Autor Tópico: Imprensa Brasileira  (Lida 600 vezes)

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Offline Aronax

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Imprensa Brasileira
« Online: 22 de Maio de 2005, 23:38:17 »
O que vcs acham da imprensa brasileira?....vide texto abaixo.


Faltam jornalistas
no reino dos arapongas

Alberto Dines

Os dois estarrecedores flagrantes veiculados pela mídia no último fim de semana desvendam o nível de depravação naquele que outrora chamava-se poder público, hoje transformado num imenso lodaçal privado.

As reportagens da revista Veja (edição 1.905, de 18/5) e o documento apresentado pelo Fantástico (Rede Globo, domingo, 15/5) escancaram a improbidade entranhada e despudorada, institucionalizada e assumida.

A canalhice saiu da sombra, é ostensiva, natural. A bandidagem político-administrativa transita pelos três poderes, alastra-se pelo país afora – da capital federal aos grotões. Virou realidade cotidiana, está sacramentada na vida política, compreendida nos acordos partidários, embutida na divisão do butim ministerial no qual os parceiros dividem fraternalmente escalões e diretorias de acordo com o seu potencial de propinas.

As duas denúncias revelam de formas diferentes que o chamado "jornalismo investigativo" continua mamando nas tetas dos interesses contrariados, nem sempre os mais imaculados. Está lá na página 57 da revista Veja, com todas as letras: não foram jornalistas os autores do vídeo onde Maurício Marinho, o prócer do PTB na diretoria dos Correios, recebe os míseros 3 mil reais como adiantamento pelas futuras facilidades.

A sensacional denúncia foi gravada (com excelente padrão de qualidade, diga-se) por dois empresários na sala de Marinho, na sede dos Correios, em Brasília. E por que resolveram fazer o vídeo? Estavam impregnados de espírito cívico, são militantes de alguma ONG moralizadora ou simplesmente queriam vingar-se de negócios que não conseguiram consumar? Pretendiam ajudar a sociedade brasileira a livrar-se dos maus elementos ou vingavam-se de ex-futuros parceiros por meio deste novo tipo de acerto de contas?

Novo esgoto

Por mais estúpido e boquirroto que seja o protagonista do vídeo é óbvio que não revelaria a estranhos, com tantos detalhes e desembaraço, o mapa da mina dos Correios. Há um evidente grau de intimidade entre os corruptores e o corrupto – o que facilitou enormemente o trabalho dos "documentaristas".

É preciso reconhecer que um(a) jornalista profissional dificilmente obteria a confiança do interlocutor e dele extrairia tão preciosas informações; mas, por outro lado, é imperioso levar em consideração que nosso jornalismo investigativo não pode depender exclusivamente de corruptores mal-sucedidos, ou insuficientemente recompensados, ávidos por vingança.

No dia em que a canalha que ronda os cofres públicos locupletar-se inteiramente, quem jogará no colo dos jornalistas as fitas e vídeos dos futuros escândalos? Quando o pool da corrupção organizar o seu Tratado de Tordesilhas para dividir eqüitativamente o bolo, não haverá insatisfeitos e também não haverá jornalismo investigativo.

Há poucos anos, certas esferas do nosso jornalismo político deixaram-se avacalhar ao enredar-se com figuras do padrão de Paulo Maluf e Antonio Carlos Magalhães, convertidos em municiadores exclusivos do denuncismo então vigente. A partir de fevereiro de 2004, com o caso Waldomiro Diniz, o sindicato investigativo da capital federal passou a servir-se de outro esgoto – os que não conseguem abiscoitar as licitações, os que ficam de fora das mamatas.

Três papéis

A matéria de Veja está bem contada, é clara, direta. O leitor entende tudo. Mas na safra anterior de escândalos, os semanários costumavam cercar-se de alguns cuidados: fitas e vídeos eram examinados por técnicos para evitar manipulações, tentava-se oferecer algum suporte jornalístico a fim de dourar a pílula do "esforço de reportagem", e acrescentavam-se algumas cenas de filme policial para legalizar a receptação de material obtido ilegalmente.

Agora, o empenho jornalístico resume-se à edição competente do material entregue pelos corruptores, à adição de algumas aspas emitidas por fontes secretas de modo a camuflar opiniões e estamos conversados.

Sob o ponto de vista legal, tudo nos trinques: o vídeo é prova válida para enquadrar criminalmente os suspeitos. Sob o ponto de vista político e funcional, as providências são ainda mais fáceis: tomam-se todas as providências formais, demite-se o desgraçado palrador e confina-se a crise ao andar de baixo do Executivo, de modo a impedir que se converta em incêndio de proporções indesejáveis.

