Não é possível modernizar o islã", diz ativista
Iraniana Mina Ahadi fundou Conselho de ex-muçulmanos na Alemanha.
Ela quer ajudar mulheres islâmicas a abandonar a religião.
Spiegel Online
Uma ativista iraniana pelos direitos humanos, que hoje vive na Alemanha, fundou o "Conselho Central dos Ex-Muçulmanos na Alemanha” com outras quarenta pessoas e recebeu ameaças de morte anônimas depois de declarar publicamente que seu objetivo é ajudar pessoas a abandonar a religião se assim elas desejarem.
A iraniana Mina Ahadi, de 50 anos, disse que montou o grupo para chamar a atenção para as dificuldades de se renunciar à fé islâmica, que ela acredita ser misógina. Ela quer que o grupo seja um contrapeso às organizações muçulmanas que, segundo ela, não representam adequadamente os imigrantes muçulmanos seculares da Alemanha.
Ahadi foi colocada sob proteção policial recentemente. Renunciar ao Islã pode levar à pena de morte em diversos países, incluindo o Irã, Arábia Saudita, Afeganistão, Paquistão, Sudão e Mauritânia. Em outros países, as pessoas que viram as costas para a religião não são punidas pela Justiça, mas são freqüentemente ignoradas pela família e pelos amigos. Este também é um assunto difícil entre as comunidades islâmicas da Europa.
Ahadi disse que quer que a nova organização ajude as mulheres que se sentem oprimidas pelas regras da religião a encontrarem uma saída. O Conselho fornecerá uma entrevista coletiva em Berlim na quarta-feira para definir seus objetivos. Leia abaixo trechos da entrevista que ela concedeu à Der Spiegel.
SPIEGEL - Juntamente com outros 29 imigrantes de países muçulmanos você declarou ter renunciado ao Islã. A campanha é semelhante àquela lançada nos anos 70 por mulheres que declararam publicamente que haviam feito aborto. Qual é o seu propósito?
Ahadi - Há trinta anos que não sou mais muçulmana. Critico bastante o Islã na Alemanha e como o governo alemão lida com a questão islâmica. Muitas organizações muçulmanas como o Conselho Geral dos Muçulmanos na Alemanha (ZMD) ou “Milli Görüs” entram na política ou interferem na vida cotidiana das pessoas. Eles foram convidados à conferência sobre o Islã (promovida pela governo em Berlim, no ano passado). Mas seu objetivo é hostil às mulheres e às pessoas em geral.”
SPIEGEL - Por quê?
Ahadi - Eles querem forçar as mulheres a usarem lenço na cabeça. Eles promovem um clima em que as garotas não podem ter namorados ou sair à noite e no qual a homossexualidade é demonizada. Eu conheço o Islã e para mim isso significa morte e dor.
SPIEGEL - Qual o papel da sua organização?
Ahadi - Um exemplo: um representante do Conselho Central dos Muçulmanos na Alemanha disse que a comunidade islâmica ficou muito ofendida com um balão que foi visto no desfile de carnaval (neste último carnaval na Alemanha), que mostrava muçulmanos usando cintos de explosivos. Mas nenhuma evidência foi encontrada. As associações fingem representar a todos e em certa medida é dessa forma que o governo da Alemanha as reconhece. Isso é ruim. Nós temos de nos pronunciar contra isso e dizer: não falem no nosso nome. Nós somos humanistas seculares. Queremos dar voz a essas pessoas. Alguém tem de dar o primeiro passo. Nós estamos advogando pelos direitos humanos.
SPIEGEL - Alguns dos integrantes da organização também fazem parte de organizações comunistas em seus países de origem.
Ahadi - Sim, muitos deles são ativos em grupos de esquerda. Recebemos mais de 100 pedidos de associação nos últimos dias. Queremos criar um novo movimento, em outros países europeus também. Esperamos que logo sejamos 10 mil associados, representando muito mais gente.
SPIEGEL - Será que a sua campanha não dificulta ainda mais o campo de batalha?
Ahadi - Não acredito que seja possível modernizar o Islã. Queremos ser um contrapeso às organizações muçulmanas. O fato de estarmos fazendo isso sob proteção policial nos mostra o quão necessária é a nossa iniciativa.
http://g1.globo.com/Noticias/0,,MUL8867-5602,00.html