emprego não aumentar, ou diminuir,).

Leve em conta o enunciado de Keynes que postei.Se uma evidência contrária aparecer contra ele, um economista keynesiano não está em apuros porque suas descrições são só aproximativas.Se o emprego não variar proporcionalmente a quantidade de moeda até o pleno emprego, ela poderá dizer que a demanda efetiva não variou em proporção exata a quantidade de moeda, que os recursos não eram homogêneos ou que a pressão dos sindicatos fez com que os salários subissem antes que o pleno emprego fosse alcançado.Todas essas "complicações" assumidas a priori fazem parte da cláusula ceteris paribus, a qual se fosse cumprida, significaria uma evidência contraditória a teoria.Mas a cláusula ceteris paribus assumida por ele nunca ocorre na economia real.Assim, ao apontar um fator complicador envolvido que influencia a determinação de um único acontecimento, mais cedo ou mais tarde ele terá que recorrer a uma indução.A grande complexidade dos fatores envolvidos na determinação de um único acontecimento em algumas ciências simplesmente impede uma regressão infinita de deduções.

Não é o que eu vejo nas ciências humanas. A maioria das teorias tem seus pressupostos (suas "leis gerais") e fazem sim suas deduções e previsões. A única diferença é que as previsões que fazem admitem muito mais variação, pois múltiplos fatores estão envolvidos e não se pode controlá-los. Portanto, há convivência de teorias diferentes, cada uma explicando à sua maneira essas "exceções" às suas regras.

Acho que respondi também a esta alegação.



Não entendi. A única exigência é simplesmente que essas explicações não "expliquem tudo" (como fazia Freud), que haja situações imagináveis incompatíveis com a teoria, apenas isso. A ausência disso é que impede o avanço do conhecimento.

Certo,isso é o que NÓS pensamos.Mas para a epistemologia popperiana o poder de explicar deve está limitado ao poder de predizer ou retrodizer.Isto é um fato.

 (…)algumas pessoas acham que eu denigro o caráter científico das ciências históricas, tal como a paleontologia ou a história da vida na Terra (…)Isto é um equívoco, e eu desejo aqui afirmar que estas e outras ciências históricas têm caráter científico em minha opinião: suas hipóteses podem em muitos casos serem testadas. Parece que é como se algumas pessoas achassem que as ciências históricas são intestáveis porque descrevem eventos únicos.Entretanto, a descrição de eventos únicos pode muito frequentemente ser testada derivando delas predições testáveis ou retrodições" (Popper,2000).

Popper é claro:

EXPLICAÇÃO SEM PREDIÇÃO=EXPLICAÇÃO NÃO-EMPÍRICA (SEM TESTES).

TEORIA COM POUCO PODER PREDITIVO=TEORIA COM POUCO PODER EXPLANATÓRIO.

http://www.geocities.com/lagopaiva/popper80.htm

Isso foi uma resposta a uma crítica que ele sofreu na New Scientist:

HALSTEAD, Beverly, 1980. Popper: good philosophy, bad science? New Scientist 87(1210):215-217.

Quem ganhou esta discussão foi o Halstead.Teoria do Caos e a teoria dos sistemas de informação complexos conseguem explicar muito com pouco poder preditivo.E aí, como explicar o fato dessas teorias progredirem em poder explanatório a ponto de gerarem benefícios práticos?O mesmo pode ser dito da teoria da seleção natural, o qual Popper chamou de "programa de pesquisa metafísica":http://www.geocities.com/criticalrationalist/popperevolution.htm



Feyerabend! Você leva ele a sério?!

Não sei porque esta exclamação.Ele foi um dos filósofos da ciência mais notáveis do século XX.


Há um livro que não lembro o nome do autor ( alguma coisa Anderson) em que os argumentos de Feyerabend são rebatidos um a um.
 O que importa no caso (e que muitas pessoas confundem esse ponto) é que o falsificacionismo não manda eliminar-se de forma imediata teorias logo que se encontre qualquer observação falseando-as, a única coisa que o método exige, grosso modo, é que se faça alguma coisa a respeito: pode-se (deve-se) inicialmente repetir o experimento para ver se não há erros, deve se fazer o mesmo experimento utilizando-se outros meios, testar alguma hipótese auxiliar que foi utilizada na consecução do experimento, pode-se modificar a teoria e pode-se abandonar a teoria. Usando a terminologia de Kuhn, tanto a estratégia "normal" (modificar, ampliar ou desenvolver a teoria) quanto a "revolucionária" (abandonar a teoria em prol de outra)  são compatíveis com o falsificacionismo. A única exigência é que não se crie hipóteses ad hoc (que diminuam o grau de falseabilidade da teoria) para tentar preservar as teorias da refutação, nada mais.

