Ressucitando o tópico...
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O vale-tudo do artista brasileiro para “financiar a revolução”por Felipe Atxa em 30 de agosto de 2007
Resumo: O que a “imprensa especializada”, o jornalismo “burguês” investigativo e os órgãos públicos de controladoria dizem a respeito da manobra que é feita por militantes esquerdistas para se apropriar de dinheiro público?A Companhia do Latão é um grupo teatral paulista caracterizado por duas faces escancaradas:
1 - É uma reunião de artistas que não se contenta nem de longe em simplesmente “fazer arte”. Eles querem promover a revolução anticapitalista rumo a um regime de inspiração totalitária. Vejamos o que eles dizem em suas próprias palavras (
http://www.companhiadolatao.com.br/html/manifestos/index.htm#3):
“Para se opor aos modos hegemônicos da atividade artística numa sociedade orientada pela lógica do Capitalismo tardio (cujo corolário é a transformação perene da cultura em mercadoria e da mercadoria em cultura) essa reflexão deve provir de uma ação cultural como prática política. (...) Para nós, não se deve ter medo do debate sobre a função da arte. Consideramos legítimas quaisquer utilizações pedagógicas, assistenciais e humanitárias da arte, ainda que nossa pesquisa seja de ordem estética. Estética naquele limiar em que a estética deixa de ser estética: nosso interesse artístico é a reativação da luta de classes. (...) Os produtos da cultura devem servir a processos coletivos, e não o contrário. Por isso, novos modos precisam ser inventados: associações de espectadores, contatos com movimentos sociais, intercâmbios entre grupos. (...) Não basta a interlocução isolada entre produtores culturais, à margem da sociedade. É preciso produzir formas capazes de incluir a sociedade como um todo numa perspectiva revolucionária. Anticapitalismo, pesquisa estética e revolução. A pesquisa estética terá sensibilidade revolucionária quando desenvolvida por produtores empenhados em um projeto coletivo anticapitalista.”2 - A outra face da Companhia do Latão é a de beneficiária de dinheiro público. Eles são autênticos campeões nesse quesito, algo como “Ronaldinhos Gaúchos” dos palcos, para usar uma figura de linguagem inventada por nosso presidente. Recebem dinheiro público de todo lado, usam espaços públicos para realizar suas atividades privadas, etc.
Hoje, a Companhia do Latão tem duas fontes de renda principais:
o grupo recebe dinheiro da Prefeitura de São Paulo e da Petrobrás. O dinheiro recebido da estatal é determinado por suas regras internas. O recebido da Prefeitura se dá através da Lei de Fomento ao Teatro, uma aberração legislativa saída da mente de um ex-vereador petista que obriga uma cidade que não dá conta do asfalto nas ruas a destinar alguns milhões de reais anualmente a uma meia-dúzia de “representantes da classe teatral” (que, no final das contas, representam apenas a si mesmos).
Acontece que a seleção de projetos que receberão essa verba é feita por uma comissão de representantes da classe e, supostamente, do “município”. Não, amigo contribuinte paulistano: não se preocupe, você não corre nenhum risco de ser chamado a compor a comissão. Isso é coisa para “especialistas”. Quem indica esses especialistas é uma associação de classe chamada Cooperativa Paulista de Teatro. Seu presidente é um dos principais atores da própria Companhia do Latão: Ney Piacentini. Ou seja: a ONG presidida por ele recomenda que uma parte do dinheiro público disponível vá para... o próprio grupo teatral do qual ele participa. E, na prática, é exatamente o que ocorre.
Antes que alguém levante a mão dizendo que a situação pode ser apenas esquisita, mas altamente recomendada do ponto de vista do “interesse público”, vamos observar mais um detalhe curioso dessa estranha relação entre uma empresa privada (a Companhia do Latão é, para todos os efeitos, uma pessoa jurídica de direito privado, como uma empreiteira) que recebe dinheiro público e uma associação de classe que toma para si o direito de decidir para onde vai esse mesmo dinheiro público.
