Vamos supor uma empresa A.
Segundo você, os aumentos pequenos de salários mínimos não possuem tanto impacto no aumento do consumo do trabalhador individual, por isso não representariam aumentos marcantes de vendas para as empresas. Porém, como as empresas têm que aumentar o salário de uma grande parte de seus funcionários, o impacto em seus custos seria marcante, certo?
Errado. Você esqueceu um pequeno detalhe:
Imagine todos os clientes da empresa A. O aumento dos salários fará com que cada cliente compre apenas um pouquinho a mais do que comprava antes. Agora imagine esse pequeno incremento de consumo ocorrendo com quase todos os clientes da empresa. Percebeu?
Você se esqueceu desse detalhe:imagine um pequeno incremento de custo ocorrendo com quase todas as empresas.As empresas, visando reestabelecer suas margens de lucro aos níveis adequados, repassarão este aumento de salário nominal aos preços.Com quase todos os produtos da cesta de consumo dos clientes da empresa A aumentando, poderia-se reduzir o salário real de tal modo que o aumento do SM teria impacto apenas na oferta agregada, apenas não na demanda agregada.Essa é a interpretação da ortodoxia econômica.
A interpretação essencialmente keynesiana permite que o aumento dos salários nominais resultem em aumento da demanda agregada, da produção e do emprego.Mas se minha memória é boa, o raciocícnio não é este exposto no quote acima.Vejamos isso mais adiante.
A lógica é que pesa mais para os contratantes contratar mais empregados se cada um deles tiver que receber mais, e tanto mais pesará quanto maior for o salário mínimo.
O raciocínio desse economista que resulta nisso já mostrei na resposta ao quote anterior.
Num curso de Ciências Econômicas a discussão se resume a Keynes x Friedman.
Aqui, a equação polêmica interpretada de modos distintos:
M.V=P.T
M=Oferta monetária
V=Velocidade da circulação da moeda
P=Nível geral de preços
T=quantidade física de bens e serviços
Friedman acreditava que V e T eram dados (ou seja, eram fatores exógenos), daí segue-se que um aumento em M acarretava aumento em P.Keynes pensava diferente, que a quantidade física poderia ser aumentada alterando a política monetária.Ele considera que o governo PODE controlar a oferta de moeda, hipótese que os monetaristas descartam.Um aumento da oferta da moeda e levando em consideração que a teoria keynesiana postula que os preços e salários são relativamente rigídos a menos que se alcance o nível de emprego, isso levará, ceteris paribus, a um aumento na demanda agregada.Aumento na demanda agregada, aumenta produção, e consequentemente, o nível de emprego.Essa hipótese leva em conta que P é dado.Sendo assim, um aumento em M e/ou V, pode alterar T.
Qual dos dois têm razão?A interpretação monetarista (que é a visão dominante) se baseia num trabalho empírico do economista Robert Solow.Em estudo aplicado a economia americana, este autor chegou a conclusão de que, no período estudado, o efeito de uma variação nos salários nominais sobre o consumo era estatisticamente insignificante.Outros economistas (heterodoxos) contestam tal resultado, dizendo que a equação econométrica que ele utilizou estava "viciada".
Outra coisa, os economistas ortodoxos (esse que vcê viu no Roda Viva deve ser louco) não defendem que os aumentos do salários mínimo não devam ocorrer.Eles consideram que o aumento do SM só resultará em ganho REAL se ele for no máximo igual ao aumento da produtividade média do trabalho.Vejamos o raciocínio teórico que fundamenta isso.A equação da formação de preços é:
P= (1+M)x W/ a
P=nível geral de preços
M=margem de lucro
W=salário nominal
a= produtividade média do trabalho
Manipulando a equação anterior, temos a equação que determina o salário real:
W/P= a/(1+M)
Note a primeira equação.Aumentando a, é possível diminuir P.Diminuindo P, é possível ampliar o salário real, já que salário real é igual a W/P.Isso implica que o aumento de produtividade é "apropriado" pelos salários.Esse raciocínio implica também que qualquer outra situação onde se tente elevar os salários nominais, só geraria desemprego e/ou inflação.Quando se aprofunda o estudo sobre isso em um curso de Ciências Econômicas, percebe-se que as coisas são um pouco mais complicadas.