Mas veja que o caso da não-movimentação da Terra era uma hipótese amplamente corroborada por um teste crucial.E veja que a hipótese ad hoc criada para servir como conciliador para a teoria copernicana era feita a partir de uma indução.Qual a hipótese que você acha que Popper ou Hempel escolheriam se obedecessem seus princípios epistemológicos?
« Última modificação: 25 de Dezembro de 2006, 23:52:21 por Huxley »
"A coisa mais importante da vida é saber o que é importante". Otto Milo

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Re: Hipotético-dedutivismo
« Resposta #6 Online: 26 de Dezembro de 2006, 04:50:11 »
Justamente. Esse é o motivo porque em ciências Humanas geralmente se tem várias teorias ou hipóteses ("escolas") diferentes convivendo; isso se deve ao fato de não ser possível, por exemplo, de se criar um grande "mercado de laboratório" e se controlar todas as variáveis envolvidas. Em economia, os "testes" geralmente são feitos "ao vivo", na prática, através dos governos.

Sendo bom com você, até aqui tudo bem.

Não é necessário ser "bom", muito menos "comigo". Sinta-se à vontade para dizer o que na sua opinião houver de errado.


Citação de: Huxley
Leve em conta o enunciado de Keynes que postei.Se uma evidência contrária aparecer contra ele, um economista keynesiano não está em apuros porque suas descrições são só aproximativas.Se o emprego não variar proporcionalmente a quantidade de moeda até o pleno emprego, ela poderá dizer que a demanda efetiva não variou em proporção exata a quantidade de moeda, que os recursos não eram homogêneos ou que a pressão dos sindicatos fez com que os salários subissem antes que o pleno emprego fosse alcançado.

Se o keynesianismo realmente for imune à qualquer tipo de refutação, e se para QUALQUER situação imaginável da economia houver uma "explicação" possível que justifique sua falha de previsão, então segundo o método falsificacionista ele de fato é (e eu reitero isso) uma pseudociência.

Porém, não é esse o caso. O keynesianismo faz predições claras (como as que você citou) e juntamente com elas ele procura listar as situações que fariam essas previsões não se concretizarem. É possível de se acompanhar em diferentes países ou no mesmo ao longo do tempo se realmente estas situações especiais que impediriam o cumprimento pleno das predições ocorreram. É possível, por exemplo, checar se em países diferentes (ou em um mesmo país em épocas diferentes) com diferentes níveis de atuação e exigência por parte dos sindicatos, o emprego subiu menos quando os sindicatos são mais fortes, a despeito de semelhante expansão da moeda e do crédito. Com a demanda efetiva poderia-se fazer o mesmo. Enfim, é possível ao longo do tempo ir verificando se, dentro das variações esperadas, as previsões de uma teoria têm se mostrado válidas e se as "exceções" de fato se enquadram dentro das situações previstas pela própria teoria.

As ciências humanas definitivamente não são como as naturais, disso não há a menor dúvida. Não é razoável se esperar que as teorias das CH sejam avaliadas, aprovadas ou rejeitadas com a mesma rapidez, prontidão e grau de certeza que são as das CN. Sempre haverá muito mais "brechas" por onde os defensores de suas respectivas "escolas" procurarão explicar alguma aparente falha de sua teoria. Disso, porém, não se segue que nas CH, as teorias se adequem a QUALQUER situação empírica imaginável, que nas CH são criadas teorias irrefutáveis e que os seus cientistas trabalhem na verdade como "advogados" de teorias. Em economia, por exemplo, o tempo se encarrega de revelar o que está de acordo ou não com a realidade. Acho que nenhum economista sério não vê o acontecimento de 1929 como uma objeção à teoria clássica na forma em que estava, da mesma forma que acho que nenhum cientista sério não vê a crise iniciada nos anos 70 como uma objeção ao keynesianismo na forma como estava, bem como não acho que haja cientistas e sociólogos sérios que não pensem que alguma coisa errada há no marxismo.

Acho que deu para entender o que eu disse: Do fato das CH terem objetos de estudo mais complexos do que as naturais não se segue que as teorias por elas formuladas sejam, por exemplo, como a psicanálise de Freud: que se adequem a qualquer situação empírica imaginável, que seus cientistas trabalhem mais como  "advogados" de teorias e que a experiência e os acontecimentos ao longo do tempo sejam insuficientes ou incapazes de levarem a mudanças ou abandonos das mesmas. 

Citação de: Huxley
Todas essas "complicações" assumidas a priori fazem parte da cláusula ceteris paribus, a qual se fosse cumprida, significaria uma evidência contraditória a teoria.Mas a cláusula ceteris paribus assumida por ele nunca ocorre na economia real.Assim, ao apontar um fator complicador envolvido que influencia a determinação de um único acontecimento, mais cedo ou mais tarde ele terá que recorrer a uma indução.A grande complexidade dos fatores envolvidos na determinação de um único acontecimento em algumas ciências simplesmente impede uma regressão infinita de deduções.

Acho que eu só poderei responder isso se você der um exemplo ilustrativo do que está dizendo. Faça isso.

É necessário não confundir indução "heurística" com indução "epistemológica". Somente a segunda é contestada pelo racionalismo crítico.
A indução "heurística" pertence ao chamado "contexto da descoberta" de teorias, que não possue nenhuma relevância para a aceitação ou não delas. Já a indução "epistemológica" participa do chamado "contexto da justificação" das teorias.

