Bem, dessa vez uma linguagem mais acessível para que todos entendam.
Existiram duas abordagens sobre valor.Valor-trabalho e valor-utilidade.A primeira foi iniciada pela escola clássica inglesa com Adam Smith e David Ricardo.A segunda foi iniciado por uma escola conhecida como "Marginalismo" (Jevons, Walras e Menger).
O que conhecemos hoje por "ortodoxia econômica", refere-se a todas as escolas de pensamento econômicos que são derivadas da "Síntese Neoclássica" (Marshall-Fisher-Wicksell), que nada mais é que uma fusão dos pensamentos da escola clássica inglesa com as idéias marginalistas.O ponto onde essa fusão é mais visível é sobre a teoria do valor.Todas as escolas ortodoxas que usam essa abordagem da teoria do valor neoclássica são:
Síntese Neoclássica Keynesiana
Monetarismo
Escola Novo-Clássica (extrema direita do pensamento neoclássico)
Novo-Keynesianismo
E as escolas heterodoxas que usam:
Keynesianismo clássico
Kaleckismo
As que não usam são:
Sraffianismo
Escola Clássica Inglesa
Marxismo
Marginalismo (??????-tenho forte dúvida sobre isso)
Para a teoria do valor neoclássica, toda mercadoria tem uma função que determina o quanto seu produtor quer ofertar.Por exemplo, se o preço for de 1 real, ele irá ofertar 0 unidades; se o preço for de 2 reais, ele irá ofertar 1 unidade, se o preço for de 3 reais, ele irá ofertar 2 unidades e assim por diante.Ou seja, o produtor se sentirá motivado para ofertar, quanto maior for o preço do bem:
No caso da demanda, também haverá uma função indicando as quantidades do bem que serão adquiridas para cada nível de preço.Mas o consumidor só irá adquirir cada vez mais mercadorias só se cada vez o preço estiver menor, justamente por causa da lei da utilidade marginal decrescente:
O preço será definido num sistema de equações simultâneas.O encontro da curva de oferta com a curva de demanda mostra o "preço de equilíbrio".No preço de equilíbrio, os ofertantes aceitam o preço no nível que PODEM e DESEJAM ofertar e os demandantes aceitam um preço no nível em que PODEM e DESEJAM consumir:
A curva de oferta está correlacionada com quê?Com estes fatores:
-Expectativas de venda
-Custos dos insumos
-Nível de Tecnologia
-Outros.
E a curva de demanda está correlacionada com que?Com estes fatores:
-Renda dos consumidores
-Gostos
-Utilidade do bem
-Outros.
Outra coisa, nem a curva de oferta e nem a curva de demanda são coisas estáticas.Se as coisas que afetam positivamente o desejo dos ofertantes de oferecer um bem aumentarem sua importância relativa, a curva de oferta se deslocará para baixo e para direita, diminuindo o preço de equilíbrio.Em caso oposto (ou seja, o apetite de ofertar diminuir), o preço de equilíbrio aumenta.E se as coisas que afetam positivamente o desejo do demandante de comprar um bem aumetarem sua importância relativa, a curva de demanda se desloca para cima e para direita, aumentando o preço de equilíbrio.Em caso oposto (ou seja, o apetite de ofertar diminuir), o preço de equilíbrio diminui.ENTRETANTO, os deslocamentos de curva de demanda e de curva oferta podem ocorrer simultaneamente.O raciocínio que pus anteriormente leva em conta a cláusula "ceteris paribus" (o efeito de uma variável sobre a função, se
tudo o mais permanecer constante).
