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Roger Waters e o lado escuro da fama
« Online: 28 de Janeiro de 2007, 17:18:34 »
Waters e o lado escuro da fama
Ex-líder do Pink Floyd, que traz o show Dark Side of the Moon ao Morumbi, em março, tem entrevista rara distribuída por agente

Jotabê Medeiros

Um jogador inveterado, que gosta de jogar gamão por dinheiro e se justifica com uma citação de Truman Capote: 'Não basta ter êxito, eu preciso ver os outros fracassarem.'

Um caçador passional, que trocou a Inglaterra pelos Estados Unidos por irritação, depois que o premiê Tony Blair assinou lei proibindo a caça à raposa com cães.

Um fanático por política, que aposta em Barak Obama, candidato democrata ao governo dos Estados Unidos, como um exemplo de 'verdade, integridade e humanidade', e que cita um aforismo do século 18 para definir George W. Bush: 'O patriotismo é o último refúgio de um canalha.'

Todos esses personagens são Roger Waters, de 62 anos, ex-líder do grupo Pink Floyd, que chega ao Brasil em março para instaurar no Estádio do Morumbi o maior espetáculo de rock do ano, o show The Dark Side of the Moon. O concerto revisita o repertório e o conceito visual do show dos anos 70, baseado no álbum histórico homônimo do Pink Floyd de 1973 que vendeu 40 milhões de exemplares.

O perfil que emerge de Waters vem de uma entrevista que ele concedeu para ser distribuída por seu próprio tour manager, Andrew Zweck, à qual o Estado teve acesso exclusivo. A entrevista é destinada ao público latino-americano. Nela, Waters comenta sua primeira experiência pela América Latina, em 2001 e 2002. 'Adorei a América do Sul. As platéias são incríveis. Funcionam talvez melhor que na América ou Europa ou qualquer outro lugar. Nós chegamos ao Chile direto da África do Sul. Quando saímos do aeroporto, havia umas 100 pessoas com cartazes e todo tipo de cântico. Eu pensei: meu Deus, isso nunca aconteceu comigo. Normalmente são só uns caras querendo minha assinatura em discos que eles tentarão transformar em uns trocados no eBay.'

'Nos anos ruins, eu era visto como o grande ogro'
Roger Waters fala dos colegas do Pink Floyd, e diz que, em vez de falar mal deles, deveria ter mantido a boca fechada

Jotabê Medeiros

Geralmente avesso a entrevistas, Roger Waters dessa vez concedeu um dos mais importantes depoimentos da carreira. Examinou o passado atentamente, lembrando do tempo em que, ironiza, ficou conhecido como 'o grande ogro' do Pink Floyd. E até falou do futuro - conta que está trabalhando numa versão para a Broadway de The Wall, com o dramaturgo Lee Hall. Diz que a nova versão do show Dark Side of the Moon é 'mais coerente teatralmente' que a primeira e revelou que o espetáculo começa 15 minutos antes de entrarem os músicos em cena.

Em relação ao Pink Floyd, Waters demonstra otimismo quanto a um possível reencontro da lendária banda. No entanto, não quer fazer apenas uma ou duas apresentações, mas um show novo. 'Estou interessado em fazer o trabalho que fazíamos antes. Seria muito satisfatório. Há um grande público, como você disse, que amaria isso. Então, eu pessoalmente estou preparado para encarar isso tanto quanto durar, seis meses em termos de preparação ou o que for. Tenho certeza de que Nick (Mason) também poderia. Mas acho que Dave (Gilmour) não quer fazer isso. É inteiramente uma prerrogativa dele e não tenho influência sobre ele. É o que sinto'.

O baixista faz um mea-culpa em relação às farpas que trocou com os ex-colegas (Rick Wright, Nick Mason e David Gilmour) desde sua separação. 'Meu maior erro foi quando deixei o Pink Floyd, em 1985, permitindo que me empurrassem para o bate-boca público e dizendo coisas desagradáveis sobre os outros caras da banda. Volto atrás naquilo. Se eu tivesse sido um pouquinho mais sábio, teria mantido minha boca fechada'.

Segundo Waters, a apresentação no show beneficente Live 8, que reuniu o Pink Floyd depois de 24 anos de separação, pode ter sido a pá de cal nas diferenças entre eles. 'Acho que o Live 8 deu a oportunidade às pessoas de dizer: 'Ahá, saquei: esse é o cara que escreveu as canções', e fazer a conexão. Depois que deixei a banda, em 1985, eles excursionaram em 1987 e em 1994, e acho que eu fiquei como o cara marrento que deixou o grupo amuado. Depois do Live 8, devem ter pensado: 'Bem, ele não era tão marrento, afinal de contas'. Eu realmente me diverti no Live 8. Fui até lá com a cabeça e o coração abertos'.

Sobre Syd Barrett, ex-integrante da banda, ele diz que logo após a morte do antigo colega, ele sentia nervosismo ao cantar Shine on You Crazy Diamond nos shows. 'Ainda me sinto profundamente conectado a ele'.

Segundo Waters, a força do álbum Dark Side of the Moon está no fato de que é 'musicalmente sofisticado e ainda assim simples', e nos temas. 'Liricamente, ele fala de preocupações que afetam sucessivas gerações. Uma canção como Us and Them parece tão relevante politicamente em 2006 quanto foi em 1979.'

O músico também comentou gostos pessoais em arte. Elogiou o novo livro de Cormac McCarthy, o romance The Road ('Quando chego ao fim de algo assim, sinto que algo dentro de mim se abre como uma flor, e diz que a comunicação da nossa humanidade por meio da arte é possível'). Disse que não se interessa por música popular, e que o melhor disco novo de Bob Dylan, Modern Times, é ótimo, assim como o primeiro disco de Ray LaMontagne.

O show de Dark Side of the Moon, descrito por Waters como 'de visual muito mais forte' que todos, será nos dias 23 de março (SP, no Morumbi) e 24 (Rio de Janeiro, local não definido). Além das músicas do álbum histórico, há canções de outras fases do Pink Floyd no repertório, como Sheep, e uma canção nova, Leaving Beirut.

Syd Barrett


'Estou certo que o uso do ácido exacerbou os sintomas que se manifestariam de qualquer jeito. Mas não sou neurologista. Em See Emily Play, ele tava ficando esquisito. Estava dizendo coisas como 'John Lennon não teve de fazer isso, então por que eu teria de fazer?' Ele estava começando a se desconectar em 1967. No final de 68 não estava mais operante.'

Drogas


'Experimentei ácido 2 vezes. Uma, não me lembro o ano, foi na ilha de Patmos, no arquipélago grego. Uma extraordinária experiência e durou 48 horas. Uns 2 anos depois, foi em NY. Lembro de estancar no meio da 8.ª Avenida atrás de um Smiler's buscando algo para comer e chapado com as luzes do tráfego. Então pensei: não quero isso de novo. Basta.'

Ambição


'Há uma parte de mim que quer desesperadamente ser Neil Young, ou John Prine, ou Bob Dylan. Quando estou só com meu violão, geralmente busco a chave da estrutura melódica mais simples, qualquer que seja. Estamos sempre em busca de Knocking on Heaven's Door, ou Hello in there ou Heart of Gold.'

Política

'Disseram: 'Como se atreve a vir aqui criticar nosso presidente? Você nem mesmo é americano.' Dá um tempo. Não posso criticar Bush por não ser americano? Isso significa que se não é alemão não pode criticar Hitler? Ou tem de ser iraquiano para criticar Saddam? Ou ser chinês para criticar as políticas genocidas de Mao?'

 :ok:

 

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