Um exemplo: Suponha que um economista perceba, através do acompanhamento dos fatos, que sempre que a taxa de juros média sobe, há uma queda na quantidade de empregos, e vice-versa. Baseado nessa observação, ele então formula a seguinte teoria, lei, postulado, conjectura ou que nome for: "A taxa de empregos varia inversamente à taxa de juros média da economia". Vemos aí que ele utilizou a observação de alguns fatos meramente como "guia" para a concepção dessa lei. Nesse caso a função da indução foi meramente heurística. Suponha então que ele queira alegar que essa lei é verdadeira e será sempre verdadeira porque foi derivada de vários casos que ele observou, ou seja, ele procura justificar uma alegação universal e para o futuro com base nos casos que ele observou. Essa é que é a indução "epistemológica", que é contestada pelo falsificacionismo, o qual afirma que só é possível se comprovar a falsidade de uma lei ou teoria, e nunca a veracidade.


Citação de: Huxley
Não é o que eu vejo nas ciências humanas. A maioria das teorias tem seus pressupostos (suas "leis gerais") e fazem sim suas deduções e previsões. A única diferença é que as previsões que fazem admitem muito mais variação, pois múltiplos fatores estão envolvidos e não se pode controlá-los. Portanto, há convivência de teorias diferentes, cada uma explicando à sua maneira essas "exceções" às suas regras.

Acho que respondi também a esta alegação.

Já eu acho que não. Poderia dizer especificamente o que há de errado com essa postagem? Agradeço.


Citação de: Huxley
Não entendi. A única exigência é simplesmente que essas explicações não "expliquem tudo" (como fazia Freud), que haja situações imagináveis incompatíveis com a teoria, apenas isso. A ausência disso é que impede o avanço do conhecimento.

Certo,isso é o que NÓS pensamos.Mas para a epistemologia popperiana o poder de explicar deve está limitado ao poder de predizer ou retrodizer.Isto é um fato.

 (…)algumas pessoas acham que eu denigro o caráter científico das ciências históricas, tal como a paleontologia ou a história da vida na Terra (…)Isto é um equívoco, e eu desejo aqui afirmar que estas e outras ciências históricas têm caráter científico em minha opinião: suas hipóteses podem em muitos casos serem testadas. Parece que é como se algumas pessoas achassem que as ciências históricas são intestáveis porque descrevem eventos únicos.Entretanto, a descrição de eventos únicos pode muito frequentemente ser testada derivando delas predições testáveis ou retrodições" (Popper,2000).

Popper é claro:

EXPLICAÇÃO SEM PREDIÇÃO=EXPLICAÇÃO NÃO-EMPÍRICA (SEM TESTES).

TEORIA COM POUCO PODER PREDITIVO=TEORIA COM POUCO PODER EXPLANATÓRIO.

http://www.geocities.com/lagopaiva/popper80.htm

Das duas frases que você citou em maiúsculas, só a primeira está correta. A segunda ("teoria com pouco poder preditivo = reoria com poco poder explanatório") não está. Conhece a teoria de Freud? Ela tinha um  poder explanatório de fazer inveja à qualquer físico (ela simplesmente explicava TUDO!) , e disso se gabavam seus adeptos, apesar de não ter praticamente nenhum poder preditivo. Não há nada no texto de Popper que você citou e nem nos que eu já li que diga que pouco poder preditivo é igual a pouco poder explicativo, e vice-versa.


Citação de: Huxley
Isso foi uma resposta a uma crítica que ele sofreu na New Scientist:

HALSTEAD, Beverly, 1980. Popper: good philosophy, bad science? New Scientist 87(1210):215-217.

Quem ganhou esta discussão foi o Halstead.Teoria do Caos e a teoria dos sistemas de informação complexos conseguem explicar muito com pouco poder preditivo.E aí, como explicar o fato dessas teorias progredirem em poder explanatório a ponto de gerarem benefícios práticos?O mesmo pode ser dito da teoria da seleção natural, o qual Popper chamou de "programa de pesquisa metafísica":http://www.geocities.com/criticalrationalist/popperevolution.htm

Bom, só mesmo dando uma olhada melhor quando eu estiver com mais tempo para checar isso. Até hoje não vi nada de Popper que afirme que pouco poder preditivo implique em pouco poder explicativo, ao contrário, o excesso de "poder explicativo" é que tende a criar teorias imunes à refutação empírica (como o exemplo paradigmático da psicanálise). 

Não vejo também como algum benefício prático além do puramente psicológico possa ser obtido de teorias sem nenhum poder preditivo, afinal, se serão aplicadas para algum fim prático, espera-se a partir delas alguns resultados e não se espera outros.

Citação de: Huxley
Feyerabend! Você leva ele a sério?!

Não sei porque esta exclamação.Ele foi um dos filósofos da ciência mais notáveis do século XX.

"Notável" Olavo de Carvalho também é, não?