Enfim, eu que eu queria é que vocês esquecessem essa coisa de pensar "utilidade determina valor", "custo determina valor", "trabalho determina valor".Uma citação de Achyles Barcelos da Costa do Departamento de Economia e do IEPE/UFRGS na paper Literatura Econômica [“Uma Nota Introdutória ao Artigo ‘A Teoria dos Preços e o Comportamento Empresarial de R.L. Hall e C.J. Hitch” 8(3) out 1986] é esclarecedora:
“Em 1890, Alfred Marshall publica os Principles of Economics(...)Ao contrário dos demais marginalistas, afirmava que não se poderia descartar os custos de produção como sendo um elemento importante na explicação do preço.Tanto o custo, como a utilidade teriam um papel a desempenhar.O primeiro na explicação da oferta e, a segunda, na explicação da demanda.Sobre isso afirmava: ‘
Nós podemos estabelecer uma discussão razoável se é a lâmina superior ou inferior de uma tesoura que corta a folha de papel, assim como se o valor é determinado pela utilidade ou pelo custo de produção.’ ”
Você vê que Marshall não fala de "trabalho" e sim de custos.Mas na prática, custos produtivos e valor-trabalho estão fortemente correlacionados.Na verdade, a maioria dos custos de produção são representado pelos custos variáveis.E na prática quando aumentamos ou diminuimos a quantidade de trabalho necessária para produzir uma mercadoria, AUMENTAMOS ou DIMINUIMOS os custos variáveis (representado pelos salários).Se a tecnologia para fabricar uma TV de plasma aumenta, é claro que também diminui a quantidade de trabalhadores para produzi-la.Que sentido faz melhorar a tecnologia, se não diminuirmos os custos unitários variáveis para produzi-la?Em setores menos dinâmicos tecnologicamente, ou seja, onde os processos que fabricam o bem não podem ser muito mais automatizados ou modernizados que os que são um pouco mais antigos, percebemos claramente que existe uma dificuldade em reduzir custos.Consequentemente, os preços de equilíbrio também são mais inflexíveis a queda.
Sobre custos variáveis, como já disse antes:
"Custos variáveis:custos salariais variáveis unitários e custos tributários e de preços e tarifas públicas.Todos os demais custos decorrentes de insumos podem ser desconsiderados, já que se desdobram em lucros ou salários dos demais setres, ou preços e tarifas públicas; portanto, seus efeitos descritos no item margem de lucro.Usualmente considera-se que os custos tributários e de tarifas e preços públicos sejam exógenos, e suas mudanças podem ser interpretadas como parte da variação das margens de lucro."
A teoria clássica do valor (Smith, Ricardo, Marx) também diz que o que determina a demanda de um bem é a sua utilidade.Mas ela diz implicitamente que são os custos de produção que determina a magnitude da demanda.O que está errado, mesmo em situação de mercados altamente monopolizados.Se assim fosse, uma fábrica de gelo no Alaska teria um produto cujo valor seria o mesmo de uma fábrica de gelo situado numa região quente.É como se a própria curva de demanda não existisse...
E o problema do Marginalismo é que os seus adeptos taxam tudo o que influencia a curva de oferta e de demanda de "utilidade".Na paper que citei temos isso:
"Nas palavras de Hawkins, comentando a análise de Jevons: 'Apesar desta rejeição dos custos de produção e, em particular, das teorias do valor-trabalho, ele algumas vezes atribui-lhes um efeito indireto sobre o valor na medida em que afetarem a oferta do produto, levaria a uma variação na utilidade.Não obstante, à utilidade foi dado o principal papel'."
Ou seja, está errado dizer que para todos marginalistas, o trabalho é irrelevante na determinação do valor.Tem dois blogueiros economistas (Rodrigo Constantino e Lucas Mendes) que dizem que o valor de uma mercadoria é independente do quanto custa produzi-la.Bem que eles poderiam dizer de que teoria marginalista eles estão falando.Eu sei que a Escola Austríaca adora contrariar a Escola Neoclássica, mas não tenho informação se todos eles discordam de Stanley Jevons.Isso seria uma ótima pergunta que alguns curiosos daqui poderiam fazer a eles.
Quanto a dúvida do Dono da Verdade (teoria do valor em monopólio x teoria do valor em concorrência perfeita), estou sem paciência e tempo para respondê-la.Mas ele pode consultar "Introdução à Economia" - 20ª Edição 2003, de José Paschoal Rossetti, para esclarecer sua dúvida.