Maliki contra-ataca: "Tropas dos EUA podem sair já dentro de três meses"Cadi FernandesFonte:
DNNum vigoroso contra-ataque, depois de publicamente desautorizado pelos Estados Unidos, o primeiro- -ministro iraquiano disse, ontem, que George W. Bush nunca esteve tão fraco como agora; garantiu que, se tudo correr bem, as tropas americanas podem sair já dentro de três a seis meses; e avisou que, se cair, não cairá sozinho, arrastando consigo a Administração americana.
É a vingança de Nuri al-Maliki, que, ao contrário do que ditam as regras, não foi servida fria, antes quente, poucas horas após as críticas que lhe foram dirigidas, na terça-feira à noite, pelo Presidente Bush. E em bandeja de luxo, numa entrevista colectiva a três jornais de reputação internacional: Washington Post (EUA), The Times (Reino Unido) e Corriere della Sera (Itália). Já Bush optara pelo canal americano de televisão pública PBS.
Durante uma hora, no seu gabinete na Zona Verde de Bagdad, Nuri al-Maliki, socorrendo-se de um tradutor, explicou o que pensa das críticas, dantes veladas, agora explícitas, que lhe têm sido dirigidas pelos dois principais responsáveis americanos - Bush e a secretária de Estado, Condoleezza Rice.
E fez uma revelação: o grosso dos soldados americanos pode partir já dentro de três a seis meses, assim os EUA municiem suficientemente as forças iraquianas. "Penso que, se tivermos êxito na aplicação do acordo que prevê maior rapidez na distribuição de armas às nossas forças militares, de três a seis meses a nossa necessidade de tropas americanas diminuirá dramaticamente."
Mas, enfatizou, isso só acontecerá se houver um "verdadeiro esforço para apoiar as nossas forças militares, equipá-las, armá-las". Com uma certeza: "O êxito se obtiver no Iraque será um êxito para o Presidente Bush e os EUA, e vice-versa. Um desaire seria um desaire para o Presidente Bush e os EUA."
Desafiante, também reiterou a vontade de diálogo com o Irão e a Síria, cenário que Bush tem procurado rechaçar a todo o custo, invocando apoios de Teerão e de Damasco aos insurrectos iraquianos. E aqui Maliki vê uma garantia de independência em relação a Washington.
Aviso e desafio que não invalidam, porém, um agradecimento. "A democracia de que desfrutamos... e a liberdade que o povo do Iraque desfruta não teriam sido possíveis sem a ajuda" de Bush e dos EUA.
Dito isto, cioso da "soberania" do seu país - que, contudo, se sentiu forçado a lembrar -, Maliki propõe-se dar luta sem quartel às milícias, reclamando créditos pelo que já fez e pelo que fará. "Nos últimos dias, foram detidas 400 pessoas" do Exército de Mehdi, milícia do líder xiita radical Moqtada al-Sadr, cujo ascendente político crescente Washington não vê com bons olhos. E, "nos próximos dias, todo o mundo testemunhará como lidamos com pessoas que violam a lei ou como lidamos com militares que diferenciam um fora-de- lei de outro".
Sobre o enforcamento de Saddam, falou das suas "aventuras", das suas "guerras", das suas "execuções", dos seus "crimes", das suas "armas químicas", mas afiançou que nada disto pesou no momento de lhe tirar a vida. Ou seja, a execução não constituiu "um acto de vingança".
Washington já reagiu, acusando o toque, mas não sem uma ponta de ironia nas entrelinhas, com o porta-voz da Casa Branca a congratular-se assim: "Temos ali um primeiro-ministro que diz claramente que quer fazer o que os políticos e americanos e o público americano querem vê-lo fazer." Alguém que "entende seriamente assumir as suas responsabilidades quando se trata de garantir a segurança no Iraque".