Citação de: Huxley
Mas veja que o caso da não-movimentação da Terra era uma hipótese amplamente corroborada por um teste crucial.E veja que a hipótese ad hoc criada para servir como conciliador para a teoria copernicana era feita a partir de uma indução.Qual a hipótese que você acha que Popper ou Hempel escolheriam se obedecessem seus princípios epistemológicos?

Eu já disse anteriormente e vou repetir: o falsificacionismo não manda que se abandone teorias frente à primeira ou a qualquer aparente refutação que apareça. A única coisa que ela manda é o seguinte: "faça algo à respeito! Alguma coisa está errada! Faça o que quiser desde que isso não diminua a falseabilidade de sua teoria", só isso. Em suma, você pode criar hipóteses que expliquem a não ocorrência do reultado previsto por sua teoria, desde que essa hipótese seja independentemente testável e gere previsões novas. A decisão prática do que fazer cabe ao cientista decidir, e não ao filósofo ditar. Não cabe ao filósofo ditar em que teoria ou programa de pesquisa o cientista deve trabalhar. O fato de um cientista trabalhar em uma teoria, modificando-a ou aperfeiçoando-a para que fique compatível com os dados empíricos não implica que ele ache, pense ou alegue que a teoria em que ele está trabalhando é a melhor no momento à despeito da experiência.

No caso de Galileu, eu não sei agora especificar a ordem cronológica e nem os detalhes dos acontecmentos;mas ele, com suas experiências com a queda dos corpos que vinha há muito tempo praticando, tinha razões para desconfiar (e dizer) que as leis do movimento aristotélicas estavam incorretas e que era a mudança de velocidade, e não a velocidade em si, que estava ligada à ação de uma força; do que se deduz o princípio da inércia.

Não acredite em quem lhe disser que a verdade não existe.

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Re: Hipotético-dedutivismo
« Resposta #7 Online: 27 de Dezembro de 2006, 23:56:53 »

Acho que eu só poderei responder isso se você der um exemplo ilustrativo do que está dizendo. Faça isso.
 

Lá vai o exemplo. Keynes afirma num cenário de expansão monetária, o salário não aumenta antes que se atinja o pleno emprego.Ou seja, um fator de produção se contenta com a mesma remuneração enquanto houver excedente dele.Uma das causa que ele justifica porque isso não ocorre no mundo real é porque as diferentes classes sindicais criam uma espécie de "regra justa do nível de salário" (digamos 2 salários de um enfermeiro=1 salário de um médico) e a consequência disso é uma subida nos salários generalizada quando é concedido aumento a uma só classe;isso ocorre também porque os patrões tendem a ceder a essas organizações quando estão fazendo bons negócios.Essa complicação de sua hipótese inicial é uma observação que deve ter sido feita em leituras de notícias de jornal sobre as negociações entre empresários e sindicato de trabalhadores.Assim, o keynesiano deve fazer uma indução, ou seja, generalizar sem recorrer a corroboração falseacionista.Entendeu, agora?


Já eu acho que não. Poderia dizer especificamente o que há de errado com essa postagem? Agradeço.
 
Na verdade, é que em disciplinas onde o acaso e a aleatoriedade imperam e as generalizações usualmente tem numerosas exceções, não há sentido em aplicar o teste da falsificação para corroborar teorias.A classe de falseadores potenciais estará esvaziada facilmente pelas numerosas suposições e pelas numerosas pertubações possíveis as condições iniciais postuladas.



Das duas frases que você citou em maiúsculas, só a primeira está correta. A segunda ("teoria com pouco poder preditivo = reoria com poco poder explanatório") não está. Conhece a teoria de Freud? Ela tinha um  poder explanatório de fazer inveja à qualquer físico (ela simplesmente explicava TUDO!) , e disso se gabavam seus adeptos, apesar de não ter praticamente nenhum poder preditivo. Não há nada no texto de Popper que você citou e nem nos que eu já li que diga que pouco poder preditivo é igual a pouco poder explicativo, e vice-versa.

Ele disse que quando as ciências históricas não tem condições de reproduzir os eventos, deve-se recorrer a predições ou retrodições.Ele só são testáveis quando são cumpridos algum desses dois requitos são cumpridos.Isso confirma a afirmação 1.Quanto a 2, você ainda não entende a inquietação de Popper na década de 70 quando analisou o fato que a teoria da seleção natural não poderia explicar muita coisa, por não ter poder preditivo/retroditivo elevado?

"neither Darwin nor any Darwinian has so far given an actual causal explanation of the adaptive evolution of any single organism or any single organ. All that has been shown is that such explanations might exist (that is, to say) they are not logically impossible."

"At first sight, natural selection appears to explain the evolution of variety - and in a way it does; but hardly in a scientific way."

