Essa história é velha, talvez tenha começado no Romantismo. Artista que quer ser "livre", não dever nada à ninguem, somente à "arte", livre da noção de produção e mercado… Acaba virando um marginal, ou faz da marginalização o seu modo de vida. Ou, talvez pensando mais duramente, isso não passe de hipocrisia. Afinal, vender o trabalho todos vendem, de uma forma ou de outra. Se não o vendem, ou é porque ele não presta, ou porque não presta ainda. E se não presta ainda, como diabos vamos adivinhar? Nessas artes mais caras (como o cinema) é que se precisa de patrocínio. Mas até o cinema dito independente tem um mercado específico. Em contrapartida, fazer cinema tem ficado cada vez mais barato, felizmente.
Não sei. Bach chegou a trabalhar de organista para a igreja e não deixou de ser genial. Os artistas deveriam parar de querer viver de verba pública e passar a viver de mecenato ou ter um pequeno trabalhinho numa empresa qualquer, em que seus dotes artísticos possam ser interessantes para o consumidor médio.
Eu sou contribuinte, eu gosto de arte, mas a idéia de sustentar muitos desses "artistas" atuais não faz muito sentido. Se fosse por mim, colocaria o dinheiro em uma instituição ou um museu qualquer de preservação, por exemplo, da poesia brasileira anterior ao século XX. Esse é o meu interesse, é o meu dinheiro, deveria ser minha escolha, também.
Pra vocês terem idéia: o John Neschling ganha R$ 86.500,00 por mês. Eu tenho absoluta paixão pela música sinfônica, acho ótimo o trabalho da OSESP, mas é complicado pagar tudo isso para ele. Isso porque os ingressos são pagos e são bem caros, imaginem se não fossem. No total, a orquestra recebe R$ 40 milhões ao ano. As partes boas: tem muita qualidade e os ingressos devem ser de grande ajuda financeira (afinal, vocês acham que ela duraria muito se vivesse apenas de verba pública?)… Agora, se eu acho a quantia meio alta já nesse caso, imagine se eu pagaria por um filminho porcaria qualquer aí que mal pagasse os próprios gastos (minha opinião).

Só que, num país em que político ganha o que ganha e faz o que faz, eu trocaria mil deputados por uma orquestra, sem nem pensar duas vezes. Na verdade, o problema maior é a falta de escolha e a mentalidade estatista de apropriação e aplicação pouco inteligente do dinheiro público, não somente a habilidade do artista. Se enxugassem o funcionalismo, diminuíssem os impostos e passassem a investir somente em educação e cultura (ou seja, uma maldita prioridade) eu ficaria satisfeito. E, de preferência, que patrocinassem a arte pela qualidade minimamente estabelecida do artista, não pela amizade e pelos contatos políticos dele.