E o leitor, continuará aceitando gato por lebre? Até quando se deixará engabelar acreditando que o heróico e desassombrado jornalismo investigativo baseia-se apenas na delação de bandidos contra bandidos?

A moralização da política não pode se fazer pela via da enganação. O governo deve levar isso em conta, a imprensa também.

A denúncia do Fantástico diferencia-se do padrão denuncista, por casualidade. Não pretende ser uma reportagem investigativa, não se baseia em fontes secretas, recusa anonimatos suspeitos, dá nome aos bois. Inclusive ao autor, plenamente identificado: trata-se do governador de Rondônia, Ivo Cassol, que pessoalmente gravou uma seqüência de extorsão explícita encenada por um grupo de deputados estaduais da oposição que exigiam 50 mil reais mensais para não votar um pedido de impeachment.

Caso inédito onde a mesma pessoa desempenha três papéis: é vítima, é denunciador, é o "documentarista". É mais honesto. E, sobretudo, livra a imprensa da eterna subordinação aos impostores, bem ou mal-sucedidos.
Uma verdade ou um ser podem ser vistos de vários pontos, porém a verdade e o ser estão acima de pontos de vista.

Offline n/a

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Re.: Imprensa Brasileira
« Resposta #1 Online: 23 de Maio de 2005, 22:12:08 »
Gostei, esse Dines não é aquele que apresenta o Observatório da Imprensa, às terças, na Cultura?

Atheist

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Re.: Imprensa Brasileira
« Resposta #2 Online: 25 de Maio de 2005, 14:35:37 »
Acho que não falta nada além de vergonha na cara... É pura ganância mesmo.

Offline Rodion

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Re.: Imprensa Brasileira
« Resposta #3 Online: 25 de Maio de 2005, 17:25:49 »
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Por mais estúpido e boquirroto que seja o protagonista do vídeo é óbvio que não revelaria a estranhos, com tantos detalhes e desembaraço, o mapa da mina dos Correios. Há um evidente grau de intimidade entre os corruptores e o corrupto – o que facilitou enormemente o trabalho dos "documentaristas".

É preciso reconhecer que um(a) jornalista profissional dificilmente obteria a confiança do interlocutor e dele extrairia tão preciosas informações; mas, por outro lado, é imperioso levar em consideração que nosso jornalismo investigativo não pode depender exclusivamente de corruptores mal-sucedidos, ou insuficientemente recompensados, ávidos por vingança.

bom, parece que os sujeitos que fizeram os vídeos ficaram alguns meses nisso... não foi assim, chegar lá e ouvir tudo.
"Notai, vós homens de ação orgulhosos, não sois senão os instrumentos inconscientes dos homens de pensamento, que na quietude humilde traçaram freqüentemente vossos planos de ação mais definidos." heinrich heine

Offline Unknown

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Re: Imprensa Brasileira
« Resposta #4 Online: 31 de Março de 2010, 01:51:11 »
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Papa, Lula, Serra e o poder da imprensa

Primeiro ministro das Comunicações do governo Lula, o jornalista e deputado federal Miro Teixeira (PDT-RJ) nem terminava de ouvir as queixas que o presidente e seus colegas de gabinete lhe faziam contra a imprensa. Com bom humor, apontava para mim, e encerrava a discussão:

“A culpa é do Kotscho!”. Na época, eu era o responsável pela área de imprensa do governo.

Toda vez que nos encontrávamos, era esta a saudação que ele me fazia, e faz até hoje. Lembrei-me destas brincadeiras do Miro ao  ler as queixas do papa Bento 16, do presidente Lula e do governador José Serra contra a cobertura que a imprensa lhes dedica. Os motivos são diferentes, mas a bronca é a mesma.

Criticado por acobertar a prática da pedofilia envolvendo padres da sua igreja, Bento 16 aproveitou a missa do Domingo de Ramos no Vaticano para desabafar e garantiu que não se deixará intimidar por “fofocas de opiniões dominantes”. 

O presidente Lula, que vive às turras com a chamada grande imprensa desde o início do seu governo, subiu o tom nos últimos dias e acusou de “má-fé” orgãos de imprensa que dão mais destaque a problemas do que às grandes obras do seu governo.

Na mesma linha, o governador Serra, que já bateu de frente com repórteres da TV Record e da TV Brasil, cobrou publicamente, na semana passada, mais destaque na cobertura jornalística das suas obras na área de saúde e qualificou de levianas algumas informações publicadas.

Que se passa para juntar no mesmo balaio figuras públicas tão diversas?