" Adaptation or fitness is defined by modern evolutionists as survival value and can be measured by actual success in survival: there is hardly any possibility of testing a theory as feeble as this."

http://www.creationism.org/csshs/v02n4p20.htm

Eu já disse anteriormente e vou repetir: o falsificacionismo não manda que se abandone teorias frente à primeira ou a qualquer aparente refutação que apareça. A única coisa que ela manda é o seguinte: "faça algo à respeito! Alguma coisa está errada! Faça o que quiser desde que isso não diminua a falseabilidade de sua teoria", só isso. Em suma, você pode criar hipóteses que expliquem a não ocorrência do reultado previsto por sua teoria, desde que essa hipótese seja independentemente testável e gere previsões novas. A decisão prática do que fazer cabe ao cientista decidir, e não ao filósofo ditar. Não cabe ao filósofo ditar em que teoria ou programa de pesquisa o cientista deve trabalhar. O fato de um cientista trabalhar em uma teoria, modificando-a ou aperfeiçoando-a para que fique compatível com os dados empíricos não implica que ele ache, pense ou alegue que a teoria em que ele está trabalhando é a melhor no momento à despeito da experiência.


Eu não sei porque estou constantemente sendo acusado de não ter conhecimento sobre o falseacionismo sofisticado e está intoxicado pelo falseacionismo ingênuo.Eu sequer estou falando que teorias ad hocs degeneram teorias.


Não vejo também como algum benefício prático além do puramente psicológico possa ser obtido de teorias sem nenhum poder preditivo, afinal, se serão aplicadas para algum fim prático, espera-se a partir delas alguns resultados e não se espera outros.


"Sem nenhum poder preditivo" não foi o que falei.O que eu quero dizer é que está cheio de teorias com pouco poder preditivo que recorrem ao poder narrativo/ descritivo para extrair tudo de importante de uma explicação científica.Teoria do caos, teorias das ciências históricas, da psicologia,etc.Algumas teorias possuem poder preditivo tão grande que conseguem extrair explicações a partir de suas predições feitas e corroboradas.Outras não. 


 
No caso de Galileu, eu não sei agora especificar a ordem cronológica e nem os detalhes dos acontecmentos;mas ele, com suas experiências com a queda dos corpos que vinha há muito tempo praticando, tinha razões para desconfiar (e dizer) que as leis do movimento aristotélicas estavam incorretas e que era a mudança de velocidade, e não a velocidade em si, que estava ligada à ação de uma força; do que se deduz o princípio da inércia.

Ok, estarei agurdando maiores detalhes e informações sobre isso.




« Última modificação: 28 de Dezembro de 2006, 13:16:21 por Huxley »
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Re: Hipotético-dedutivismo
« Resposta #8 Online: 28 de Dezembro de 2006, 11:24:00 »
Huxley, explicar sem prever nada a religião já faz há muito tempo. Se uma teoria não "dá a cara a tapa" para a possibilidade de ser falseada por meio de testes cruciais, então podemos estabelecer uma infinidade de teorias alternativas, todas igualmente impassíveis de teste.

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Re: Hipotético-dedutivismo
« Resposta #9 Online: 08 de Fevereiro de 2007, 04:27:44 »

Acho que eu só poderei responder isso se você der um exemplo ilustrativo do que está dizendo. Faça isso.
 

Lá vai o exemplo. Keynes afirma num cenário de expansão monetária, o salário não aumenta antes que se atinja o pleno emprego.Ou seja, um fator de produção se contenta com a mesma remuneração enquanto houver excedente dele.Uma das causa que ele justifica porque isso não ocorre no mundo real é porque as diferentes classes sindicais criam uma espécie de "regra justa do nível de salário" (digamos 2 salários de um enfermeiro=1 salário de um médico) e a consequência disso é uma subida nos salários generalizada quando é concedido aumento a uma só classe;isso ocorre também porque os patrões tendem a ceder a essas organizações quando estão fazendo bons negócios.Essa complicação de sua hipótese inicial é uma observação que deve ter sido feita em leituras de notícias de jornal sobre as negociações entre empresários e sindicato de trabalhadores.Assim, o keynesiano deve fazer uma indução, ou seja, generalizar sem recorrer a corroboração falseacionista.Entendeu, agora?

Entendi.
Façamos o seguinte: vamos definir claramente aqui a "lei geral" expressa por Keynes e uma causa de exceção
à mesma:

Lei -  Enquanto houver trabalhadores de uma determinada classe desempregados, o salário médio recebido pelos trabalhadores dessa classe não aumentará, mesmo em um cenário de expansão monetária.

Exceção - A atuação dos sindicatos causa o aumento dos salários em um cenário de expansão econômica mesmo com a existência de excedentes desempregados.

Você disse que a "lei" não á falseável, pois a grande quantidade de exceções que vão surgindo acabam esvaziando a classe dos falseadores potenciais. Bom, Somente olhando a lei e sua exceção assim expressas eu já consigo imaginar uma forma dela ser falseada: o não cumprimento da mesma em uma situação onde a atuação dos sindicatos seja nula ou insignificante (Por exemplo: ditaduras, principalmente se forem não-esquerdistas, como as que ocorreram na América Latina). Se em um país onde os sindicatos são reprimidos ou controlados pelo estado os salários subirem em um cenário de expansão monetária mesmo com a existência de um excedente desempregado, bom, isso para mim é uma refutação à essa lei. O keynesianismo poderia atribuir esse não-cumprimento a outros fatores, mas se essa capacidade de "explicar" não-cumprimentos de predições do keynesianismo for infinita, ou seja, se os keynesianos em hipótese nenhuma imaginável considerarem que há algo de errado com a sua teoria (a exemplo dos marxistas), então o keynesianismo seria sim uma pseudociência.   