A Companhia do Latão recebe verba da Petrobrás, certo? Não, errado. Quem recebe esse dinheiro em nome da Companhia do Latão é a própria Cooperativa Paulista de Teatro. Vejam (
https://www2.petrobras.com.br/Cultura/ppc/edicao/resultados/resultados_artescenicas.asp):
PROGRAMA PETROBRAS CULTURAL - SELEÇÃO 2006 / 2007
PRODUÇÃO E DIFUSÃO – ARTES CÊNICAS
MANUTENÇÃO DE GRUPOS E COMPANHIAS DE TEATRO E DANÇA
PROJETOS CONTEMPLADOS
(...)
COMPANHIA DO LATÃO 10 ANOS
· Protocolo: 1345
· Proponente: Cooperativa Paulista de Teatro
· Segmento: Teatro
· Estado do Proponente: SP
· Abrangência: SP, PB, RS, SE, PR, PE, RN, RJ, MG, BA, CE
· Apresentação: Projeto de manutenção da Companhia do Latão, que é um coletivo com histórico de dez anos de pesquisa e difusão da obra de Bertold Brecht, com atuação em São Paulo e irradiação nacional de sua produção cultural. O reconhecimento de seu trabalho em nível internacional corrobora seu prestígio no país. O Projeto propõe o lançamento do DVD com o repertório concomitantemente a oficinas para a multiplicação de seu processo de trabalho, além da produção de um espetáculo inédito da companhia, intitulada “Ópera dos Vivos”, experiência conjugada de teatro, música e cinema.Das duas uma: ou a Cooperativa Paulista de Teatro não poderia receber verba pública da Petrobrás em nome de uma empresa privada (por serem pessoas jurídicas distintas) ou ambas são uma pessoa jurídica só – e, nesse caso, como um representante indicado pela Cooperativa pode decidir que dinheiro público seja destinado para sua própria pessoa jurídica? Caso o proponente não cumpra o acordo firmado com a empresa pública, quem será acionado? A cooperativa ou a empresa privada?
Será que essa gente não se confunde? Digamos que, numa segunda-feira, por exemplo, eles tenham de ir à Petrobrás. Eles pensam: “Hoje, sou representante da Cooperativa e vim buscar dinheiro para a Companhia do Latão”. Na terça-feira, eles têm de participar de uma reunião da comissão da Lei de Fomento: “Hoje, nada tenho a ver com a Companhia do Latão, só vim aprovar o projeto deles para receber verba da prefeitura”. E o tal Ney Piacentini, que é presidente de uma e ator da outra: quando sobe ao palco, quem sobe é o presidente cuja associação representa a companhia perante a Petrobrás e indica jurados que decidem que o dinheiro vai para ela, ou o ator da mesma companhia que recebe verba pública em ambos os casos? É de virar a cabeça essa história de revolução anticapitalista, não é mesmo?
É por essas e outras, possivelmente, que a “classe teatral” paulistana não quer nem ouvir falar em aperfeiçoar a “prestação de contas” da Lei de Fomento. É muita confusão entre interesses públicos, privados e onguísticos, por assim dizer. Não há contador que agüente. Veja o que diz um representante da tal cooperativa a respeito de aprimorar a prestação de contas do dinheiro público investido no teatro paulistano (
http://txt.estado.com.br/editorias/2007/06/29/cad-1.93.2.20070629.4.1.xml):
“Nós concordamos que se crie uma instância de acompanhamento dos projetos. Mas a prestação fiscal, para nós, não representa nada. O fomento ao teatro é um pacto, um acordo feito entre o Legislativo, o Executivo e a classe teatral. O que importa é o espetáculo concluído, entregue.”E a “imprensa especializada”, o jornalismo “burguês” investigativo, os órgãos públicos de controladoria, o que dizem disso tudo? Bem, durma-se com um silêncio desses.
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