Não há nas reações de Bento 16, Lula e Serra nenhuma grande novidade. Sempre foi assim, desde que comecei a trabalhar em jornal, já faz quase meio século. Tanto nas igrejas como nos governos, ninguém gosta de ser criticado, e confunde-se habitualmente jornalismo com propaganda.

A partir do momento em que a imprensa começou a ser chamada de quarto poder, alguns coleguinhas, de fato, se empolgaram com seu papel, e passaram a agir como se fossem, ao mesmo tempo, policiais, promotores e juízes, dando-se o direito supremo e único de denunciar, julgar e condenar qualquer pessoa, entidade ou instituição.

Sem entrar no mérito das queixas dos três personagens citados neste texto, o fato é que há algo de muito estranho acontecendo no nosso país quando a presidenta da Associação Nacional dos Jornais (ANJ), Maria Judith Brito, se sente no direito de afirmar, como fez em recente encontro promovido em São Paulo, segundo o jornal O Globo:

“A liberdade de imprensa é um bem maior que não deve ser limitado. A esse direito geral, o contraponto é sempre a responsabilidade dos meios de comunicação. E, obviamente, esses meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada. E esse papel de oposição, de investigação, sem dúvida nenhuma incomoda sobremaneira o governo”.

Como assim? Quer dizer que, se os partidos de oposição estão fragilizados, cabe aos orgãos de imprensa representados pela ANJ assumirem a tarefa de enfrentar o governo?

Está aí uma coisa que muita gente já vinha desconfiando, mas ninguém ainda da alta cúpula da mídia havia admitido assim, publicamente, com tanta franqueza: em lugar do PSDB, DEM e PPS, a oposição oficial, agora era a mídia, que deveria assumir esta responsabilidade.

Em seus encontros anteriores, como a do Instituto Millenium, os donos da mídia e seus homens de confiança, ao contrário de Brito, acusavam o governo exatamente de ameaçar a liberdade de uma imprensa que sempre fez questão de se dizer independente, apartidária, plural, neutra, objetiva, isenta e tal, que se limita a apurar e publicar fatos.

De outro lado, não acredito que seja tarefa de governantes criticar coberturas jornalísticas e dizer como o trabalho da imprensa deveria ser feito. Não ganham nada com este papel de ombudsman e só pioram a relação com a mídia. Já tive a oportunidade de dizer isso várias vezes ao meu amigo presidente Lula, quando trabalhei com ele, e até agora. Cabe, sim, à imprensa fiscalizar e criticar os governos de qualquer latitude.

A confusão começa, porém, quando esta mesma imprensa deixa de lado os cuidados com seus deveres de bem informar a sociedade para agir como partido político. Se cada um cuidasse apenas da parte que lhe cabe na grande orquestra da democracia, todos sairiam ganhando.

Sobre este mesmo tema, meu colega Luciano Martins Costa, escreveu no Observatório da Imprensa: “O risco maior para a imprensa vem da própria imprensa, quando os jornais se associam para agir como um partido político (…) Quando a imprensa abandona seu eixo, todos saem perdendo. Principalmente a imprensa”.

Se até o Papa, que é o Papa, já anda reclamando das “fofocas” da imprensa, posso imaginar como se sente diante deste poder o cidadão comum, que hoje não tem nem direito a resposta em nosso país.

http://colunistas.ig.com.br/ricardokotscho/2010/03/30/papa-lula-serra-e-o-poder-da-imprensa/

Concordo quando dizem que o papel da imprensa é informar e fiscalizar, sem agir como se fosse um partido político. O grande porém é que qualquer notícia que desagrade uma certa corrente política será pintada como "imparcial" por seus simpatizantes. E, considerando-se os embros de todas as correntes políticas, raramente há um consenso sobre até onde termina um espectro do pensamento político e onde começa outro, e sem isso não dá para definir aonde deve se posicionar aquele que quer ser imparcial acima de qualquer suspeita. Como resolver essa questão?

É claro, há casos onde a parcialidade é flagrantemente gritante (e às vezes até assumida) então não há muito o que discutir, mas o problema fica nos casos dúbios (que não são poucos) porque é daí que se decide se o que ela publica é confiável ou não. E com a ANJ reconhecendo que os órgãos de imprensa fazem oposição política, a imagem dela não fica muito boa.

Aliás, há outros dois tópicos com temas afins desse, mas que abordam outros pontos, por isso não os uni. Para quem quiser vê-los:
../forum/topic=7870.0.html
../forum/topic=8628.0.html

"That's what you like to do
To treat a man like a pig
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It's an award I've won"
(Russian Roulette - Accept)

 

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