Você disse que Keynes recorre à indução. Para mim, indução é você fazer afirmações universais baseadas na observação de alguns casos. No caso da lei que ele expressou, eu lhe pergunto: como ela foi obtida via indução se o próprio autor diz que ela não é observada no mundo real e procura explicar o porquê disso?

Ela seria obtida indutivamente se ele tivesse observado acontecer empiricamente, no "mundo real", a não-subida dos salários de uma classe a despeito da expansão monetária. Ela na verdade foi obtida dedutivamente por keynes a partir de outros "princípios" de sua teoria econômica. E mesmo se fosse obtida indutivamente, a indução não teria base lógica nem empírica para afirmar que essa lei sempre ocorrerá (conforme disse Hume) . Daí vem o falsificacionismo, que afirma que não podemos fazer nenhuma afirmação conclusiva acerca da veracidade de uma afirmação universal, mas apenas sobre a sua falsidade. E se essa lei de Keynes for infalseável (até agora não vi porque não seria falseável), será de fato pseudocientífica, sem nenhum conteúdo empírico.

No caso da exceção à lei, ela foi sim obtida "indutivamente", mas a indução não serve para justificar a afirmação de que ela será sempre válida, mas perceba que um único caso contraditório já é suficiente para conclusivamente se afirmar a sua falsidade, entendeu? Não confunda indução "heurística" com indução epistemológica. O falsificacionismo só contesta a segunda.   
 
 
 
Citação de: Huxley

Já eu acho que não. Poderia dizer especificamente o que há de errado com essa postagem? Agradeço.
 
Na verdade, é que em disciplinas onde o acaso e a aleatoriedade imperam e as generalizações usualmente tem numerosas exceções, não há sentido em aplicar o teste da falsificação para corroborar teorias.A classe de falseadores potenciais estará esvaziada facilmente pelas numerosas suposições e pelas numerosas pertubações possíveis as condições iniciais postuladas. [/b]

Se for realmente assim, ou seja, se não houver a possibilidade da existência de nenhum falseador potencial viável, ou melhor, se sempre for possível "explicar" o não-cumprimento de uma predição, então estas disciplinas realmente não trariam nenhuma informação empírica relevante e realmente seriam pseudocientíficas. Não sei se elas realmente são assim, mas pelo menos o exemplo que você citou do keynesianismo não me parece ser.




Citação de: Huxley
Ele disse que quando as ciências históricas não tem condições de reproduzir os eventos, deve-se recorrer a predições ou retrodições.Ele só são testáveis quando são cumpridos algum desses dois requitos são cumpridos.Isso confirma a afirmação 1.Quanto a 2, você ainda não entende a inquietação de Popper na década de 70 quando analisou o fato que a teoria da seleção natural não poderia explicar muita coisa, por não ter poder preditivo/retroditivo elevado?

"neither Darwin nor any Darwinian has so far given an actual causal explanation of the adaptive evolution of any single organism or any single organ. All that has been shown is that such explanations might exist (that is, to say) they are not logically impossible."

"At first sight, natural selection appears to explain the evolution of variety - and in a way it does; but hardly in a scientific way."

" Adaptation or fitness is defined by modern evolutionists as survival value and can be measured by actual success in survival: there is hardly any possibility of testing a theory as feeble as this."

http://www.creationism.org/csshs/v02n4p20.htm


Pelo que eu sei até o momento, Popper reconheceu que a Teoria da Evolução é sim falseável nos anos 80. E mesmo se isso não ocorresse, não significaria nada, pois as idéias são aceitas por si mesmas e não por quem as diz, e Popper não é infalível (talvez ele estivesse "empolgado" com a sua derrubada de teorias famosas e tenha inicialmente achado que a TE tinha como ser incluído entre elas, quem sabe?).

Será que realmente a seleção natural não é falseável? Ou melhor, será que realmente não é possível fazer nenhum tipo de previsão com ela? Será que não podemos afirmar, por exemplo, que um pássaro com bicos robustos prevalecerá sobre outro com bicos delicados em um ambiente onde a alimentação disponível são apenas sementes de casca dura? Será que só mesmo esperando para ver quem "prevaleceu" em um ambiente podemos afirmar quem é o mais adaptado ao mesmo?

Bom, eu até o momento acho que não. Gostaria de boas razões para o contrário.



 
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Re: Hipotético-dedutivismo
« Resposta #10 Online: 12 de Abril de 2007, 22:41:20 »
Entendi.
Façamos o seguinte: vamos definir claramente aqui a "lei geral" expressa por Keynes e uma causa de exceção
à mesma:

Lei -  Enquanto houver trabalhadores de uma determinada classe desempregados, o salário médio recebido pelos trabalhadores dessa classe não aumentará, mesmo em um cenário de expansão monetária.

