Parece ser uma característica da mente que a moralidade e a religiosidade se entrelacem criando conceitos que parecem irmanados. Quando Platão criou a filosofia, Sócrates ja havia ensinado que as leis do mundo físico e a moralidade humana são uma só. Não que isso seja verdade, mas dando um sentido moral à realidade deu-se à esta última um sentido humano. A simbologia de como o homem representa o mundo transforma o mundo de certa forma; não é apreensão pura e simples dos sentidos, é, também criação estética. Os sentimentos de culpa voltados exclusivamente aos atos pessoais extravazam e invadem o impessoal e o coletivo - o homem sente a sua moral interior como moral do mundo. A solidão, o medo, criam a idéia de Deus e a moral do mundo assume-se como moral de Deus.
As culturas são religiosas porque esses mecanismos psíquicos são universais e modelam as criações culturais. O laicismo é um desenvolvimento cultural que nasceu do renascimento e se fortaleceu com o iluminismo. Evidentemente, esses movimentos não podiam construir uma nova ética a partir do nada, herdaram muito do cristianismo que era a cultura subjacente a todas as relações sociais. Não há nada de extraordinário nisso. O contrário disso é que seria, pois implicaria num estatismo cultural nunca antes observado.
As origens do renascimento remontam à decadência do feudalismo, o sistema cultural amplamente sustentado ideologicamente pelo cristianismo. Quedo o feudalismo o cristianismo perdeu a força. O Olavão vai longe demais quando acha que o cristianismo é responsável por todas as virtudes éticas das sociedades modernas e que o fim da religião é a sua falência. Conceitos de Estado, leis iguais para todos e direitos humanos foram desenvolvidos apesar da igreja. Os valores das sociedades modernas se fundam na educação universal e na democracia, não mais em princípios teológicos. Mas é fato: a religiosidade nunca vai desaparecer, embora esteja ficando difusa e cada vez mais restrita à esfera pessoal, sendo também um grande ímã social.
Que presente estado de coisas? Prosperidade, bem-estar e liberdade? Se o Olavo se refere a isso as nações vão muito bem obrigado. E se os muçulmanos invadem o ocidente e causam preocupação é por que trazem um Deus primitivo e desagradável tanto quanto era o deus cristão.