Caçando discos voadores na internetpor Carlos Orsi
Recebi nesta semana – e, pelo que pude ver no cabeçalho da mensagem, um monte de outros jornalistas também – um e-mail assinado por A.J. Gevaerd, editor da Revista UFO, pedindo apoio a um abaixo assinado, mantido online (mas que pode também ser baixado em PDF), requisitando que o governo brasileiro libere suas “informações sigilosas” sobre óvnis, ou UFOs, avistados sobre o território nacional.
Movido por uma certa curiosidade, escrevi para o sr. Gevaerd pedindo mais informações. Ele me respondeu o seguinte:
A campanha é a UFOs: Liberdade de Informação Já, que pede, entre outras coisas, que o Governo abra seus arquivos quanto aos UFOs e aceite a participação dos ufólogos civis na investigação de acontecimentos registrados em Território Nacional. Temos informações seguras e documentos que comprovam a ação dos militares na investigação do Fenômeno UFO no Brasil e a retenção dos resultados. O Brasil, nesse aspecto, segue uma postura internacional de acobertamento dos fatos, capitaneada pelos EUA. Dito assim, parece sinistro.
Agora, o curioso é que a parte sobre informações seguras e documentos que comprovam a ação dos militares na investigação do Fenômeno UFO no Brasil e a retenção dos resultados é confirmada, de certa forma, pela própria Força Aérea Brasileira, ainda que o tom sinistro desapareça.
Em e-mail que recebi do Centro de Comunicação da FAB, depois de perguntar sobre o assunto, a Força Aérea pondera que tem o dever de realizar interceptações de alvos radar não identificados (tráfegos desconhecidos) pelo Sistema de Defesa Aérea Brasileiro, mas que é errôneo imaginar que a Aeronáutica realize investigações científicas a respeito de todo tipo de fenômeno aéreo.
A mensagem esclarece: Na verdade, o Comando da Aeronáutica não dispõe de uma estrutura especializada para empreender tal atividade. É importante ressaltar que a Aeronáutica mantém apenas os registros de relatos da visualização de fenômenos aéreos que a ela são informados. No intuito de resguardar a privacidade daqueles que prestam esse tipo de informação, os registros são classificados e guardados conforme legislação específica.
Devo dizer que, a despeito de minha simpatia pela privacidade das pessoas, seria bom se os relatos pudessem vir a público, para que investigações científicas fossem realizadas, se necessário. Isso pelo menos reduziria a margem para o uso do manjado argumento a partir da ignorância – o velho truque de afirmar que, já que eu não sei o que é e você também não, posso dizer que é que eu quiser. Quando, por exemplo, “luz no céu” vira, sem mais nem menos, “nave extraterrestre”.
Blue Book
Em 1947, a Força Aérea dos EUA decidiu investigar os óvnis, que na época eram a maior novidade, criando o Projeto Blue Book (Livro Azul). Quando o projeto foi encerrado, em 1969, um total de 701 objetos continuavam não identificados, de um total de 12.618 (5,6%). A conclusão geral foi de que tudo tinha sido uma enorme perda de tempo.
Claro que desde então pululam teorias conspiratórias ( como em uma postura internacional de acobertamento dos fatos, capitaneada pelos EUA), mas elas quase sempre fazem água. A única conspiração ufológica comprovada foi a de Roswell, onde a falsa queda do óvni foi inventada para acobertar um teste militar. Sim, é isso, não o contrário: para conferir, procure “Project Mogul” no Google, e divirta-se.
Alguém poderia perguntar, e tudo que aconteceu de 1969 para cá? Bem, a melhor forma de responder a isso é dizer que cada caso é um caso e, sim, muitos nunca foram esclarecidos – mas, aqui, voltamos ao argumento a partir da ignorância: se não há prova, por que falar em ETs seria melhor que pombos, meteoros, anjos, vacas aladas ou torradeiras voadoras?
Também é preciso dizer que há inúmeras ocorrências já devidamente explicadas, como o leitor mais curioso poderá ver em alguns dos links abaixo: o ufólogo cético Philip Klass tem uma longa e honrosa carreira na área. E, em termos de explicação global, genérica, a melhor talvez seja a psicossocial, que trata os óvnis como um novo tipo de mitologia. Afinal, se os gregos falavam com os deuses, por que os modernos não podem falar com ETs?
Fonte:
www.estadao.com.br