Exceção - A atuação dos sindicatos causa o aumento dos salários em um cenário de expansão econômica mesmo com a existência de excedentes desempregados.

Você disse que a "lei" não á falseável, pois a grande quantidade de exceções que vão surgindo acabam esvaziando a classe dos falseadores potenciais. Bom, Somente olhando a lei e sua exceção assim expressas eu já consigo imaginar uma forma dela ser falseada: o não cumprimento da mesma em uma situação onde a atuação dos sindicatos seja nula ou insignificante (Por exemplo: ditaduras, principalmente se forem não-esquerdistas, como as que ocorreram na América Latina). Se em um país onde os sindicatos são reprimidos ou controlados pelo estado os salários subirem em um cenário de expansão monetária mesmo com a existência de um excedente desempregado, bom, isso para mim é uma refutação à essa lei. O keynesianismo poderia atribuir esse não-cumprimento a outros fatores, mas se essa capacidade de "explicar" não-cumprimentos de predições do keynesianismo for infinita, ou seja, se os keynesianos em hipótese nenhuma imaginável considerarem que há algo de errado com a sua teoria (a exemplo dos marxistas), então o keynesianismo seria sim uma pseudociência. 

Veja.Essa lei geral que dei é apenas um dos modelos keynesianos.Esse modelo é chamado "keynesianismo extremo".Num plano cartesiano com uma coordenada horizontal representando o nível de produção e a coordenada vertical representando o nível de salários, a curva que representa a função da oferta agregada de emprego é reta até chegar o ponto de pleno emprego.Ou seja, é robustamente falseável, mas é uma hipótese altamente irrealista.O outro modelo que mostrei é mais realista, que é chamado "keynesianismo covencional".Postula que o salário não é rígido e se eleva antes que o pleno emprego seja alcançado.Porém, a confirmação dessa teoria teria uma precisão baixa.Bastaria que a curva do gráfico fosse positivamente inclinada para que o modelo acertasse a predição que ele faz.Se a curva fosse vertical, teríamos outro modelo, que é o que os economistas neoclássicos defendiam antes da Grande Depressão:os salários são flexíveis e se ajustam pela lei de oferta e demanda.

Todos os três modelos podem está certos.E por um motivo muito simples.As particularidades de cada país e de cada economia é que irão determinar a validade da cláusula ceteris paribus.E nem sempre os estudos econométricos são sofisticados o suficiente para detectar a influência de uma variável que pertuba as condições iniciais.Nenhum dos modelos foram refutados porque toda vez que aparece o que parece ser uma refutação do modelo é na verdade uma violação da validade da clásula ceteris paribus.Existem vários modelos econômicos que vão dos mais simples e irrealistas até os complexos e realistas.Keynes sugere que o bom economista é aquele que tem a sensibilidade para escolher o modelo mais adequado conforme a situação.As explicações são muito aproximativas e acredito que qualquer um que já estudou Economia (ou outras disciplinas com altíssima complexidade como a Biologia Evolutiva) ficaria totalmente insatisfeito com o conceito "falsificação", uma vez que é extremamente difícil saber quando um modelo econômico está "conclusivamente" falseado.Basicamente, houveram muitos modelos econômicos refutados, mas a coexistência de múltiplos modelos é uma prova que não existe um sistema sofisticado e neutro de escolha de teorias para algumas disciplinas científicas.Por isso, economistas são vítimas dessa piada:"coloque um debate entre 10 economistas e terá 11 opiniões diferentes".





 
 
 
Citação de: Huxley
Na verdade, é que em disciplinas onde o acaso e a aleatoriedade imperam e as generalizações usualmente tem numerosas exceções, não há sentido em aplicar o teste da falsificação para corroborar teorias.A classe de falseadores potenciais estará esvaziada facilmente pelas numerosas suposições e pelas numerosas pertubações possíveis as condições iniciais postuladas. [/b]

Citação de: Dono da Verdade
Se for realmente assim, ou seja, se não houver a possibilidade da existência de nenhum falseador potencial viável, ou melhor, se sempre for possível "explicar" o não-cumprimento de uma predição, então estas disciplinas realmente não trariam nenhuma informação empírica relevante e realmente seriam pseudocientíficas. Não sei se elas realmente são assim, mas pelo menos o exemplo que você citou do keynesianismo não me parece ser.

De fato,não é pseudociência.Não falo em ausência total de falseadores potenciais, mas de robustos falseadores potenciais (como este: para se refutar a lei do quadrado do inverso basta tomar medidas que indiquem que a força é proporcional ao cubo da distância).Além disso, as explicações detalhadas são complexas e a existência de múltiplos modelos visa suprir as possíveis violações das clásulas ceteris paribus.A complexidade das teorias retira a objetividade dos mecanismos epistemológicos de escolhas de teorias.








Citação de: Huxley
Ele disse que quando as ciências históricas não tem condições de reproduzir os eventos, deve-se recorrer a predições ou retrodições.Ele só são testáveis quando são cumpridos algum desses dois requitos são cumpridos.Isso confirma a afirmação 1.Quanto a 2, você ainda não entende a inquietação de Popper na década de 70 quando analisou o fato que a teoria da seleção natural não poderia explicar muita coisa, por não ter poder preditivo/retroditivo elevado?

