Tópico: O livro do P

[Tarcísio]

O barbeiro Dovílio Rodrigues lança livro com história composta por mais de 20 mil palavras iniciadas com p.

Sem pressa, com toda a tranqüilidade de um bom interiorano, Dovílio Rodrigues, de 70 anos, nos conta que é barbeiro profissional desde os 14. Começou a trabalhar cedo porque teve de abandonar a escola no fim da terceira série primária, devido a uma colite aguda, que lhe impedia de ficar debruçado sobre a carteira escolar horas seguidas.

Virou engraxate numa barbearia, o que lhe fez suportar melhor as dores no abdômen porque se permitia fazer pausas entre uma tarefa e outra. Logo passou a aprendiz de cabeleireiro e, trabalhando em pé, o menino Dovílio não sentia dores. Apurou os ouvidos e procurou absorver ao máximo a diversidade de informações trazidas pelas conversas dos fregueses. Tornou-se, assim, um autodidata.



Logo descobriu os jogos de tabuleiro - xadrez e damas - e sua grande paixão, as palavras cruzadas, pelas quais foi fascinado durante mais de duas décadas, desde os 15 anos. Dovílio conta que a loucura por esse jogo era tanta que um dia saiu correndo do salão só para abordar uma senhora que passava do outro lado da rua, carregando um embrulho de jornal, com uma enorme cruzada.

Excelente papo e exímio contador de piadas, aos 26 anos, Dovílio atraía uma freguesia tão numerosa que já não tinha tempo nem para almoçar. Cansado da atividade, tentou a sorte como servente numa escola estadual e lá, com determinação, concluiu o ginasial. Anos depois, foi aprovado num concurso público e tornou-se fotógrafo policial, passando posteriormente a técnico pericial, função que exerceu até se aposentar, em dezembro de 1990, quando então voltou a cortar cabelos.

Dovílio credita à prática dos jogos de tabuleiro e às palavras cruzadas sua prodigiosa memória e um extenso vocabulário, que lhe permitiram realizar seu prodígio: escrever um livro composto somente por palavras iniciadas pela letra p: Pentapaixão.

Ao todo, são 180 páginas com 20.267 palavras seqüenciadas, todas em p; não há uma sequer iniciada por qualquer outra letra do alfabeto. Não foi um exercício aleatório de alinhavar termos de maneira forçada. As palavras de seu romance surgem guiadas por uma coerência lógica, compõem um enredo do qual participam 38 personagens.

Personagem Plínio

O livro narra a história do pedestrianista Plínio Pirilo Perez Proença, que nasceu primogênito, de parto prematuro pélvico podálico (parto pelos pés), cercado dos cuidados de seus prestimosos pais, mas que acaba caindo na promiscuidade, levando uma vida irregular, sem objetivos. Plínio apaixona-se cinco vezes, por mulheres completamente diferentes (daí o título do livro, Pentapaixão) e, ao final, consegue se reerguer graças ao poder da prece, tornando-se um pastor penitente. Ao descrever a trajetória do personagem principal - sua decadência moral e seu posterior reerguimento -, Dovílio praticamente esgota todas as palavras iniciadas em p em diversas áreas, como esporte, comércio, medicina, religião.



Segundo o autor, só a letra p oferece condições à narrativa, por ser a única que permite redigir nos três tempos: passado, presente e porvir. Além disso, as preposições "pelo", "por" e "para" ajudam. Em alguns trechos, a fim de facilitar, o autor se permitiu criar sentidos figurados. Para designar "fezes", por exemplo, ele usou a expressão "porção pastosa".

A obra, com tiragem inicial de 3 mil exemplares, será publicada pela Unigraf, gráfica e editora de Matão, cidade natal do autor, situada no interior paulista. Seu lançamento será este mês, naquela cidade e em Araraquara (SP), onde Dovílio reside há 55 anos.

Fonte: http://revistalingua.uol.com.br/textos.asp?codigo=11114

[uiliníli]

Puxa! Processo penoso peneirar palavras portuguesas para publicar pergaminho.


 

[Guinevere]

put******pariu!!!