Permitam-me uma pequena história pessoal:
Sofri de depressão até os trinta anos, depois de uma tentativa frustrada de suicídio (a cadeira que eu subi pra colocar o pescoço na forca quebrou, e eu fiquei me achando a criatura mais incompetente do planeta) resolvi buscar uma cura não muito ortodoxa.
Me isolei durante quinze dias onde escrevi tudo que lembrava sobre minha infância, pois bem, minha educação foi muito rígida, religiosa ao extremo, extremamente conservadora, por outro lado também vi muita coisa errada.
Meus familiares fazendo fofoca, intrigas, cometendo atos não muito louváveis. Basicamente eu aprendi que podia fazer tudo errado, pois no final do dia era só rezar pedindo perdão e estava tudo bem.
Aprendi a ser covarde, sem iniciativa, frouxo, os outros estavam sempre certos e eu errado.
Aprendi que Deus era vingativo, não podia comer carne na sexta-feira santa, mas negar um pão para alguém com fome era normal. Nunca poderia questionar ninguém, os mais velhos estavam sempre certos, mesmo bêbados.
Roubar era pecado, mas se o cobrador do ônibus errava o troco, azar o dele.
Não podia beber cerveja, mas buscar cachaça para os outros eu podia.
Não podia faltar aula, mas se tivesse que acompanhar alguém até a cidade eu podia mentir pra professora.
Eu sei que a educação religiosa nesse caso não foi o problema e sim meus parentes, a questão que quero levantar é que se você é um tremendo filho-da-puta, bêbado, ladrão, sem-vergonha, o que adianta você ensinar ao seu filho sobre dez mandamentos, doze apóstolos, Jesus… .etc??
Eu educo minhas filhas, já devolvi dinheiro que foi me dado a mais pelo trocador de ônibus (sei que ele vai pagar por esse dinheiro que falta), não bebo, quando acontece delas abrirem uma embalagem de algo no mercado, ao invés de pegar outra fechada fico com essa mesmo e pago por ela no caixa.
Não tenho religião, mas procuro ter caráter.
Falharam comigo e a segunda chance que eu me dei não a uso para mim e sim para minhas filhas.