"neither Darwin nor any Darwinian has so far given an actual causal explanation of the adaptive evolution of any single organism or any single organ. All that has been shown is that such explanations might exist (that is, to say) they are not logically impossible."

"At first sight, natural selection appears to explain the evolution of variety - and in a way it does; but hardly in a scientific way."

" Adaptation or fitness is defined by modern evolutionists as survival value and can be measured by actual success in survival: there is hardly any possibility of testing a theory as feeble as this."

http://www.creationism.org/csshs/v02n4p20.htm


Citação de: Huxley
Pelo que eu sei até o momento, Popper reconheceu que a Teoria da Evolução é sim falseável nos anos 80. E mesmo se isso não ocorresse, não significaria nada, pois as idéias são aceitas por si mesmas e não por quem as diz, e Popper não é infalível (talvez ele estivesse "empolgado" com a sua derrubada de teorias famosas e tenha inicialmente achado que a TE tinha como ser incluído entre elas, quem sabe?).

Será que realmente a seleção natural não é falseável? Ou melhor, será que realmente não é possível fazer nenhum tipo de previsão com ela? Será que não podemos afirmar, por exemplo, que um pássaro com bicos robustos prevalecerá sobre outro com bicos delicados em um ambiente onde a alimentação disponível são apenas sementes de casca dura? Será que só mesmo esperando para ver quem "prevaleceu" em um ambiente podemos afirmar quem é o mais adaptado ao mesmo?

Bom, eu até o momento acho que não. Gostaria de boas razões para o contrário.
 

Não disse que a seleção natural era infalseável.Aliás, nem Popper disse isso alguma vez.Eu disse que existia uma assimetria significativa entre predição e explicação em estudos de adaptações na Biologia Evolutiva.A seleção natural dá conta de um número quase infinito de explicações para adaptações com poucas predições.E é dessa assimetria que Popper não gostava.As ciências históricas tentam compensar
essa assimetria com as narrativas históricas e o seu poder descritivo.




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Re: Hipotético-dedutivismo
« Resposta #11 Online: 13 de Agosto de 2007, 11:56:59 »
Citação de: Huxley

(...)As explicações são muito aproximativas e acredito que qualquer um que já estudou Economia (ou outras disciplinas com altíssima complexidade como a Biologia Evolutiva) ficaria totalmente insatisfeito com o conceito "falsificação", uma vez que é extremamente difícil saber quando um modelo econômico está "conclusivamente" falseado.Basicamente, houveram muitos modelos econômicos refutados, mas a coexistência de múltiplos modelos é uma prova que não existe um sistema sofisticado e neutro de escolha de teorias para algumas disciplinas científicas.Por isso, economistas são vítimas dessa piada:"coloque um debate entre 10 economistas e terá 11 opiniões diferentes".

Bom, então a pergunta que a mim resta lhe fazer é: a "irrefutabilidade" das teorias das ciências que trabalham com modelos complexos e não-exatos é grande o suficiente a ponto da exigência de possuírem falseadores potenciais ser totalmente inadequada para as mesmas?

Em outras palavras: Apesar de serem úteis, informativas e eventualmente válidas, tais teorias são irrefutáveis?
 
 
Citação de: Huxley
Citação de: Dono da Verdade
Se for realmente assim, ou seja, se não houver a possibilidade da existência de nenhum falseador potencial viável, ou melhor, se sempre for possível "explicar" o não-cumprimento de uma predição, então estas disciplinas realmente não trariam nenhuma informação empírica relevante e realmente seriam pseudocientíficas. Não sei se elas realmente são assim, mas pelo menos o exemplo que você citou do keynesianismo não me parece ser.

De fato,não é pseudociência.Não falo em ausência total de falseadores potenciais, mas de robustos falseadores potenciais (como este: para se refutar a lei do quadrado do inverso basta tomar medidas que indiquem que a força é proporcional ao cubo da distância).Além disso, as explicações detalhadas são complexas e a existência de múltiplos modelos visa suprir as possíveis violações das clásulas ceteris paribus.A complexidade das teorias retira a objetividade dos mecanismos epistemológicos de escolhas de teorias.

Mesma pergunta anterior.

Citação de: Huxley
Não disse que a seleção natural era infalseável.Aliás, nem Popper disse isso alguma vez.Eu disse que existia uma assimetria significativa entre predição e explicação em estudos de adaptações na Biologia Evolutiva.A seleção natural dá conta de um número quase infinito de explicações para adaptações com poucas predições.E é dessa assimetria que Popper não gostava.As ciências históricas tentam compensar
essa assimetria com as narrativas históricas e o seu poder descritivo.

Eu ainda não "assimilei" essa de que a seleção natural tem pouco poder preditivo, pois até o momento me pareceu óbvio que a partir do conhecimento das características de um determinado ambiente poderíamos prever, de forma razoável, quais características presentes em um ser lhe darão vantagem ou desvantagem nesse ambiente.





[/quote]
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