É Caro ser BrasileiroRodrigo Constantino
O iPod, aparelho reprodutor de música da Apple que virou febre de consumo no mundo, pode ser usado agora como um indicador que compara o custo de vida dos diferentes países, tal como o Bic Mac já é utilizado. Afinal, trata-se de um produto homogêneo, vendido praticamente no mundo todo. Serve então para dar uma idéia de quanto custa, convertido para uma mesma moeda, consumir um mesmo produto nesses vários países. O Brasil, para espanto de alguns, é o local onde o iPod é mais caro, de longe!
Baseado nos preços de janeiro de 2007, para o mesmo modelo de iPod, o aparelho custa US$ 328 para o consumidor brasileiro, enquanto o segundo país onde ele é mais caro é a Índia, sendo que lá ele sai por US$ 222. Ou seja, um mesmo iPod custa quase 50% a mais no Brasil que na Índia, o segundo colocado da lista de mais caros do mundo. Vamos lembrar que a Índia também é um país pobre, mas ainda assim, um brasileiro precisa gastar quase 50% a mais que um indiano para curtir a nova febre de consumo do momento.
O país onde o iPod é mais barato é o Canadá, onde o produto da Apple é vendido por US$ 144. Em seguida vem Hong Kong, Japão e Estados Unidos, todos países ricos, com elevada renda per capita, mas onde o iPod não chega a custar US$ 150. Em resumo, um americano da classe média, que ganha quase 5 vezes o que ganha um brasileiro da classe média, precisa gastar menos da metade que o brasileiro para adquirir o mesmo produto!
Alguns poderiam argumentar que isso não é tão relevante, pois estamos falando de um bem de luxo, supérfluo. Mas há dois grandes equívocos nessa linha de pensamento. Em primeiro lugar, tal retrato não é válido somente para o iPod, mas para inúmeros produtos importados, incluindo bens de capital que são fundamentais para a competitividade das empresas. Um computador não sai no Brasil por menos que o dobro daquilo que é vendido nos Estados Unidos, e praticamente todas as empresas usam computadores como insumo, na era do capital intelectual. Em segundo lugar, o dinheiro gasto a mais pelos “ricos” brasileiros poderia ser poupado, virando investimento produtivo, ou direcionado para a compra de outros bens e serviços, gerando mais empregos. Mas ele acaba nas mãos ineficientes do governo, via elevados impostos, e costuma ser desviado pela corrupção, como no “mensalão”, ou se perder no assistencialismo estatal. Seria infinitamente mais eficiente essa montanha de dinheiro permanecer no setor privado, gerando mais riqueza para a nação. Assim ocorre nos Estados Unidos, por exemplo.
O Brasil é um país onde é muito caro ser da classe média. De cara, o governo leva cerca de 40% daquilo que ganhamos, através dos impostos que somos obrigados a pagar, ainda que nos chamem de “contribuintes”. Depois, é preciso gastar novamente com aquilo que, supostamente, seria o motivo para tantos impostos: educação, saúde e segurança. Afinal, os serviços prestados pelo governo, para serem péssimos, teriam que melhorar muito ainda. Cobram impostos escandinavos, mas oferecem serviços africanos. O sujeito de classe média acaba tendo que pagar tudo dobrado, tendo que buscar refúgio no setor mais eficiente, que é o setor privado. Por fim, depois de tão pouco que sobra nos bolsos da classe média, ainda sai tudo mais caro em termos de consumo. Se um carro é o desejo de consumo da família de classe média, esta terá que desembolsar mais que o dobro daquilo que seria necessário caso estivesse nos Estados Unidos, para a compra do mesmo carro! É muito caro mesmo ser brasileiro.
A solução, evidentemente, passa por uma drástica redução dos gastos do governo, com uma concomitante redução acentuada da carga tributária. Não há mistério, não há milagre, não há malabarismos a serem feitos. Quando alguém quer realmente emagrecer, a receita é conhecida: fechar a boca e fazer exercício. Ao menos este é o caminho sustentável de longo prazo. As soluções heterodoxas costumam trazer seqüelas e resultados insatisfatórios ao longo do tempo. Na questão econômica é parecido. Sem esforço na redução do governo não haverá resultado decente. O mais lamentável é que muitos, analogamente falando, ainda sugerem que o ideal para emagrecer é comer mais e mais e ficar parado na completa inércia.
Estão à espera de um milagre, pedindo mais governo e desejando mais progresso. Eu não acredito em milagres, mas sim em esforço e dedicação, aliados ao conhecimento. E você, caro leitor? Jogou na Mega-Sena, acreditou na possibilidade de um milagre entre 50 milhões de alternativas infelizes? Tudo bem, faz parte sonhar. E nesse caso custa barato. Mas espero que não tenha sido o caso de contar com tal fortuna para pagar por gastos já realizados. Pois eu seria capaz de apostar muito alto que você, caro leitor, não foi o vencedor da aposta. Acertei?
O custo do iPod é apenas mais um indicativo de que há muito o que se mudar no Brasil, pois com o modelo atual, que conta com um governo inchado e hiperativo, será cada vez mais caro ser brasileiro. E a renda não é suficiente para isso. Veremos, de longe, os outros países que adotam reformas liberais crescendo e reduzindo a pobreza. Enquanto isso, estaremos aqui ganhando muito menos que eles, mas pagando muito mais pelos mesmos produtos. Coisa de maluco...
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